Hospitais com serviços mínimos,
escolas que não funcionam, serviços públicos abertos dois dias por semana,
funcionários sem ordenado. Que futuro para a Guiné-Bissau?
As eleições presidenciais podiam
ter posto um ponto final na instabilidade
política que tem estado patente na Guiné-Bissau, mas intensificou ainda
mais o clima de incerteza da população.
As greves da função pública
afetam setores críticos como a saúde e a educação. "O hospital está a meio
gás por causa da greve dos funcionários. Só há serviço mínimo, as escolas não
estão a funcionar, mas isto é a sequência de antes no governo de Aristides
Gomes, não com esse problema de empossamento ou não do Presidente da
República”, esclarece a médica Aissatu Forbs.
Apesar da paralisação dos
transportes públicos ter terminado, a greve da função pública mantém-se. As
instituições do Estado funcionam apenas na segunda e sexta-feira. Terça, quarta
e quinta-feira há greve. Seco Duarte, líder da Rede Nacional das Associações
Juvenis da Guiné Bissau (RENAJ) confirma que há funcionários que ainda "não
receberam o salário do mês do janeiro, muito menos fevereiro” e que os
trabalhadores estão "desmotivados”.
As escolas também não funcionam
devido às greves gerais da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau
(UNTG) e do Sindicato dos Professores. A instabilidade no setor da educação é
um dos principais problemas da sociedade guineense que leva vários jovens a
emigrar para os países vizinhos ou para a Europa. Em 2017, a taxa de emigração
era de 1,3%. Os números de emigração jovem não são conhecidos.
Política pública para educação
A presidente do Conselho Nacional
da Juventude (CNJ), Aissatu Forbs, optou por estudar e trabalhar na Guiné
Bissau, mas a maioria dos irmãos foi estudar para o exterior. "Há jovens
que emigram para procurar emprego, mas há outros que procuram melhores
condições de ensino. Há principalmente jovens que vão para Senegal, para
Portugal, para Marrocos”, explica Forbs.
A líder juvenil, que começou no
associativismo com apenas nove anos, tem consciência de que um diploma da
Guiné-Bissau é menos credível quando comparado com outros países, inclusive
dentro da sub-região africana. Mesmo assim, optou por estudar na Faculdade de
Medicina, enquadrada na Universidade Amílcar Cabral. A instituição pública
conta com a assessoria técnica e científica de professores cubanos desde 2006 devido
a uma parceria feita com o governo de Fidel Castro.
Alissatu Forbs lamenta que a
instabilidade do país faça com que o Governo não tenha uma política pública
consistente para a Educação, o
que limita as oportunidades de emprego: "Isso faz com que
os jovens sintam que têm poucas opções, para sonhar aqui, e concretizar sonhos
é muito difícil”. A jovem médica constata que recentemente houve jovens
deixaram o país para, por exemplo, estudar com bolsas de Estado, mas que no
regresso à Guiné-Bissau depararam-se com uma situação de desemprego: "É só
estágio mesmo, as empresas de telecomunicações ou outras empresas privadas
ficam com os jovens muito tempo no regime de estágio e não asseguram emprego”.
Seco Duarte, estudante de
Direito, optou pelo ensino privado porque o público é incerto.Estima que a taxa
de desemprego entre os jovens ronda 30% e considera que, "como refúgio,
vários jovens têm enveredado pela delinquência”. Alerta ainda que vive num país
em que - para quem quer um emprego rentável - os maiores empregadores são os
partidos políticos, porque "os partidos têm mais infraestrutura financeira
do que o próprio Estado”. Além disso, os jovens acabariam por entrar na
política como uma forma de "subir na vida”, numa postura de "salve-se
quem puder”.
Posicionamento das organizações
juvenis
Num país onde mais de metade da
população tem menos de 35 anos de idade, importa saber o que pedem os líderes
juvenis aos atores políticos na resolução do impasse político atual.
Até ao momento ainda nenhuma
associação juvenil se posicionou oficialmente sobre a atual situação política.
O representante da Rede Nacional das Associações Juvenis da Guiné Bissau
(RENAJ), Seco Duarte, reclama apenas "respeito pelas leis da República,
espírito patriótico e que ponham o país em primeiro lugar”. Pede ainda
"maior consideração pelo povo guineense que já está no limite da paciência
com a classe política no todo” e que as autoridades governamentais e políticas
assumam as suas responsabilidades.
O Conselho Nacional da Juventude
(CNJ) ainda não tentou abordar nenhum dos atores políticos porque está a
aguardar a decisão do Supremo Tribunal de Justiça. A presidente, Aissatu Forbs,
apela ao diálogo, ao princípio da "não violência” e que a constituição da
república seja respeitada. "Achávamos que a medição internacional podia
ser uma saída já que a nível interno não se consegue realmente mover diálogo e
ultrapassar esta situação”.
Marta Cardoso | Deutsche Welle
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