Fernando Simão | Téla
Nón | opinião
O conceito de “turismo
tripartido” com a Guiné Equatorial, anunciado por ocasião da visita do
Primeiro-Ministro, Jorge Bom Jesus à Malabo, suscitou em mim alguma estranheza
e preocupação. Temos que esperar ainda para conhecer e perceber bem os
contornos desse tipo de cooperação. Ficamos a espera de quem de direito para
nos brindar com mais esclarecimento sobre o assunto.
São Tomé e Príncipe é um
microestado que deve salvaguardar a sua identidade própria em todos aspetos,
sob pena de ser absorvido por um outro estado vizinho ou não de maior dimensão.
Creio que essa foi sempre a nossa luta. Se ainda temos muitas razões para
continuarmos dependentes de outros Países, não devemos criar ou inventar outros
motivos para perpetuar essa dependência. Isto vale para a nossa política
externa, assim como as políticas culturais, sociais e económicas.
Debruçando-me sobre “turismo
tripartido”. Se entendi bem, consistiria em criar condições para que os
turistas que visitam a Guiné Equatorial possam ir também a São Tomé e Príncipe.
Espero que seja simplesmente uma questão de transportação dos turistas tendo em
conta a nossa debilidade em meios de transportes aéreos que poderá
eventualmente tornar mais barato os bilhetes de passagem aérea. Que não se
misture a nossa realidade com a da Guiné Equatorial ou de um outro país
qualquer.
Num dos meus artigos publicado em
2018 nas redes sociais (Facebook e Téla Nón) cujo título é “ADMINISTRAÇÃO
REGIONAL E AUTARQUICA (Subsídios para uma dinâmica de Desenvolvimento) ”, dizia
que para São Tomé e Príncipe se projetar no campo turístico, tinha que criar a
sua marca própria. Ela pode ser feita com base no nosso património natural ou
edificado. Se em relação ao património edificado não temos muitas ofertas, já
os naturais temos em abundância.
Apenas alguns exemplos de
patrimónios naturais: Na zona norte da Ilha de São Tomé, temos Lagoa Azul, no
centro temos Cascata San Nicolau e Bombaim e no sul temos Picos Cão Grande e
Cão Pequeno assim como a Boca de Inferno.
Relativamente ao património
edificado existente, temos por exemplo, Roça Agostinho Neto no norte, Igreja da
Sé, Roça Monte Café no centro e Porto Alegre, marco Gago Coutinho do Ilhéu das
Rolas no sul.
Um aparte. [A propósito da Roça
Agostinho Neto, que tal edificar-se ali a tal Universidade Pan-Africana que se
pretende construir em São Tomé e Príncipe? Seria um local excelente para a
construção de uma aldeia universitária. O que é que o senhor Presidente da
Câmara de Lobata esta a espera para fazer advocacia junto ao Governo Central
para que isso aconteça no Distrito? Argumentos para apresentar não faltam.
Esse também é o papel dos
Presidentes das Câmaras. Pressionar, defender os interesses dos seus distritos.
Quanto mais for os empreendimentos de vultos a surgirem nos distritos maior
serão as suas importâncias no contexto do desenvolvimento do Pais].
Não inclui nessa analise as
nossas lindas praias, a nossas florestas (Ôbos), os nossos parques naturais, os
nossos jardins botânicos, as plantações de cacau e café, as nossas aves
endémicas, nossas atividades culturais, a nossa gastronomia tradicional, etc.
Reparem que não é por acaso que
dividi a Ilha de São Tomé em três zonas que poderão vir a ser os três futuros
distritos. Eu não me canso de dizer que temos que ter a coragem para proceder
duma vez por todas uma nova divisão administrativa, por que a atual, com 6
distritos, é uma aberração e está completamente desajustada as dimensões do
Pais e a sua realidade socioeconómica. Tenho a consciência da complexidade
desse processo. Por isso é que deve haver um esforço conjunto para que haja um
amplo consenso nacional, porque quer queiramos quer não, essa tarefa terá que
ser feita, e quanto mais cedo melhor. Mesmo se um dia o Pais vier a ter
recursos financeiros abundantes, tantos distritos num espaço territorial tão
diminuto só complica e não resolve nada.
É claro que para esses
patrimónios serem marcas para o turismo nacional, necessário se torna realizar
obras de requalificação e trabalhos ambientais, sendo que, esse processo é
também uma das formas de contribuir para a proteção do ambiente. Assim,
poderemos “vender” o Pais com base nessas marcas.
Já temos um exemplo concreto no
Pais que é a Ilha do Príncipe, desde que se tornou Património Mundial para a
Biodiversidade da UNESCO.
Segundo informações, já há
terapeutas no estrangeiros que têm recomendado os seus pacientes a passar uns
dias no Príncipe como terapia para resolver alguns problemas de saúde como
ansiedade e estresse, etc. Por isso é que há alguns que só vem visitar a Ilha
do Príncipe com esse objetivo e regressam aos seus países, sem permanecerem
sequer um dia na Ilha irmã de São Tomé.
Por conseguinte, a “marca
Príncipe” como Património Mundial da Biodiversidade já esta a “vender”, sem que
os próprios São-tomenses se apercebam disso. Seria interessante conhecermos as
estatísticas dos turistas que se deslocam exclusivamente a Ilha do Príncipe com
fins turísticos para compararmos com a percentagem daqueles que ficam apenas na
Ilha de São Tomé.
Por razões óbvias, o Governo
Central deve delegar às Camaras Distritais essa tarefa, dando-lhes condições
financeiras e humanas para o efeito.
Deve-se estabelecer entre elas
(as câmaras), uma espécie de competição baseadas em atribuição de prémios de
mérito para se verificar qual delas cuida e publicita melhor as suas marcas.
Cada Distrito da Ilha de São Tomé assim como a Região Autónoma do Príncipe deve
esforçar-se para ser conhecido pelas suas marcas, para que, quando os turistas
regressarem aos seus respetivos países, levem a vontade de regressar às Ilhas e
fiquem com a memória dos distritos ou cidades que visitaram, associadas a essas
marcas.
Deve ser incluído também no
marketing, pequenas lembranças como, fotos, esculturas, pinturas, artesanatos,
guias turísticos e sempre relacionadas com os símbolos da cidade ou distrito
visitado.
Referia ainda no meu artigo
exemplos como o de Torre Eiifel de Paris, Praça Vermelha de Moscovo, Estátua de
Liberdade de Nova Iorque etc. Difícil falar numa dessas marcas sem as associar
às suas respetivas cidades.
São Tomé e Príncipe tem todas as
condições para desenvolver esse modelo de marketing com vista a vender melhor o
seu turismo.
Dai que, não vejo a necessidade
de um “turismo tripartido” com a Guiné Equatorial ou um outro Pais qualquer.
Sinceramente que eu não gostaria de um dia verificar que um turista confunda a
localização do Pico Cão Grande com um local qualquer de Guiné Equatorial, por
ser mais rico ou por ser de maior dimensão.
Considerando a nossa dimensão
territorial e humana, e numa altura que estamos a esforçar para que o Pais se
afirme como independente, aplicar esse modelo de cooperação, baseado nesse
conceito de “turismo tripartido”, que não se sabe o que é exatamente, seremos
provavelmente absorvidos por outros Países de maior dimensão. Ao invés disso,
temos que fazer tudo para afirmar a nossa santomensidade.
Fernando Simão
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