sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Portugal | Surfar na segunda vaga com a contingência da treta


Expresso Curto pela lavra do Diretor de Informação da SIC, Ricardo Costa. Antes diretor do Expresso. Ricardo pegou a onda da Nazaré e refere a surfista dos desmaios, Maya, que entrou para o Guiness ao manter-se sobre a prancha mais de 20 metros. O operário das letras de hoje esclarece. Vamos na onda e estamos todos bem enquanto não ficar em todos mal. O quê? Já há gente a passar muito mal? Quem diria! Pois, mas em Portugal não é costume. Isto tem sido um paraíso à beira-mar plantado a norte e prantado a sul. Adiante.

Da onda vamos para a vaga. A segunda, do covid-19. Todos falam disso, diz Ricardo que em Portugal e no estrangeiro. E a vaga, a segunda, está mesmo a dar que falar e a “limpar o sebo” aos mais fragilizados, aos mais velhos principalmente. Então e não é que precisamente nesta dita segunda onda nem todos temos prancha para cavalgar a vaga? Pois é. E assim sendo, apesar de tantos andarem a “marchar” para o “forno” na “quinta das tabuletas”, vulgo cemitério, o governo toma o exemplo do Trump e de outros desses democratas e declara estado disto e daquilo (contingência) em vez de estado de vergonha por andarem a concorrer para as poupanças na Segurança Social com a velharia lusa, que usa os médicos de família e as carradas de medicamentos que os governos pagam… Pagam com o dinheiro de todos nós (mas disso esquecem-se, como convém). Sem ser muito declarado, percebemos que é imperativo poupar milhões para distribuir pelo Novo Banco, pelos banqueiros, pelos “empregadores” das grandes empresas (grandes empresários? É?), dar-lhes benesses e etc. Assim é que está certo, no economês dos governantes. A plebe sai muito dispendiosa… Não pode ser.

Vamos surfar na segunda vaga com o estado de contingência da treta. Mais velhos p’ró galheiro! Pois.

A técnica não é nova. Foi usada pelo nazi Hitler, mas não foi ele que a inventou. Outros, desde os primórdios, procuraram sempre apurar as raças, deixando os mais fragilizados “irem desta para melhor”. Mas como sabem que aquela (morte) é que é a melhor? Que haja notícia nunca nenhum dos que foi voltou de lá para contar… Ah, então o melhor é mesmo estarmos vivinhos da costa e lembrar aos decisores dos apuramentos das raças e das poupanças que os milhões que gastam à toa e o que os afilhados, amigos e enteados roubam, é dinheirinho que tem sido sonegado vilmente aos que agora estão velhos, e/ou aos que provavelmente estão mais vulneráveis…

Quais serão as previsões de quantos mais velhos irão finar-se na segunda vaga desta surfada? Alguém já fez o cálculo, a estimativa, a aposta. Chegará? E depois vem a festa? Pois.

Credo. É sempre uma grande chatice quando se fala nisto. É assim como fazer ‘bulingue’ aos governantes, a atirar-lhes à cara que estão a usar o que é de todos só para benefício de alguns… Pois.

Avante. Esta onda está a descambar e vai-se perder na espuma do costume, apanágio dos sem-vergonha.

Pronto. Hoje chega de surfar. Sequemos ao sol e sacudamos a areia. Esperemos que os velhos e os fragilizados, os sem saúde, morram na praia, como as ondas. E sem fazer ondas – que é o que aqui estamos a fazer - mas abordar temas que oxalá um dia não vejamos no Guiness: este ou aquele país foi o que bateu o recorde planetário de deixar morrer mais velhos e fragilizados, assim como de poupar mais milhões na Segurança Social…. Pois. Que coisa!

Bom dia, com peixe frito. Branco-velho, tinto e jeropiga… Com peixe frito, se o Banco da Fome nos proporcionar.

MM | PG



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Breve prefácio da segunda vaga

Ricardo Costa | Expresso

Ontem, o Guinness World of Records oficializou que Maya Gabeira bateu o seu próprio recorde do mundo, ao fazer uma onda de 22,4 metros no canhão da Nazaré. A surfista, que em 2013 ficou inconsciente num acidente no mesmo local conseguiu, assim, renovar o seu próprio recorde do mundo. Foi uma segunda vaga inesquecível.

