quarta-feira, 3 de março de 2021

Presidente guineense acusado de querer dividir jornalistas

A acusação é do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social. Em causa estão declarações de Umaro Sissoco Embaló na semana passada, acusando muitos jornalistas de serem "amadores", o que gerou polémica.

O Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social (SINJOTECS) criticou esta terça-feira (02.03) a entrevista recente de Umaro Sissoco Embaló, em que o Presidente da República acusava muitos jornalistas de serem "amadores" e ameaçava fechar vários rádios no país.

Para Indira Correia Baldé, presidente do SINJOTECS, estas não são declarações próprias de um chefe de Estado. Segundo o sindicalista, é preciso "esclarecer ao senhor Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que o seu papel é de garantir a unidade nacional, não de dividir a classe jornalística, para reinar".

Baldé "relembra ao senhor Presidente da República que os jornalistas não são os seus adversários políticos" e alerta "que a Guiné-Bissau é um país democrático, cuja liberdade de imprensa e de expressão constituem pilares essenciais".

O SINJOTECS reconhece que nem tudo é um "mar de rosas" na comunicação social e, em relação à atuação dos jornalistas, insta o Presidente da República a promulgar a lei da Carteira Profissional, de forma a dar um "valioso contributo" para a organização da classe.

As acusações do Presidente

Na passada sexta-feira (26.02), por ocasião do seu primeiro ano na Presidência da República, Umaro Sissoco Embaló deu uma entrevista aos órgãos de comunicação social estatais excluindo os privados, exceto a Rádio África FM. O chefe de Estado afirmou que vários jornalistas não têm preparação.  

"Muitos jornalistas são amadores, as pessoas pensam que o jornalismo é claque, que é o relato do jogo. Criaram uma associação que [eles] chamam de ouvintes para insultar as pessoas", acusou o Presidente guineense. 

Sissoco ameaçou ainda: "Já falei com o Governo, todas as rádios que têm licença provisória têm de começar a pedir a definitiva, se não serão fechadas"

Mas a realidade é que não existem licenças definitivas no país. Aos órgãos de comunicação social são atribuídas licenças provisórias, que são renovadas anualmente mediante o pagamento de uma taxa de funcionalidade.

Que nível para fazer política?

Perante as declarações de Umaro Sissoco Embaló, o bastonário da Ordem dos Jornalistas questiona: "Qual é o nível para fazer política na Guiné-Bissau?"

António Nhaga (foto) acrescenta que "há uma coisa que é fundamental", que "o senhor Presidente da República deve [atuar com] ética, [em] pluralismo, para perceber a imprensa que ele tem",

"Não vamos entrar em 'puxa-puxa' com Presidente da República, se o fizermos vamos só desviar a atenção das pessoas", conclui.

A relação azeda do Presidente guineense com a imprensa do país não é de agora. Enquanto primeiro-ministro (entre 2016 e 2018), Umaro Sissoco Embaló ameaçou trazer a imprensa estrangeira para atuar na Guiné-Bissau, porque a nacional não estava preparada, segundo disse na altura.

Iancuba Dansó (Bissau) | Dewtsche Welle

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