quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Portugal | Suspensão dos cuidados de saúde durou tempo demais, diz CNS

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) diz que a suspensão dos cuidados de saúde presenciais por causa da covid-19 durou tempo demais e alerta para as consequências da demora no reagendamento.

Num documento de reflexão em que analisa a resposta de Portugal à pandemia de covid-19, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) reconhece que a suspensão dos cuidados de saúde presenciais se justificava numa fase inicial de alarme, para reorganizar circuitos e rever procedimentos, mas diz que se manteve "injustificadamente durante vários meses".

"A demora no reagendamento de cuidados de saúde e a ausência de comunicação específica dirigida às pessoas com doença não só não foram compreendidas pelas pessoas afetadas, como poderão ter um impacto não negligenciável na saúde a curto, médio e longo prazo", afirma.

Num documento de 16 páginas, este órgão consultivo do Governo lembra ainda o excesso de mortalidade registado entre 1 de março e 22 de abril (entre 2400 a 4 mil mortes), sobretudo associado a pessoas com idade superior a 65 anos, sublinhando que "é três a cinco vezes superior ao explicado pelas mortes por covid-19 reportadas oficialmente".

"Pressente-se assim que muitas pessoas com doenças agudas ou crónicas graves possam não ter procurado o sistema de saúde por receio de serem contaminadas, ou não terem encontrado nele as respostas necessárias", afirma.

Relativamente aos cuidados domiciliários e paliativos e às diversas terapias de reabilitação, o CNS diz que a sua interrupção, mantida ainda hoje em muitos casos, "não só carece de justificação técnica ou organizacional, como acarreta consequências graves, já reconhecidas pelos utentes e as suas famílias, do ponto de vista da saúde e da qualidade de vida".

Critica ainda o facto de as associações de doentes não terem sido chamadas a "participar nos fóruns de discussão para a tomada de decisão de medidas de controlo da pandemia", uma decisão que diz ter relegado os cidadãos a meros "destinatários dos cuidados de saúde" e que não garante uma tomada de decisão "inclusiva e transparente" nem a "boa governança da resposta pública à covid-19".

"Aliás, ainda nada se fez - e será essencial perante a expectativa de consequências crónicas da infeção - para organizar e ouvir os doentes que contraíram a infeção. Descrever e estudar os seus percursos é o mínimo que se exige para pensar intervenções com base em conhecimento", acrescenta.

Jornal de Notícias | com agências

Sem comentários:

Mais lidas da semana