Francisco Louçã defendeu que "não é aceitável que os países mais pobres só daqui a um ano, dois ou três, venham a ser vacinados".
"Um fiasco". Foi desta forma que Francisco Louçã apelidou o processo de negociação da União Europeia com as farmacêuticas que produzem a vacina contra a Covid-19.
Defendendo que a estratégia tem que passar pelo aumento da capacidade de vacinação e pela disponibilização da informação técnica para que outros laboratórios produzam também a vacina, Louçã considerou que a UE "tem falhado" neste ponto.
"Apesar das boas promessas inicias, estamos neste momento perante um fiasco neste processo de negociação com as farmacêuticas, e isso está a prejudicar o ritmo das vacinações como se vê em Portugal e noutros países", afirmou o ex-dirigente bloquista.
Louçã entende que "não é aceitável que os países mais pobres só daqui a um ano, dois ou três, venham a ser vacinados", o que é "inviável" para todos, uma vez que a pandemia só se combate à escala planetária.
O comentador alertou, neste sentido, para o preocupante nacionalismo de vacinas, dando exemplos concretos:
"O Canadá, o Japão e a Austrália têm 1% dos casos do mundo inteiro, no entanto, têm muito mais vacinas reservadas do que toda a América Latina e todo o Caribe. O Canadá, que sozinho tem 38 milhões de habitantes, já reservou vacinas para cinco vezes a sua população. Mas a Nigéria, que tem 200 milhões, não tem uma única vacina".
O economista criticou também a "obscuridade" dos contratos com as grandes farmacêuticas, lamentando que a Comissão Europeia tenha disponibilizado os documentos com toda a informação que é essencial "bloqueada". "Isto é uma fraude. Os contratos devem ser conhecidos. A Comissão Europeia que prometeu transparência bloqueia a informação", acusou.
De sublinhar que o atraso nas entregas de vacinas está a atrasar a vacinação em Portugal, o que levou a task force a "adaptar" o plano à "realidade". Ou seja, neste momento, a vacinação das forças de segurança e bombeiros vai deixar de liderar as prioridades devido à escassez de vacinas, sendo reforçada a administração a pessoas com 80 ou mais anos e entre os 50 e os 79 anos com doenças crónicas, conforme noticiou hoje o Expresso.
Em comunicado, o grupo de trabalho responsável pela campanha de vacinação assegurou que "não existe qualquer alteração ao estabelecido no plano em vigor", mantendo-se as prioridades.
Tendo em conta as atuais limitações conhecidas na disponibilidade global de vacinas, "a administração das mesmas a estes dois grupos tem sido efetuada à razão de 90% das vacinas disponíveis para cidadãos do primeiro grupo ("salvar vidas") e 10% para o segundo grupo ("resiliência do Estado em período de pandemia")", explicou a task force.
Melissa Lopes | Noticias ao Minuto | Imagem: © Global Imagens
Sem comentários:
Enviar um comentário