Francisco Louçã | Expresso |
opinião*
Agora, no mais fresco destes
escândalos, descobre-se que a Comissão Europeia obrigou a venda de um dos
ativos do banco, uma companhia seguradora, que o candidato escolhido foi um
fundo gerido por um fulano acusado de crimes nos Estados Unidos, que afinal não
foi o comprador, pois apareceu outro pelas artes da magia financeira, e no fim
das contas quem paga o prejuízo é o contribuinte, são mais uns generosos
milhões.
A explicação é tão embrulhada
como sempre, os guionistas destas fábulas não carecem de imaginação, mas o que
verificamos é o mesmo padrão de outras operações anteriores desta gigantesca
lavandaria: como está assegurado que, qualquer que seja a dimensão do prejuízo,
o dinheiro público vai tapar o buraco (fingindo-se que serão os outros bancos a
pagar, apesar de nem tidos nem achados nesta tramoia), a pressa e a
conveniência do negócio estão acima de qualquer consideração de eficiência ou
rentabilidade. O que eram prédios valiosos e empresas prestáveis passa a ser
classificado como sucata e é vendido ao deus dará, polvilhando o mundo
financeiro de carinhosas vendas, algumas das quais nem esperam pela missa do
sétimo dia para se espanejarem na praça pública, orelha e rabo para o matador.
Ao público que vai acompanhando a
novela, isto cheira a esturro. São vezes de mais, dinheiro de mais,
descaramento de mais. Este parece mesmo ser o caso em que o criminoso volta
sempre ao local do crime e se sente protegido para o fazer, visto que as
desculpas dos administradores, reguladores e outras autoridades sempre que se
revela uma ponta do véu são demasiado parecidas, demasiado atabalhoadas,
demasiado impossíveis.
Ora, como a corrida se está a
acelerar, ainda falta a venda de mais de mil milhões em imobiliário e o prazo é
só mais um ano para o Novo Banco esgotar a verba prometida no contrato e
preparar a sua venda, conviria não perder mais tempo em encontrar uma solução.
Como é evidente, a Deloitte, ao protelar a entrega da auditoria desde março, dá
uma resposta a esta questão, que é ajudar a administração do banco a continuar
a sua feira de garagem.
Não vejo outra escolha que não
seja zerar este processo. Ou seja, parar todas as operações suspeitas, fazer a
auditoria necessária sem depender do mercado interessado no seu resultado,
antes promovendo o controlo das contas e estudando assim se há base jurídica
para romper o contrato com a Lone Star, verificar a idoneidade e substituir os
administradores que conduziram este descalabro, mandatar uma nova direção para
o Fundo de Resolução e reforçá-lo com competências técnicas adequadas.
O outro caminho é deixar os
mesmos a fazer o mesmo até ao fim do prazo. Suponho que quem lê estas linhas
não terá a menor dúvida sobre qual o resultado alcançado se a estratégia de
fechar os olhos e dançar a música da Lone Star continuar a conduzir a ação dos
reguladores e ministros.
*Extraído de Estátua de Sal
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