Fernando Simão | Téla
Nón | opinião
Há dias encontrei-me
esporadicamente com um amigo meu de longa data, numa das ruas do Centro
Histórico da nossa linda cidade São Tomé. Não nos encontramos com muita
frequência mas sempre que acontece é motivo para termos uma longa conversa,
fundamentalmente sobre a situação do nosso Pais.
Disse “da nossa linda cidade”.
Muitos devem estar espantados dizendo que pronunciei um disparate. Não é bem
assim e explico: embora ela esteja atualmente numa situação lastimável, os
traços arquitetónico daquela que foi uma das melhores e mais limpas cidades da
África Central, não desapareceram. Bem, não é completamente verdade, pois,
alguns “crimes” ambientais ou mesmo arquitetónicos ocorrem e que tem também
contribuído para desvirtuar a beleza da nossa urbe.
Entretanto, há boas notícias!
Finalmente vem aí o grande projeto de reabilitação e requalificação da nossa
bonita marginal que vai da vila de Pantufo ao Aeroporto de São Tomé, cujo
financiamento está garantido. Só espero que seja uma obra de qualidade e que,
por favor, requalifiquem, modernizem mas não subtraiam os traços arquitetónicos
existentes.
Mas requalificar a marginal e não
cuidar principalmente do coração da cidade ou o nosso Centro Histórico, é o
mesmo que lavar as escadas da casa para o inglês ver e deixar o interior sujo.
Vamos reabilitar os nossos
jardins existentes e criar outros, reabilitar alguns edifícios emblemáticos,
[estou a lembrar por exemplo do antigo Cadastro], iluminar melhor as ruas, dar
utilidade a alguns terrenos baldios, que dão mau especto a cidade, colocar
equipamentos de lazer e de educação física nos jardins, para miúdos e graúdos,
tratar dos passeios, colocar equipamentos de recolha de lixos, reparar os
bancos estragados e colocar novos, reabilitar o nosso Parque Popular e criar
outros, enfim, devolver a nossa cidade a beleza que tinha nos outros tempos,
dando sempre alguns toques de modernidade.
Numa altura em que o turismo é a
grande aposta para o desenvolvimento do Pais, essas obras tornam-se
indispensáveis, pois, a nossa cidade capital é afinal a nossa sala de visita.
Na conversa com o meu amigo,
falamos de tudo isso mas também da economia do Pais e outros assuntos. O meu
amigo tem um grande conhecimento dos problemas que apoquentam o Pais, pois, ele
já ocupou cargos importantes nas diversas áreas da nossa administração pública
e da governação. Por isso é que ele fala com autoridade e conhecimento de
causa. E eu, aproveito sempre para aprender algumas coisas com ele mas dando
também a minha humilde opinião.
Uma das áreas em que concentrou a
nossa conversa, é o estado da nossa administração pública. E quando se refere a
administração pública é no sentido lato da palavra, incluindo os Tribunais.
Conhecedor também dessa nossa
administração pública por ter labutado nela mais de 30 anos, é um assunto que
me preocupa, por isso é que tenho referido nele diversas vezes. Com todos os
meios tecnológicos existentes hoje, e com muita gente com formação de nível
superior, não se compreende e nem se pode aceitar esse estado de coisas.
Todo o mundo queixa-se da
dificuldade que encontra quando se dirige a uma Repartição Pública para tratar
um assunto ou obter um documento. Eu insisto que se deve dar muita atenção a
formação específica permanente e especialização dos quadros a todos os níveis.
Quando muitas vezes se discute coisas fúteis nas redes sociais, por que não debater esses assuntos que perturbam a vida do cidadão?
Quando muitas vezes se discute coisas fúteis nas redes sociais, por que não debater esses assuntos que perturbam a vida do cidadão?
Falamos também do petróleo e associamos ao estado da nossa administração.
De facto, o advento do petróleo
poderá ser uma maldição se não se fizer nada para tornar a nossa administração
mas eficiente e mais competente.
O meu amigo discordou comigo
quando dizia que era necessário fazer Leis para que se possa ter maior controlo
das receitas do petróleo e das atividades ligadas a ele. Com a experiência que
tem, disse-me logo que o nosso problema não é falta de Leis mas sim o rigor na
aplicação das diversas leis existentes.
Temos que aprender com a
experiência dos Estados produtores de petróleo em que os recursos provenientes
dessa matéria-prima são bem geridos e corretamente aproveitados contribuindo
desta forma para o desenvolvimento desses países e não para o enriquecimento de
meia dúzias de pessoas, deixando a grande maioria numa profunda pobreza.
Se acautelarmos nesse sentido e
se houver um dia petróleo em São Tomé e Príncipe, ele não será nunca uma
maldição.
Fernando Simão, São Tomé, 09 de janeiro de 2020
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