Cabe à Justiça portuguesa
recuperar todos os ativos que nos foram extorquidos pela corrupção. Só
recuperando estes activos se recupera também a própria Democracia.
Paulo de Morais | Público | opinião
A corrupção e o tráfico de
influências, que dominam a política nacional, têm consumido parte considerável
dos recursos dos contribuintes. Mas chegou o momento de dizer basta e a hora de
os corruptos devolverem à sociedade aquilo que desviaram, de forma ilegítima e
ímpia. Recuperemos pois os bens que a todos pertencem. A Lei de Recuperação de
Ativos não só o permite, como a tal obriga. E há mesmo um organismo dedicado a
este fim. Já só falta vontade política e coragem para agir.
A corrupção na política é já uma
característica do regime, banalizou-se. Os casos multiplicam-se e são às
dezenas: corrupção nas verbas do Fundo Social Europeu envolvendo a UGT ou o
Grupo Amorim, o caso Emaudio, a corrupção na Expo 98, no Euro 2004, na compra
de submarinos; mas também enorme corrupção nas ruinosas parceiras
público-privadas de Sócrates ou nas privatizações de Passos Coelho; e a
corrupção na banca, do BPN ao BES, passando pelo Banif, pelo BPP ou pela Caixa
Geral de Depósitos. Este flagelo, que é já parte integrante da própria
atividade política, mina o regime por dentro. A lista de políticos traficantes
de influências é interminável e insensível a cores políticas; são centenas de
políticos a trabalhar, juntos, para o nosso mal comum.
A corrupção generalizada não só
destrói a confiança na sociedade como depaupera as finanças públicas, apropria
a própria economia, conquanto esta corrupção é muito, muito cara. Apenas um só
dos casos elencado, o BPN, terá custado aos cofres do Estado cerca de 7000
milhões; a que se juntam mais 5000 milhões para a Caixa, mais de 2000 milhões
para o Banif, milhares de milhões para as parcerias público-privadas; e assim
sucessivamente, são centenas de milhares de milhões derretidos na corrupção.
Todos os anos, os Orçamentos do Estado drenam milhares de milhões para pagar as
consequências destes crimes. Só em 2019, o Orçamento prevê 1700 milhões de
euros para pagar prejuízos na banca, a que se juntam 5200 milhões para
participações em empresas destruídas pela incompetência e pela corrupção. Assim
tem sido também nos últimos anos.