sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Portugal | A MANIFESTAÇÃO DO MOVIMENTO ZERO


Ontem, quinta-feira (21), Portugal assistiu a uma mega manifestação do Movimento Zero num palco de Lisboa, a Assembleia da República. Afinal não foi uma manifestação liderada pelos homens e mulheres que asseguram a segurança aos cidadãos em Portugal, a GNR e a PSP, como julgávamos que ia acontecer.

Está fora de questão sobre a maior parte das razões que os profissionais daquelas instituições têm para protestar contra os tratos de polé de governos que tudo tem feito para não os ouvir a exigir o que em boa verdade é imperioso ser-lhes concedido sem favores: a sua dignificação e o reconhecimento pelo bem do seu desempenho.

A questão é que o Movimento Zero, apontado como neofascista, abafou a voz da razão aos PSPs e aos GNRs que ali se deslocaram. A comprová-lo ficaram as camisolas vestidas do referido movimento, assim como a voz de um já muito referido recém-deputado declaradamente racista e com várias declarações que o colam ao neofascismo, ao oportunismo, ao popularismo de uma direita extremista, adepta de políticas de ódio. Ideologia contrária à democracia, transparência e tolerância que queremos aprofundada cada vez mais.

É evidente que o presidente do sindicato dos profissionais da PSP se demarcou do Movimento Zero, pôs paninhos de àgua fria no escaldante ambiente que foi declaradamente, comprovadamente, requentado pelo Movimento Zero e por André Ventura, um reconhecido e declarado racista, para não pôr mais na escrita. Que esse tal André se aproveitou poderá ser evidente, mas, então, como se justifica que tantos agentes vestissem as camisolas do pernicioso e não identificado Movimento Zero?

É exatamente por isso e o que mais foi visto e ouvido que não é difícil concluir que afinal a manifestação - que seria dos profissionais de duas instituições apreciadas e a quem tanto os portugueses devem – pertencem ao anónimo e apontado neofascista Movimento Zero.

Uma lástima foi o que ontem vimos e ouvimos sobre aquela manifestação que devia de pertencer justamente aos agentes da PSP e da GNR.

Resta ter a esperança de que os organizadores sindicais tenham aprendido e que os agentes não se deixem manipular por execráveis desestabilizadores dos que têm, sem sobra de dúvidas, toda a razão nas suas reivindicações profissionais e da retoma das suas dignidades como portugueses que são.

Nem Venturas, nem zeros – à esquerda ou à direita – valem uma ínfima parte do valor dos agentes de segurança de Portugal e dos portugueses. Quem se esqueceu disso?

Leia no Expresso, a seguir, o Curto. Hoje está repleto de interesse nas abordagens. E o Zero não falta. Nem o Ventura fascistoide, que é deputado, populista e racista.

MM | PG




Bom dia este é o seu Expresso Curto

Infelizmente aconteceu

Filipe Garcia | Expresso

Ontem, seriam poucos os polícias de folga em Lisboa. Em São Bento, de um lado o maior contigente alguma vez destacado para uma manifestação, com direito a baias e blocos de cimento para impedir eventuais invasões à escadaria da Assembleia. Do outro, o protesto dos sindicatos de PSP e GNR. Pelo meio, o obscuro Movimento Zero (M0), um fenómeno de internet, sem líder conhecido, mas com um caderno de exigências que fez André Ventura, literalmente, vestir a t-shirt.

Na manifestação onde polícias exigiam estatuto de profissão de desgaste rápido, direito à pré-reforma aos 55 anos de idade ou 36 de serviço e a revisão salarial dos salários base – 978 euros brutos - no começo de carreira (as reportagens pode ler AQUI e AQUI), “infelizmente aconteceu” Ventura.

A frase é de César Nogueira, presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, ao comentar o passeio e discurso de André Ventura entre os manifestantes. “Um erro por parte do deputado” que acusou de se ter aproveitado de uma manifestação independente. Paulo Rodrigues, da Associação Sindical de Profissionais de Polícia, também não deixou de se distanciar do deputado do Chega, lembrando que a manifestação se queria “apartidária e com um único objetivo: reivindicar os nossos direitos”.

No dia em que PS e PSD não saíram à rua, que do Livre ninguém ouviu palavra e em que BE, PCP, CDS e Iniciativa Liberal se mostraram solidários com os agentes de autoridade, foi mesmo o Chega a aproveitar o palco. Entre gritos de apoio do M0, André Ventura embalou até ao palco, discursou, indiferente aos assobios que, seguramente, preferiu imaginar que se destinavam ao Governo. Seria? Pouco depois, os sindicatos deram a missão por cumprida, deixaram no ar a possibilidade da marcação de novo protesto em janeiro e desmobilizaram. Uma manifestação que Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, enalteceu como prova de “maturidade democrática” e “sindicalismo responsável”. Da presença de Ventura ninguém gostou. À excepção do M0.

… infelizmente também aconteceu

... a história de Sara, a jovem de 22 anos que abandonou o seu recém-nascido num ecoponto em Santa Apolónia, Lisboa. Agora na prisão em Tires, a advogada de defesa prepara-se para pedir a sua transferência para uma ONG com capacidade para acolher presos preventivos. O Hugo Franco conta-lhe tudo no site do Expresso.

E Trump

A provar que o Mundo não se move todo à mesma velocidade, pelos Estados Unidos, bastaram cinco dias e 12 testemunhas para concluir as audições que servirão de base à eventual destituição de Donald Trump. Agora, aguarda-se o relatório final do comité de informações, depois será a vez do comité judicial apresentar a acusação e ainda antes do Natal a Câmara dos Representantes deverá votar o destino do 45.º Presidente dos Estados Unidos.