Também ontem, o governo avançou para uma nova série de medidas que pretendem colocar Portugal longe de qualquer recorde, europeu, do mundo, do que seja que tenha a ver com a pandemia. Vamos ter linhas mais apertadas para o combate à Covid 19. Os números sobem, as férias acabaram, as escolas vão abrir… E o governo recusa a ideia de voltar a um confinamento geral numa segunda vaga.

A expressão segunda vaga está hoje em todos os jornais e sites de informação, portugueses e estrangeiros. Mas, infelizmente, não tem a “simplicidade” da vaga que colocou pela segunda vez Maya Gabeira na história. Há especialistas que defendem que a segunda vaga já chegou, outros que recusam essa ideia, outros ainda que acham que a expressão não devia ser usada.

A ideia de que a segunda vaga vai chegar, parece impossível de combater. Em Espanha os números subiram muito depressa e quase toda a Europa assiste a um crescimento acentuado, o que, na verdade, sempre se esperou para esta altura. Esse é o maior problema desta pandemia: o vírus está a percorrer o exato caminho que os mais sábios lhe traçaram em março.

Assim, a partir de dia 15, há uma série de medidas já conhecidas, mas que ainda exigem detalhe e, sobretudo, aplicação. O que nem sempre será fácil. Estas são as principais:

- Os ajuntamentos ficam limitados a 10 pessoas (incluindo na restauração);

- Os estabelecimentos comerciais não podem abrir antes das 10h (com exceções);

- O horário de encerramento dos estabelecimentos será determinado entre as 20h e as 23h, por decisão municipal;

- Em áreas de restauração de centros comerciais, passa a haver um limite máximo de 4 pessoas por grupo;

- Mantém-se proibição de venda de bebidas alcoólicas nas estações de serviço e, a partir das 20h, em todos os estabelecimentos (salvo refeições);

- A proibição de consumo de bebidas alcoólicas na via pública é total;

- Nos restaurantes, cafés e pastelarias a 300 metros das escolas, passa a vigorar um limite máximo de 4 pessoas por grupo;

- Recintos desportivos continuam sem público.

Nas áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, há medidas ainda mais complexas:

- As empresas terão de ter equipas a funcionar em espelho, com escalas de rotatividade entre teletrabalho e trabalho presencial;

- Haverá um desfasamento de horários obrigatório, com horários diferenciados de entrada e saída e horários diferenciados de pausas

Na próxima semana arranca o ano escolar. Como tudo de novo em movimento, esse será o grande teste. A ver como aguentamos essa segunda vaga.

OUTRAS NOTÍCIAS

Nas presidenciais, o tempo aperta e as candidaturas ganham forma. Ontem foi a vez de Ana Gomes, que se cansou de esperar, meses e meses, por uma candidatura do seu partido. A ex-embaixadora e comentadora da SIC, apresenta-se para ocupar o campo do “socialismo democrático” e defende que os militantes do PS saberão "pensar pela própria cabeça" e decidir qual o candidato que irão apoiar. “Não me candidato contra ninguém. Candidato-me pelos portugueses. É contra ideias, contra projetos que considero nocivos para o país”, afirmou.

Porque corre Ana Gomes? Neste texto do Expresso, Ângela Silva explica isso bem: “Não, o combate de Ana Gomes não é bem contra Marcelo Rebelo de Sousa, cujo primeiro mandato lhe merece "um balanço positivo". Não é seguramente contra a candidata do Bloco de Esquerda, com quem diz ter muitas causas e projetos "em comum" e com quem espera "dialogar". E mesmo o candidato do Chega não a leva a perder muito tempo - confrontada com os ataques de Ventura que lhe chamou 'candidata cigana', chutou para canto e disse que não se candidata "contra ninguém". O combate de Ana Gomes - que arrancou em pose institucional - é, sobretudo, dentro do PS e para abanar o PS, cuja "deserção" das presidenciais diz "não compreender nem aceitar.

