Alerta é da plataforma
SOS-Amianto, que neste último ano recebeu mais de duas centenas de denúncias e
testemunhos sobre a presença deste material em edifícios e de quem já adoeceu
por via da exposição a esta fibra.
Cerca de 53 mil toneladas de
matérias perigosas, entre as quais figura o amianto, foram importadas para
Portugal entre 2016 e 2017, últimos anos com dados disponíveis. A que se
juntaram, no mesmo período, 727 toneladas
de resíduos contendo amianto com o objectivo de serem depositadas em
aterros.
Os números deste negócio foram
evocados nesta terça-feira pela plataforma SOS-Amianto, criada há um ano pela
associação ambientalista Quercus e têm por base dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE) e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Esta é uma das
facetas da presença de amianto em Portugal, quando ainda falta remover este
material cancerígeno de 3730 edifícios públicos. Não existe ainda um balanço
relativo aos espaços privados.
“Não há um dia em que alguém não
nos questione ou denuncie esta problemática”, refere Cármen Lima, coordenadora
da SOS Amianto, num comunicado divulgado nesta terça-feira a propósito do
primeiro aniversário daquela plataforma. Um período ao longo do qual registaram
“mais de duas centenas de contactos”, dando conta da “presença de amianto em
fábricas abandonadas, coberturas de edifícios particulares, edifícios de escritórios,
escolas, hospitais, teatros, bibliotecas, universidades, edifícios militares”,
entre muitos outros. Destes contactos fazem também parte os que foram feitos
por “vítimas que trabalharam nas fábricas de produção de fibrocimento,
indústria naval e estaleiros, bem como da construção civil”, onde actualmente
têm origem a maior parte dos resíduos contendo amianto.
As patologias derivadas da
exposição a este material podem demorar mais de 20 anos a manifestarem-se.
Segundo um alerta da Organização Mundial de Saúde, referido pela SOS-Amianto,
entre estas doenças figuram o cancro do pulmão, cancro do ovário, cancro da
laringe e cancro do estômago.
Obras perigosas
Devido à libertação de fibras, as
próprias obras de remoção do material podem expor mais pessoas ao amianto e
por isso estas só devem realizar-se quando os espaços estão desocupados por
períodos de tempo relativamente longos, o que não tem sido a prática seguida em
Portugal, denuncia a SOS-Amianto, dando como exemplo as intervenções que têm
sido realizadas em escolas aos fins-de-semana. Obras desta natureza requerem
“preparação para a prevenção da possível libertação de fibras e a sua
monitorização com análises à qualidade do ar, para garantir que, após a
remoção, os espaços encontram-se aptos para ocupação humana, procedimentos que
não são possíveis ser implementados durante um fim-de-semana”.
Mas é o que irá acontecer, por exemplo, em Sintra onde
as intervenções para a remoção do amianto de escolas do concelho serão
realizadas aos fins-de-semana, segundo uma denúncia apresentada pelo Sindicato
de Todos os Professores (Stop) e por funcionários de um dos estabelecimentos
escolares que irá ser intervencionado. A Câmara de Sintra não desmentiu que
estas obras possam decorrer aos fins-de-semana, embora tenha frisado ao PÚBLICO
que as intervenções “obedecem a todos os procedimentos legalmente estipulados,
os quais são escrupulosamente promovidos” pelo próprio município.
Os últimos dados revelados pelo Ministério da Educação dão
conta de que este ano será removido o amianto de 150 escolas, mas não divulgou
ainda informação sobre o número total de escolas com este problema.
Só que as obras já realizadas e
aquelas que estão em curso poderão não erradicar os riscos de exposição. É que,
segundo alerta a SOS-Amianto, como já o fizeram também outras associações
ambientalistas, este material não está apenas presente em telhados ou outras
coberturas, estando “incorporado em cerca de 3000 materiais diferentes, desde
as tradicionais coberturas, aos pavimentos em vinil, tectos falsos, diversos
materiais em fibrocimento como autoclismos ou condutas de abastecimento de
água, alcatifas, papel de parede, torradeiras, secadores de cabelo ou até mesmo
radiadores”.
Esta e outras informações vão
estar presentes num folheto informativo que a SOS-Amianto vai divulgar, em
conjunto com a Federação Nacional de Professores (Fenprof) com o objectivo “de
ajudar a comunidade escolar, um dos grupos mais expostos a espaços com amianto,
a conhecer o que é esta fibra e quando existe uma maior perigosidade devido à
exposição a este material”.
Na semana passada, a associação
ambientalista ZERO, em conjunto com o Movimento Escolas Sem Amianto
(MESA), lançaram uma plataforma para a apresentação de denúncias e queixas
sobre escolas que ainda têm este material. Segundo a dirigente da ZERO, Íria
Roriz Madeira, “esta é uma resposta à ausência de um documento oficial, mas
nunca o poderá substituir, constituindo apenas uma base de trabalho, um ponto
de partida, continuando a ser urgente e essencial a divulgação de uma lista do
Ministério da Educação”.
Clara Viana | Público
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Está ainda em todo o lado e não é
só no fibrocimento. Existe em tintas texturadas, pavimento vinílico em mosaico,
mosaico hidráulico, tetos falsos, divisórias, nos fios de eletricidade e
condutas, apenas para enumerar alguns dos materiais
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