Adam Schiff, presidente da comissão, foi claro na hora de hierarquizar os acontecimentos. “O que vemos aqui é bem mais grave que um assalto de terceira categoria à sede dos democratas”, disse o democrata para quem o comportamento de Trump foi “pior do que algo que Nixon tenha feito”. “A diferença entre então e agora, não está na diferença entre Nixon e Trump, está na diferença entre este Congresso e o de então”, disse. David Holmes, antigo diplomata dos EUA na Ucrânia, também foi ouvido, tal como Fiona Hill. “Neste momento, a Rússia e os seus serviços secretos estão a preparar-se para repetir a sua interferência nas eleições de 2020. Estamos a ficar sem tempo para os travar”, alertou a ex-conselheira de segurança nacional dos Estados Unidos, para Europa e antiga União Soviética.

E a invasão de Alcochete

Cumpriu-se a terceira sessão do julgamento dos suspeitos da invasão à academia do Sporting – são 44 arguidos, suspeitos de quatro mil crimes, entre eles, é sabido, está Bruno de Carvalho. Ontem foi dia de ouvir militares da GNR e o líder da equipa de investigação que assinalou que não há registo de mensagens de Bruno de Carvalho nos grupos de Whatsapp investigados pela PSP e GNR. Cenas dos próximos capítulos da invasão a Alcochete só na próxima segunda-feira. Para estar a par, basta acompanhar na nossa Tribuna.

E já agora, José és tu?

11 meses depois da saída do Manchester United, o melhor treinador português está de volta ao ativo. A cidade, Londres, já a conhece bem, afinal foi no Chelsea que em 2004 se apresentou embalado pelos títulos europeus conquistados no FC Porto como o Special One. Desde então, passaram 15 anos, uma quantidade de títulos que poucos imaginavam possível, mas também os primeiros fracassos – a estadia em Madrid foi mais polémica que gloriosa e mesmo a Liga Europa conquistada com o Manchester United de pouco lhe valeu. Há quem garanta que perdeu a magia, outros que apenas precisa de nova oportunidade. Agora será no Tottenham, clube que jurou nunca treinar por gostar demasiado dos adeptos do Chelsea. Ontem explicou a declaração: “Foi antes de ser despedido”. Na conferência de imprensa apresentou-se em forma, bem disposto e até, pasmem-se, a afastar o ego da equação. “Estou num período da minha vida em que já não é sobre mim: é sobre o clube, os fãs, os jogadores. Estou aqui para tentar ajudar”, disse antes de recusar reforços para a equipa e afastar a possibilidade de vencer o campeonato. José, és mesmo tu?

Foo Fighters no Rock in Rio

Abriu a corrida pelo melhor cartaz da época de festivais de 2020. Alive e Primavera já tinham apresentado argumentos, ontem foi a vez do Rock in Rio mostrar o seu primeiro cabeça de cartaz - os Foo Fighters, um regresso três anos depois de visitarem o passeio marítimo de Algés. Não é a primeira ou sequer a segunda visita da banda a Portugal mas não será de perder a hipótese de ver ao vivo um verdadeiro membro da realeza do rock n' roll. Para os mais novos, ou para os mais esquecidos, convém lembrar: é de Grohl a bateria dos Nirvana, é ele quem a toca no melhor disco dos Queens of the Stone Age, também foi ele quem a assumiu com Josh Homme e John Paul Jones (sim, o Led Zeppelin) nos Them Crooked Vultures. A Blitz conta tudo.

As frases

“Infelizmente aconteceu”, César Nogueira, presidente da Associação de Profissionais da Guarda, a comentar o discurso do deputado do Chega na manifestação das forças de segurança

“Visto o pijama do clube e durmo com ele”, José Mourinho na apresentação como treinador do Tottenham

“Não haverá nada porque não houve nada”, Benjamin Netanyahu, no início do ano ao ser confrontado com as suspeitas de corrupção. Ontem foi acusado de fraude, suborno e abuso de confiança.

O que ando a ouvir

É o mais triste dos motivos para se revistar um músico. José Mário Branco despediu-se esta semana, tinha 77 anos e um estatuto ímpar na música nacional. Companheiro de Zeca Afonso e de Fausto, autor de uma discografia de respeito, senhor de uma intervenção social que se vai fazendo cada vez mais rara, José Mário Branco tem-me feito companhia por estes dias. Entre os muitos discos, há um que conheço de cor e que tem tocado em loop: Ser Solidário de 1982. Foi nesse, afinal, que conheci a Qual é a tua, o meu, a Eu vim de longe, eu vou para longe e, provavelmente, o maior dos seus sucessos e a minha música nacional preferida, a Inquietação. Suspeito que não terei sido o único a revisitar a obra de um homem que, literalmente, deu música ao FMI. Comendas em vida sempre recusou, mas por estes dias sucederam-se homenagens e agradecimentos. Que me desculpe a desafinação, mas em jeito de assobio inquieto, fica mais um.

O que ando a ler

O Nobel chegou com um ano de atraso e mais atrasado ainda cheguei eu ao livro da polaca Olga Tokarczuk, Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos.

A protagonista, professora reformada, fã de astrologia e fervorosa defensora dos direitos dos animais, acaba envolvida numa misteriosa sequência de crimes, caçadores locais mortos em circunstâncias mais ou menos sinistras. Ao fim ainda não cheguei e mesmo que o tivesse feito não vos contaria o desfecho, mas já li o suficiente para deixar a recomendação de um romance que tanto se lê como comédia, policial ou ensaio político.

Tenha um bom dia e não deixe de nos seguir no Expresso, na Blitz, na Tribuna e na Vida Extra.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

Sem comentários:

Mais lidas da semana