Amanhã será a vez de o PCP apresentar o seu candidato às presidenciais. Com essa decisão, fica apenas a faltar a oficialização de Marcelo Rebelo de Sousa para que todos os principais candidatos fiquem conhecidos.

Hoje é dia de apresentação da “Agenda de Inovação para a Agricultura 2030”. Segundo a ministra, um plano estratégico a dez anos que traça metas ambiciosas para o sector. Mais umas horas e perceberemos o que isso quer dizer e como é que o plano é recebido pelo setor.

Na frente internacional, as notícias que chegam dos EUA são impressionantes. Violentos incêndios obrigaram à evacuação de 500 mil pessoas no estado do Oregon. Quase dez por cento da população teve que deixar as suas casas e rumar para Portland, enquanto as chamas devastam o sul do estado, com uma força que não era vista há 30 anos.

A data do Brexit aproxima-se e Bruxelas lançou um ultimato ao governo de Londres que, sem aviso, anunciou um quadro legal que não respeita alguns princípios negociados no acordo de saída da UE. Dos dois lados do canal, e nos quatro cantos do mundo, começam os preparativos para um Brexit sem acordo.

No mundo corporativo, o CEO da Rio Tinto, um colosso mundial da industria mineira, foi obrigado a demitir-se por pressão dos acionistas, em reação ao escândalo que provocou a decisão da empresa de destruir uns abrigos rochosos dos aborígenes australianos, com 46 mil anos, que eram considerados uma preciosidade arqueológica.

Ainda no mundo corporativo, o Citibank é o primeiro grande banco de Wall Street a ter uma mulher como CEO, a escocesa Jane Fraser. Parece uma notícia banal, mas não é.

O empresário Patrick Drahi lançou uma OPA de 2,5 mil milhões para tirar a Altice Europe, dona da Meo em Portugal, de Bolsa. Drahi oferece 4,11 euros por cada ação da Altice Europe para comprar todas as ações que não controla na empresa de telecomunicações.

FRASES

“Não posso desertar neste combate”. Ana Gomes, no lançamento da sua candidatura presidencial

“Queremos garantir a autonomia estratégica do país”. Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, no Jornal Económico

“Nas últimas semanas, os casos duplicaram em França, aumentaram uns 300% em Espanha (…) , eles estão a passar um mau bocado”. Donald Trump, numa declaração que fez eco em Espanha

O QUE
EU ANDO A LER

O título é pouco convidativo, mas “A morte e a morte” é um texto estupendo de João Moreira Salles, publicado na edição de julho da revista brasileira Piauí. O texto é sobre Bolsonaro e a morte, ou melhor, sobre a sua indiferença e deleite, isso mesmo, em relação à morte.

O texto tem uma abordagem dura e eventualmente chocante ao bolsonarismo, mas é poderoso e muito bem escrito. O chapéu do texto é a pandemia, mas liga elementos anteriores, mais conjunturais, e constrói uma espécie de traços comuns perante a destruição, o desaparecimento, o fim de qualquer coisa.

Um pequeno exemplo:

“O presidente é honesto. Uma das frases mais sinceras da história da política brasileira é a breve: “E daí?” Há muitas outras – “Eu não sou coveiro”, “Quer que faça o quê?”, “É o destino de cada um” – mas nenhuma tem a concisão aforística de “E daí?”. Nenhum substantivo, nenhum adjetivo, nenhum verbo. Os mortos, os doentes, os que perderam pais, mães, filhos e amigos, os que diariamente vão para a linha de frente salvar vidas – uma locução adverbial de quatro letras dá conta de tudo que o presidente tem a lhes dizer.”

Para João Moreira Salles não existe bolsonarismo, só bolsonaristas. Não há corpo teórico, apenas uma espécie de prática de destruição das instituições e de políticas públicas. “Não é obra de engenharia. É destruição”.

Os apoiantes de Bolsonaro odeiam a revista Piauí e João Moreira Salles, que fundou e financia a revista. Mas, como diria o presidente brasileiro, e daí? A revista, que é difícil de encontrar em Portugal, onde chega atrasada, é, para muitos leitores, um objeto de culto, com muitos textos disponíveis online.

Tenha uma boa sexta e prepare bem o mergulho na segunda vaga.

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