Martinho Júnior, Luanda
“ENCONTRO MUNDIAL CONTRA O
IMPERIALISMO”
"Pela vida, soberania e
paz"
Caracas - Venezuela, de 22 a 24
de janeiro de 2020
A Venezuela Bolivariana é um
inestimável património de vida, de soberania e de paz para toda a humanidade e
como tal deve ser defendida por todos aqueles que trilham a lógica com sentido
de vida, onde quer que seja a âncora de sua existência e por isso
particularmente a partir dos mais obscuros rincões do planeta!
Desde África junto-me ao ENCONTRO
MUNDIAL CONTRA O IMPERIALISMO, por que a resoluta alternativa à barbárie do
império, é a civilização que luta pela vida, pela soberania e pela paz para
toda a humanidade!
POR UMA MUDANÇA DE PARADIGMA EM
ÁFRICA
COMUNICAÇÃO
I
01- África é, em qualquer quadro
de globalização que se procure sintetizar uma avaliação do estado do mundo, uma
ultraperiferia onde persiste crónico subdesenvolvimento e todo o tipo de
fragilidades e vulnerabilidades próprias dessa condição, agravadas desde os
artifícios coloniais e particularmente desde a Conferência de Berlim realizada
entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885 (redundante da revolução
industrial).
02- África foi alvo dum processo
de descolonização tardio que não quebrou muitos dos expedientes de assimilação
de raiz colonial, apesar da luta de libertação que terminou com a derrota do
colonialismo português e britânico na África Austral durante a década de 70 do
sáculo XX e o colapso do “apartheid” na África do Sul em princípios
da década de 90 do século XX;
03- Por essa razão África, face
ao império da hegemonia unipolar e seu sistema de vassalagens, “coligações” e “emparceiramentos”,
é um dilecto campo de manobra neocolonial onde todo o pacote de acções da
hegemonia se repercute intensamente, sem que haja resistências significativas,
ou alternativas de vulto, inclusive em todo o tipo de transversalidades
sociais.
04- Neste momento e nesse
sentido, as políticas capitalistas neoliberais são instrumentalizadas pelos
interesses do império de hegemonia unipolar, de forma a condicionar as nações,
os estados e os povos do continente, mantendo o pendor extractivista de
matérias-primas indispensáveis para as indústrias do leque propiciado pela
revolução industrial, como pela revolução das novas tecnologias.
05- Esse é o modo operativo da
devassa, em relação ao qual destaco entre outras coisas, intimamente associadas
ou interligadas:
. A fragilização intempestiva dos
processos antropológicos próprios, por via dos imperativos do modelo de
globalização ao sabor do império;
. A fragilização dos processos de
produção, sem que haja o florescimento das actividades industriais compatíveis
com o século XXI;
. A sobre-exploração da força de
trabalho (mão-de-obra barata ou em muitos casos quase escrava, ou escrava);
. A tendência para processos de
dolarização das economias, particularmente as dependentes da exploração de
petróleo e gás, assim como as mineiras (entre elas as do âmbito dos carteis dos
diamantes, do ouro e da platina);
. A impossibilidade dos africanos
terem voz activa sobre os mercados internacionais, inclusive onde eles, pela
natureza dos seus produtos, têm maior peso, o que implica na imposição de
valores ditados pelos compradores de outros continentes, subalternizando os produtores
(factor que é aproveitado sobretudo pelas transnacionais que investem em
África);
. Uma gritante ausência de
estruturas e infraestruturas, o que influi nas dificuldades para os movimentos
humanos e, com isso, promovendo assimetrias e dificultando os expedientes de
comunicação e integração;
. A abertura de cada vez mais
espaços nas praças económicas e financeiras, para o exercício do Fundo
Monetário Internacional e Banco Mundial, filiados nos interesses, ingerências e
manipulações do império, como acontece por exemplo em Angola;
. O recurso a parâmetros de
guerra psicológica “soft power” a fim de influenciar as elites e as
sociedades africanas, ampliando o espectro das ingerências e manipulações sobre
as nações, os estados e os povos-alvo, levando em alguns casos a penosas
fracturas, divisões, ou mesmo à desagregação;
. O recurso a parâmetros de
ciberguerra, sempre que justifiquem os interesses do império nos seus jogos
africanos e em reforço dos seus expedientes cibernéticos e outros (entrosando
processos “techint” a processos “humint”);
. A fermentação de jogos
elitistas de inteligência, que inclui capacidades de manipulação entre
contrários e de gestação de sínteses de conveniência (como o KAZA-TFCA, criado
sobre os campos de batalha transfronteiriços do sudeste angolano);
. O recurso à legião estrangeira
composta pelos “inimigos úteis” mobilizados em função da “coligação” dos
Estados Unidos com as monarquias arábicas de tendência wahabita-sunita
(sobretudo a Arábia Saudita e os Emiratos Árabes Unidos), fundamentalmente
