sexta-feira, 26 de junho de 2020

As críticas da oposição moçambicana nos 45 anos de independência


Moçambique assinalou ontem 45 anos de independência. A oposição analisa com tristeza o percurso do país, apontando a violência, a violação dos direitos humanos e a corrupção como setores que mancham o desenvolvimento.

A oposição moçambicana não está convencida com os argumentos do Governo, que tem estado a afirmar que o pais registou avanços assinaláveis rumo ao desenvolvimento nos últimos 45 anos.

O Governo aponta para vários setores que registaram desenvolvimento como a indústria, educação, saúde, bem como a preservação da paz e da unidade nacional. Mas o porta-voz do maior partido da oposição, a RENAMO, José Manteigas, nega que o país se tenha desenvolvido.

"Um país que tem todos os recursos desde faunísticos, marítimos, minerais, como é possível que, num universo de quase 30 milhões de habitantes, 21 milhões sejam pobres? Então, isso é a consequência da má gestão da coisa pública", sublinha.

Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) considera que os moçambicanos, durante os últimos 45 anos, sentiram-se excluídos, oprimidos, colonizados pelo próprio libertador e viram os direitos humanos violados.

"Há violação sistemática dos direitos humanos, silenciar de todos aqueles que pensam de forma diferente, apesar de estarmos num Estado de direito democrático. Por isso assistimos às detenções arbitrárias de jornalistas, académicos, fazedores da opinião pública e a assassinatos", lembra o porta-voz da RENAMO.


Povo sem acesso a bens primários

O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) também sublinha que a população não tem acesso a bens primários. "Não faz sentido, 45 anos depois, aqui na capital do país temos crianças que se sentam no chão, enquanto vendemos a nossa madeira para a China", diz o delegado provincial do partido em Maputo, Augusto Pelembe.

"Temos na baixa da capital mais de 10 mil informais porque não há emprego. Aqui em Maputo, em Mapulanguene, as pessoas bebem água com bois e em Nicuali [província de Tete], as pessoas não têm água potável", critica.

Ainda de acordo com Augusto Pelembe, os níveis de corrupção em Moçambique aumentaram, sobretudo nos últimos vinte anos, o que resulta no desespero da população.

"Nós hipotecámos um país com mais de dois mil milhões de dólares. O que se fez com esse dinheiro em benefício da população? Se levássemos esse dinheiro para investir em Cabo Delgado, o que seria Cabo Delgado hoje? Será que a população seria vulnerável a aceitar qualquer aliciamento se tivesse futuro garantido? Acho que não", conclui.

Mais desigualdades sociais 

Para João Massango, secretário-geral do Partido Ecologista, as desigualdades sociais aumentaram de forma dramática no país. "Nós estamos a notar o crescimento de ricos, mas que esses indivíduos são da linhagem da FRELIMO. É marginal aquele indivíduo que não coaduna com o sistema implantado pela FRELIMO", frisa.

O analista político Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia Multipartidária, Dércio Alfazema, nota que o país ainda não teve tempo para se olhar como nação, devido aos intervalos de violência que se registam. "Somos o país que se vai construindo com base na violência, conflitos e ameaças de paz. Isso reduz um pouco essa questão dos 45 anos. Mesmo num ambiente de paz e tranquilidade, não podemos afirmar que é tempo mais do que suficiente para resolvermos os problemas que herdámos do período colonial", afirma.

Dércio Alfazema realça ainda os desafios no combate à corrupção e à defesa dos direitos humanos que, a seu ver, impactuam negativamente a construção da nação moçambicana. "Um jornalista preso quando está a exercer a sua atividade, um ativista que é violentado porque deu uma opinião que um segmento da sociedade não concorda: a violência contra esses cidadãos traz um dano muito grande àquilo que queremos como nação", considera.

No início deste mês, numa mensagem de exortação proferida no dia 1 de junho, o Presidente Filipe Nyusi destacou que a independência, em 1975, abriu uma nova era em que os moçambicanos passaram a ser donos dos seus destinos.

Romeu da Silva (Maputo) | Deutsche Welle

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