O primeiro-ministro deposto da
Guiné-Bissau, Aristides Gomes, publicou em sua página no Facebook que sua
residência privada está "cercada por militares fortemente armados"
sem o seu consentimento.
Numa publicação na rede social
Facebook, dirigida aos guineenses e à comunidade internacional, o
primeiro-ministro deposto Aristides
Gomes questiona se o plano para o "silenciar", que tem
denunciado nos últimos dias, "está em execução".
Segundo avançou a agência de
notícias Lusa, nesta quarta-feira (11.03), em frente à residência de
Aristides Gomes, no centro de Bissau, a força de interposição da Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental (Ecomib) não estava no local, onde
era visível a presença de uma viatura das forças de segurança, bem como alguns
militares. A Ecomib é uma força de interposição da Comunidade Económica
dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e está estacionada no país desde 2012.
Forças da Ecomib também não
foram vistas no Palácio da Presidência. Em declarações aos jornalistas na
terça-feira (10.3) - antes de viajar em visita oficial para o Senegal,
Níger e Nigéria - o candidato declarado vencedor pela Comissão Nacional de
Eleições, Umaro Sissoco Embaló, disse que tinha dado ordens para que as forças
da Ecomib fossem acantonadas. A missão das forças da CEDEAO começou em 2012 e
estava prevista para ser concluída no final do mês de março.
Sissoco Embaló tomou posse como
Presidente, sem aguardar a decisão do Supremo Tribunal de Justiça em relação a
um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos
Simões Pereira. Ouvido pela DW África, o constitucionalista português
Jorge Miranda - que participou na elaboração da Constituição da Guiné-Bissau
disse que esse foi um erro de Sissoco e classificou
a crise política como um "golpe de Estado".
Umaro Sissoco Embaló declarou que
não há golpe
de Estado em curso no país e que não foi imposta restrição aos
direitos e liberdades dos cidadãos. Na segunda-feira (09.03), Sissoco disse que
dispensou a Ecomib.
"Ordenei ao
primeiro-ministro o acantonamento das forças da Ecomib. Uma pessoa não está em
guerra e hoje é a última vez que vão ver uma caravana da Ecomib na minha
escolta pessoal. Eu confio nas forças da República da Guiné-Bissau. Quem
garante a segurança é o Governo e o primeiro-ministro já tem dispositivos
montados para garantir a segurança de todas as pessoas", afirmou.
Na sequência da tomada de posse,
Umaro Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das
legislativas e que tem a maioria no parlamento do país. Embaló nomeou Nuno
Nabiam para o cargo.
Militares ocuparam prédios públicos
Após estas decisões, os militares
guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado, impedindo Aristides
Gomes e o seu Governo de continuar em funções e permitindo que o Nuno Nabiam e
o seu Governo iniciassem funções.
O presidente da Assembleia
Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse como Presidente
interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do
Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou ao cargo
por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.
Mediadora da crise guineense,
a CEDEAO voltou
a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional
estabelecida na Guiné-Bissau, acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos
políticos e cancelou
uma deslocação de peritosao país para ajudar a resolver o contencioso
eleitoral.
Deutsche Welle | Agência Lusa
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