desde a destruição da Líbia em 2011 (redes da Al Qaeda e do Estado Islâmico,
que em África tem como exemplo último a sangrenta expressão do Boko Haram em
torno do Lago Chade, um lago em vias de desaparecer);
. A contínua pressão elitista sobre
os estados, de forma a justificar as alianças de inteligência e militares
propícias ao neocolonialismo e do âmbito das articulações instrumentalizadas
pelo império da hegemonia unipolar, uma vez declarado o módulo de caos,
terrorismo e/ou desarticulação, (ainda que ele seja de “baixa intensidade” é
sempre de “geometria variável”), o que é sobremodo visível ao longo de
toda a transversal este-oeste do Sahel, desde a Somália ao Mali;
. O reaproveitamento de quadros e
cenários coloniais, como é o exemplo mais flagrante da “FrançAfrique” na
África Ocidental;
. A subversão (em nome da “democracia”)
do quadro de leis que regem desde os relacionamentos internacionais, à
constitucionalidade das nações e estados africanos e de suas tuteladas
democracias representativas;
. O crescimento exponencial de
mensagens produzidas pelos processos dos media de conveniência sobre África,
afogando a inferior capacidade de produção de mensagens dos africanos em
relação a si próprios;
. A possibilidade de criar e
recriar impactos antropológicos e culturais em regime de “soft power”,
tirando partido do poder do império sobre as novas tecnologias e de forma a
formatar uma mentalidade-padrão que impossibilite o conhecimento dos africanos
sobre si próprios, de tão mergulhados que ficam entre alienações, ilusões,
ingerências e manipulações;
. O aproveitamento das profundas
alterações climático-ambientais provocadas pelo homem (e sobretudo pela acção
do império cujo fulcro são os Estados Unidos, eles próprios autoexcluídos do
Acordo de Paris), tendo em conta a expansão dos maiores desertos quentes do
globo (cada vez mais sobreaquecidos) e a pressão sobre as regiões onde, em
condições equatoriais e tropicais, há riqueza de água e espaço vital;
. A compressão sobre espaços
vitais existentes em função das bacias de grandes rios (como o Nilo, o Níger, o
Congo, ou o Zambeze), ou de Grandes Lagos (Vitória, Tanganika…), provocada
pelos movimentos impressivos de culturas humanas de nomadização sobre as
culturas humanas de sedentarização ali onde há propício espaço vital (o que faz
aumentar o regime de tensões, como não deixa de acontecer na República
Democrática do Congo e Grandes Lagos);
. A organização da sistematização
das ingerências e manipulações, de forma estratificada mas expansiva, por parte
do império da hegemonia unipolar, particularmente desde a implantação do
AFRICOM, em 2007, que programou a viragem a favor do ciclo de dependências a
partir da implantação dos mecanismos do poder do império na Líbia, em 2011.
06- A evolução global aponta para
uma vulnerabilização e fragilização de África ainda mais intensa, num quadro de
neocolonialismo e assimilação, que tudo aponta que se vai continuar a acentuar!
II
07- Impõe-se a África uma mudança
de paradigma em resposta ao avanço neocolonial nos termos da globalização
segundo o império da hegemonia unipolar, pelo que antes do mais, os africanos
devem conhecer-se e reconhecer-se a si próprios, num esforço próprio
vocacionado para um contínuo processo de resgate cultural progressista, tendo
em conta os impactos culturais que procuram conduzir à sua perda de identidade
por via de doutrinas, filosofias, alienações, ilusões, ingerências e
manipulações estimuladas pelo império;
08- Essa recuperação de
identidade numa trilha de lógica com sentido de vida que dê sequência à cultura
criada pelo movimento de libertação em África, não se deve limitar ao próprio
continente, mas vocacionar-se na vastidão das duas margens do Atlântico Sul,
integrando os relacionamentos com os afrodescendentes espalhados pelo mundo e,
em função deles, com os processos progressistas e de libertação sobretudo na
América Latina e Caribe;
09- Esses relacionamentos
tornam-se indispensáveis para gerar articulações capazes de comunicabilidade
entre si, de forma a ampliar o conhecimento dos desafios e riscos que pendem
sobre África, quer os que redundam da situação crónica de subdesenvolvimento,
quer os que, em função disso, são aproveitados e reaproveitados pelo império,
seus vassalos e “coligações” em todo o continente, região a região,
estado a estado e comunidade a comunidade;
10- O arranque do conhecimento
científico compatível com o abandono do improviso e do empirismo, torna-se
indispensável aos africanos e para benefício dos africanos e da humanidade, num
processo fora da esquadria dos elitismos sob influência do poder imperial e
instalado pelos tentáculos de transnacionais, suas “think tanks” e
carteis (de que é exemplo negativo o Botswana);
11- O conhecimento do processo
dialético que envolve os factores físicos, geográficos, climáticos e
ambientais, entrosados com os factores humanos, torna-se indispensável para
