Em exclusivo à DW África,
Aristides Gomes confirma que o seu Governo foi afastado do poder e os membros
foram impedidos de entrar nos ministérios. Porta-voz de Sissoco Embaló diz que
"a república das bananas acabou".
O Governo de Aristides Gomes, que
resultou das eleições legislativas de março de 2019, foi afastado do
poder. Militares
ocupam todos os ministérios e instituições do Estado, e os membros da
administração de Gomes "estão todos em casa".
"Não podem trabalhar porque
estão materialmente impedidos de aceder aos seus gabinetes. O meu Governo foi
afastado do poder por via da força", afirma Aristides Gomes em entrevista
exclusiva à DW África.
Militares ocupam instituições
públicas
Demitido na sexta-feira passada
por Umaro Sissoco Embaló, um dia depois de este ter sido empossado como
Presidente da República à revelia do Supremo Tribunal de Justiça, o político
diz que o país caminha para a consumação de um golpe de Estado e denuncia que
o primeiro-ministro
nomeado assumiu o seu gabinete esta segunda-feira (02.03).
"O meu gabinete foi
assaltado e violado por Nuno Nabiam. Os militares continuam a bloquear o acesso
a todas as instituições do Estado. Os juízes do Supremo Tribunal não
reiniciaram os seus trabalhos porque a instância que alberga os órgãos
judiciais está bloqueada por homens armados dos serviços de defesa e
segurança", continua.
Gomes diz que está a trabalhar a
partir de casa apenas com a segurança da força estrangeira estacionada na
Guiné-Bissau, porque retiraram-lhe os militares nacionais que o protegiam.
"Retiraram as duas viaturas que os meus seguranças utilizavam, porque nós
não queremos entrar em briga, evidentemente. Eu dei instruções ao pessoal da
minha segurança para não resistir e para entregar essas viaturas, que foram
violadas e levadas para o Ministério do Interior. Quanto [à minha] segurança,
estou relativamente seguro em casa, a ser protegido pelas forças da
ECOMIB".
Sobre a posição da Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que condenou
a atual situação política na Guiné-Bissau, Aristides Gomes diz:
"Espero mais da comunidade nacional, dos guineenses. Espero que estejamos
mobilizados e que nos possamos ocupar dos nossos assuntos internos. A
comunidade internacional já está a fazer o que pode fazer ao acompanhar a
situação."
Ouvido pela DW África, em nome de
Umaro Sissoco Embaló, que preside a Guiné-Bissau atualmente, o diplomata Hélder
Vaz anunciou uma nova era no país.
"Sempre que há mudanças de
governos e novos primeiros-ministros, as forças de segurança ocupam os
ministérios até que os novos titulares tomem posse nos seus respetivos
ministérios. Não é nada de novo", refere Vaz.
"Não ocorrem situações de
golpe de Estado. Isto é alarmismo. Em situações de golpe de Estado, não há
necessidade sequer de ocupar os ministérios, porque os titulares dos
ministérios são detidos. Estamos a brincar com a Guiné-Bissau, não é uma
república das bananas. A república das bananas acabou", frisa.
Hélder Vaz diz que a situação
política é de total acalmia e que as pessoas continuam a circular livremente
nas ruas de Bissau: "naquilo que diz respeito à soberania nacional, a
integridade das fronteiras, está perfeitamente controlada. No que diz respeito
aos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos consagrados na
Constituição, estã perfeitamente assegurados. Há plena liberdade de expressão,
plena liberdade de imprensa e do exercício da atividade política e outras
liberdades".
Segundo Vaz, há apenas um candidato
derrotado que não quis aceitar os resultados das eleições presidenciais: o
candidato Domingos Simões Pereira, do Partido Africano para a Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Braima Darame | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário