A recente 34ª Cimeira da União Africana fez o ponto dos sérios problemas com que o continente se defronta: crise sanitária (às debilidades dos serviços de saúde em vários países junta-se a prioridade das grandes farmacêuticas em fornecer vacinas a quem mais pague); persistentes conflitos armados; recuperação económica.
Carlos Lopes Pereira* | opinião
A 34.ª Cimeira da União Africana (UA), que decorreu nos dias 6 e 7, por vídeo-conferência, abordou a resposta à crise sanitária no continente, a persistência de conflitos armados em África e a recuperação económica.
Adoptando o lema «Arte, Cultura e Património: alavanca para construir a África que queremos», a assembleia de chefes de Estado e de Governo da UA, pela primeira vez em formato virtual, elegeu a nova presidência rotativa – Félix Tshisekedi, da República Democrática do Congo, substitui Cyril Ramaphosa, da África do Sul, para o mandato 2021-2022. O chadiano Moussa Faki Mahamat foi reeleito presidente da Comissão da União Africana.
No discurso de aceitação do cargo, Tshisekedi afirmou que nas artes, tradições, saberes, religiões e idiomas de cada povo africano há «um vasto universo que protegeremos e transmitiremos aos nossos filhos». E defendeu que «possuímos uma cultura que nos distingue no mundo e temos o dever de utilizá-la como alavanca para promover o desenvolvimento, de convertê-la em suporte da recuperação de todos os países».
Lembrando que assume a presidência da UA «quando celebramos o 80.º aniversário do desaparecimento de Patrice Lumumba, digno filho do Congo e da África, que acreditava firmemente no grande destino destas terras», o dirigente congolês defendeu que a África «enfrenta grandes desafios que necessitam de soluções africanas, exortam a combinar esforços e exigem acções colectivas imediatas, com respeito pela pluralidade e independência de cada Estado».
Sobre a luta contra a COVID-19, quando começou a pandemia muitos especialistas anteciparam um cenário catastrófica em África. No entanto, um ano depois de identificado o primeiro caso de contágio, no Egipto, os países africanos figuram entre os menos atingidos.
Até agora, lembra a Prensa Latina, que fez a cobertura da cimeira da UA a partir de Addis Abeba, sede da organização, os números de diagnosticados (cerca de três milhões e 700 mil) e de mortos (aproximadamente 95 mil) em África representam 3,5% e 4% do total mundial, respectivamente. Mas é certo que as condições sanitárias pioraram, há sistemas de saúde à beira da ruptura, as economias sofreram retrocessos, pelo que hoje é prioritária a obtenção de vacinas para travar a pandemia.
Numa perspectiva de solucionar com estratégias próprias os problemas africanos, a UA debateu uma vez mais como «silenciar as armas» e pôr fim aos conflitos armados no continente. Essa será certamente uma prioridade da organização, no mandato de Félix Tshiseked: do Sahel, da bacia do Chade e da Nigéria ao Corno de África e ao Norte de Moçambique, passando pelas tensões entre Uganda e Ruanda, pela instabilidade na República Centro-Africana, no leste da República Democrática do Congo, no Sudão do Sul. Neste aspecto, a única notícia animadora parece chegar da Líbia, onde as facções rivais acordaram a realização de eleições, no final deste ano, numa solução negociada sob os auspícios das Nações Unidas e com forte influência das potências ocidentais.
Registe-se ainda que a cimeira da UA condenou – o que acontece pela 12.ª vez consecutiva – o bloqueio económico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba e exigiu o fim das longas e injustificadas sanções, reafirmando a solidariedade africana com o povo cubano.
*Carlos
Lopes Pereira | O Diário.info
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2463, 11.02.2021
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