quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Assange foi duplamente traído pelo jornal The Guardian

#Publicado em português do Brasil

De todos os meios de comunicação, o jornal The Guardian é a instituição, que se gaba de seus valores liberais e herança progressista, que traiu o denunciante do século do pior modo possível. O Guardian tem que ouvir nossos protestos agora - antes que seja tarde demais

Chris Williamson*

Faz 10 anos desde a publicação dos registros de guerra do Iraque que expuseram dramaticamente os crimes de guerra dos EUA.

É nesse contexto que deve ser julgado o fracasso abjeto da grande mídia em geral, e do Guardian em particular, em expor as mentiras que estão sendo vendidas sobre Julian Assange.

O Morning Star é literalmente o único jornal diário em que o público pode ter acesso a reportagens precisas sobre esta e muitas outras questões crucialmente importantes do dia.

O tratamento de Assange pela mídia corporativa, mesmo por seus padrões incrivelmente baixos, tem afundado a novas profundezas.

Eles perpetuaram as invencionices sobre Assange, e sua falha em relatar com precisão os fatos sobre seu julgamento e tortura, em solo britânico, tem sido verdadeiramente de tirar o fôlego.

Mas é o Guardian que merece a maior desonra pública, porque usou e depois abusou de sua relação com Assange para seu próprio ganho material.

Ele faturou com as revelações explosivas que Assange lhes proporcionaram - e depois o jogou para debaixo do ônibus.

É por isso que está sendo apontado para receber a maior parte das críticas e por que foi realizada a manifestação de ontem em frente a seus escritórios, com outra prevista para 27 de novembro.

Muitos de nós costumávamos tratar o Guardião como um oásis de jornalismo responsável e destemido, em um deserto dominado por fábricas de propaganda apoiadas por bilionários, que compõem a grande maioria do quarto poder.

Antes de traí-lo duas vezes, teria sido inconcebível que o Guardian, de todos os meios de comunicação, se tornaria o culpado pela situação atual de Assange.

O Guardian não só publicou a senha dos cabos criptografados que Assange lhes havia dado na mais estrita confiança, como posteriormente publicou inúmeras histórias desenhadas para manchar e minar a reputação de Assange.

Depois que me tornei alvo de uma campanha de difamação do Guardian no ano passado, eu ganhei uma visão pessoal de quão longe ele tinha descido à sarjeta.

Mas as consequências para mim foram minúsculas quando comparadas com o que Assange já sofreu, com algo ainda pior por vir, caso os EUA tenham sucesso em seu esforço para extraditá-lo.

É a traição do Guardian que é central para os esforços dos EUA para silenciar Assange, destruir o WikiLeaks e esmagar quaisquer futuras tentativas de expor o abuso do poder estatal.

Os esforços, que evitam a fala clara, do Guardian para absolver-se da culpa são provavelmente o exemplo mais notório de sua traição a Assange e uma completa abdicação dos cinco princípios fundamentais do jornalismo.

Esses princípios requerem verdade e precisão, independência, equidade e imparcialidade, humanidade e responsabilidade.

Enquanto Assange incorpora esses princípios, o Guardian falhou em todos deles.

Quando o Parlamento está prestes a introduzir uma legislação que autoriza a conduta criminosa pelos serviços de segurança em casa e absolve crimes de guerra no exterior, nunca houve um momento mais importante para o tipo de jornalismo destemido que Assange representa.

A orgulhosa herança do Guardian tem sido sujada pela forma como tem lidado com Assange.

Então, se é para recuperar sua reputação, o Guardian tem que mudar de curso, parar de agir como um poodle para as administrações britânica e norte-americana, admitir que ele prejudicou Assange e começar a falar em defesa de uma verdadeira imprensa livre.

*Carta Maior | Imagem: Morning Star

*Publicado originalmente em 'Morning Star' | Tradução de César Locatell

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