Miguel Guedes | Jornal
de Notícias | opinião
Por muito que se esforce, Luís
Montenegro não conseguirá ser mais feroz no ataque a Rui Rio do que foi durante
quase dois anos de oposição à liderança interna.
Inusitadamente, Montenegro lançou
a sua maior cartada em Janeiro para tentar marcar passo, contando espingardas
para uma guerra perdida. Esta, a tentativa de "golpe de estado" a
meses das eleições a que Rio se referiu para acusar Montenegro de deslealdade,
é imbatível. Pode dizer-se que Montenegro bem tentou avisar sobre a derrocada
que aí vinha. Mas tendo ficado alguma pedra sobre pedra, tudo o que agora possa
dizer sobre Rio soa a requentado e fratricida, fel a concorrer para a morte ou
para a ruína. O debate televisivo entre os três candidatos à liderança do PSD
deixou bem claro como Rio deverá ter o partido na mão nas directas de 11 de
Janeiro e no Congresso de 7 de Fevereiro.
Abrir um debate com lavagem de
roupa suja não é muito dignificante para quem pretende ser candidato a
primeiro-ministro. O PSD parece não perceber que há um país inteiro sem
qualquer interesse em mais uma novela pintada a tons laranja. Tudo fica ainda
mais deprimente quando se percebe que os primeiros 15 minutos de debate não
foram mais do que uma arma de arremesso que se esgota após alguns "sound
bites" previamente definidos e estudados. Não há nada de estrutural em
jogo. Não há oposição que se veja ou anteveja.
A forma como Rio sai das eleições
legislativas, vociferando internamente contra todos e contra tudo o que mexe, é
uma imagem de marca. Em parte, tudo aquilo que o PSD foi durante anos, um
exemplo paradigmático da "guerrilha interna" de que agora acusa os
seus adversários. Em soma, este é o PSD que agora se apresenta. Fragmentado e
dividido, repleto de uniões fáceis e de ocasião, à espera de um D. Sebastião que
aguente mais quatro anos de nevoeiro sem desgaste. Esgotados na arte da
guerrilha, os maiores vultos do partido ainda não perceberam o que um simples
militante de base já alcança. O mais certo é que, neste contexto, a melhor
opção que consiga oferecer ao país seja mais um líder de transição.
Entre maçonaria a mais e Sá
Carneiro em excesso, Rui Rio tem razão e vem nos livros: a primeira parte do
debate pode ter sido "prejudicial" para o PSD. Mas depois não foi
diferente. Por um lado, sobra a convicção de que é muito difícil encontrar
diferenças substanciais entre os três candidatos relativamente a políticas
sectoriais. Por outro, quando a grande clivagem surge na forma de aproximação
ao PS e na votação do Orçamento do Estado, emerge um veículo de clientelas
famintas que só se poderá alimentar do caminho. E aí, é como Amália cantava
entre os arremessos da fé e do destino: "Se o meu sangue não me engana/
como engana a fantasia/ havemos de ir a Viana". Para mais do mesmo,
melodia de 7 a 9 de Fevereiro. Só Miguel Pinto Luz, com alguma fantasia, poderá
invocar que vai rodar o veículo.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
*Músico e jurista
** Imagem em Expresso
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