Os dados não dão suporte à
campanha mediática da generalidade dos meios de comunicação social, com a
dedicação de mais de metade de programas informativos ao tema Covid-19.
Maria João Antunes | AbrilAbril |
opinião
O Instituto Nacional de
Estatística (INE) divulgou no dia 2 de Outubro, uma informação à comunicação
social sob o título «A mortalidade em Portugal no contexto da pandemia
Covid-19». Surpreendentemente ou não, a nota não teve grande destaque nos
principais meios de comunicação social.
Neste documento, o INE dá conta
do aumento de mortalidade, registado em Portugal, entre 2 de Março e 20 de
Setembro do presente ano, por comparação, com o período homólogo, nos últimos
cinco anos.
De acordo com o INE, «entre 2 de
Março, data em que foram diagnosticados os primeiros casos com a doença
Covid-19 em Portugal, e 20 de Setembro, registaram-se 64 105 óbitos em
território nacional, mais 7144 óbitos do que a média, em período homólogo, dos
últimos cinco anos».
O INE optou por realizar este
estudo por comparação com os períodos homólogos dos últimos cinco anos, mas
poderia ter estendido o termo de comparação. Mesmo que se compare os dados do
presente ano com os dados dos últimos dez anos o resultado será o mesmo.
Portugal enfrenta, no ano de
2020, um pico de mortalidade. Esta informação poderia ser recebida com relativa
normalidade considerando que se vivem tempos atípicos com a propagação de um
vírus novo que carrega a responsabilidade do encerramento de grande parte das
actividades económicas e sociais em muitos países do mundo, mas a informação do
INE não nos diz apenas que vivemos dias de anormal número de mortalidade.
Diz-nos também que este aumento
se deve apenas parcialmente às vítimas da Covid-19. Na verdade, o pico de
mortalidade a que assistimos deve-se muito parcialmente à Covid-19. Dos 7144
óbitos, no período em análise, apenas 1920 se deveram ao novo vírus, cerca de
28% do total de mortos.
A informação do INE diz-nos
também que houve um aumento de mortes fora do contexto hospitalar. «Do total de
óbitos registados entre 2 de Março e 20 de Setembro de 2020, 38 060 ocorreram
em estabelecimento hospitalar e 26 045 fora do contexto hospitalar, a que
correspondem aumentos de 2758 óbitos e 5561 óbitos, respectivamente,
relativamente à média de óbitos em 2015-2019 em período idêntico».
Os dados agora divulgados contêm
outra informação relevante, é que o aumento da mortalidade verificada tem um
impacto maior nas pessoas mais velhas. De acordo com o INE, comparativamente
com os últimos cinco anos «morreram mais 6218 pessoas com 75 e mais anos, das
quais mais 4865 com 85 e mais anos».