gerar a vocação duma geoestratégia africana para um desenvolvimento
sustentável, ao nível da União Africana e de forma a integrar num expediente
comum, numa base de lógica com sentido de vida, todos os estados africanos,
distribuindo ao mesmo tempo os papéis e funções de cada um;
12- A gestação duma geoestratégia
de desenvolvimento sustentável, deve procurar valorizar prioritariamente, acima
de quaisquer outros projectos transnacionais como por exemplo é o caso da Nova
Rota da Seda que vai estimulando a Etiópia e o Quénia, a urgente necessidade de
gestão sustentável dos recursos hídricos do interior do continente, ou seja,
garantindo a longo e muito longo prazos, o bem-estar das futuras gerações;
13- É indispensável também o
conhecimento antropológico e científico de culturas humanas de resistência,
como por exemplo os khoisan, os hereros e os cuvales na África Austral, uma vez
que essas culturas são por si fontes inspiradoras para um melhor aproveitamento
do conhecimento científico em relação à natureza e ao homem, no sentido da
implantação duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável em todo o
continente, principalmente em regiões desérticas em expansão;
14- África deve fazer um esforço
por se libertar da visão colonial de desenvolvimento, que tirou particular
proveito de estratégias provenientes do mar para dentro do continente,
procurando gerar como prioridade, a sustentabilidade em função dos imensos
recursos hídricos e minerais do interior do continente, numa visão que parta do
interior para o litoral;
15- A integração de tecnologias
limpas garantes de sustentabilidade devem, em África, ao mesmo tempo garantir a
participação das nações, estados e povos do continente, sobrepondo-se aos
interesses das transnacionais;
16- Os estados africanos devem
criar centros de saberes africanos e afrodescendentes, capazes de provocar o
florescimento duma malha de entendimentos visando dinamizar uma plataforma
comum transatlântica e para dentro dos continentes de África e América, com
reciprocidade de vantagens e de saberes, sobretudo em termos de ciências e
investigações críticas;
17- Para esse mesmo efeito os
estados africanos devem estabelecer cada um deles a sua própria plataforma de
integração e intercâmbio universitário e de seus institutos superiores, visando
a dinamização de suas respectivas geoestratégias para um desenvolvimento
sustentável, de forma a facilitar os projectos e prospectivas integradas ao
nível da Unidade Africana;
18- No âmbito dos antigos
combatentes do movimento de libertação em África, é premente a necessidade de
troca de experiências e de mensagens em todo o espectro africano e
afrodescendente, a fim de melhor equacionar e transmitir as mensagens que
conduzam ao renascimento africano progressista numa base de liberdade,
democracia, solidariedade, dignidade, internacionalismo e pedagogia;
19- Impulsionar o turismo
cultural e ambiental sul-sul, de modo a activar transversalidades próprias para
fazer face aos fenómenos climático-ambientais catapultados sobretudo pelas
acções do império desde o período da revolução industrial (desde os finais do
século XIX);
20- O resgate cultural
inteligente de África, pelos africanos e em benefício dos povos africanos tendo
como plataforma o conhecimento científico multidisciplinar e as investigações
de carácter científico, é um desafio na trilha da lógica com sentido de vida,
não só para os africanos progressistas, como para todos os povos progressistas
da Terra e para as nações, estados e povos identificados com e na emergência
multilateral.
Para salvar a vida urge uma
civilização capaz de em paz fazer retroceder o imenso campo de barbárie que é o
corpo e o exercício sulfúrico do império!
Martinho Júnior -- Luanda, 22 de Janeiro de 2020
Imagens:
01- Sob o olhar silencioso do
Comandante Hugo Chavez;
02- A Venezuela Bolivariana,
exemplarmente tem dado apoio à libertação saharahui do colonialismo marroquino,
um anacronismo que subsiste em África em pleno século XXI;
03- A Unidade Africana pode
contar com interlocutores progressistas na América, algo muito difícil de
encontrar ao nível de estados noutras partes do mundo; a Venezuela Bolivariana
sendo um deles, é uma das pontes disponíveis para os relacionamentos de África
com os seus próprios afrodescendentes;
04- O CARICOM, de que a Venezuela
faz parte domo observador, integra as pequenas nações e estados insulares do
Caribe cuja população é em grande parte afrodescendente; a Venezuela
Bolivariana é, em função do isolamento a que esses pequenos estados têm sido
votados, um factor progressista que por um lado visa romper os bloqueios desses
estados, como também um activo factor energético, indispensável para a vida nas
condições de isolamento a que têm sido deliberadamente votados.
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