quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

LUDY KISSASSUNDA, A VERDADE QUE VIRÁ SEMPRE AO DE CIMA…

Martinho Júnior, Luanda 

01- … Pode demorar muitos e muitos anos, todavia a busca da verdade, sendo uma prática incessante, a ser levada a cabo de geração em geração, vai-se apurando e, como o azeite em água ela virá, no todo ou em gotículas resistentes, à superfície, como um precioso bem comum!…

A palavra “ludy” tem que ver com essa amplo e significativo apuramento, que resistirá desde as entranhas dos acontecimentos e se ainda não despontou, emergirá um dia, quando se fizer melhor luz e as águas forem menos agitadas!

“Ludy” é uma palavra por outro lado carregada de intrínseca energia, fidelidade, vontade e vocação, que tanto se entrelaça com a substância do ser, um ser que desde então indiciava o compromisso dialético com a luta armada de libertação, com o pensamento e prática do Presidente António Agostinho Neto, numa revolução não-alinhada com forte personalidade e com a autodeterminação em busca de independência e de soberania de que tanto carecem ainda hoje os povos africanos!

Na verdade há uma inquestionável força que fez prova de vida, ao longo de todo o sopro humano que foi Ludy Kissassunda e por isso o eleva ao patamar dum perfil imprescindível entre os imprescindíveis: foi tanto quanto o possível fiel à revolução e sobretudo ao Amplo Movimento que desde a guerrilha deu corpo ao MPLA!...

Foi com combatentes lutadores dessa fibra que foi viável para Angola e para a África Austral acabar com o colonialismo, responder ao neocolonialismo vigente em muitos estados africanos, acabar com o institucionalizado poder do “apartheid” e dar ainda combate a muitas das suas sequelas, entre elas as que prefiguravam os “bantustões”, regimes étnicos que tanto tiveram a ver com os etno-nacionalismos engenhosamente montados pela via dos que “in extremis” se viram forçados à “africanização da guerra”, no estertor dos seus critérios retrógrados e refractários à civilização, a civilização de que se deve nutrir saudavelmente toda a humanidade!...

O Comandante de Coluna Kudy Kissassunda foi o segundo assinante da Proclamação das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, FAPLA, a 1 de Agosto de 1974, numa altura em que os spinolistas por dentro do Movimento das Forças Armadas, MFA, de Portugal, faziam tudo para reconhecerem exclusivamente as organizações etno-nacionalistas angolanas de feição e impediam o reconhecimento do MPLA!...

02- Ser Chefe nos serviços de informação e segurança no arranque da República Popular de Angola, era algo duma responsabilidade enorme, tendo em conta as agressões de que Angola era na altura vítima, com a utilização dos rótulos etno-nacionalistas que correspondiam aos mais terríveis apetites neocoloniais, inclusive os que pretendiam o anátema da "bantustanização" de Angola!...

Foi o 2º homem da Proclamação das FAPLA, o Comandante de Coluna Ludy Kissassunda, que assumiu esse cargo, enquanto fiel garante do poder do Presidente António Agostinho Neto e fê-lo a tal ponto, que mesmo trucidado pelos oportunismos internos e externos, (muitos dos quais ainda "no activo"), oportunismos dos que se aproveitaram desde logo dos reflexos da tentativa do golpe de estado de 27 de Maio de 1977, se manteve inabalável no seu patriotismo e em relação às mais legítimas aspirações de futuro do povo angolano!…

O Comandante Ludy Kissassunda jamais aceitou desrespeitar a figura do 1º Presidente duma Angola que acabava de alcançar a autodeterminação e iniciava uma longa luta para garantir sua independência, soberania e um lugar digno e justo nos relacionamentos internacionais!...

Quando após a sangrenta tentativa de golpe de estado, começaram as campanhas contra os que defenderam António Agostinho Neto, quando não havia outra alternativa senão a prova da verdade e da fidelidade, ao fazerem-no cumprindo com a legalidade de então, foram os justos, entre os quais se encontrava o Comandante de Coluna Ludy Kissassunda, que passaram a ser os alvos a abater!...

Tecnicamente, os que estavam à frente dos instrumentos do poder de estado poderiam usar suas prerrogativas de algum modo impedindo o Presidente de tomar medidas contra eles, mas sua conduta de “ludy”-fidelidade a toda a prova foi irrepreensível e o que tinham a dizer em sua defesa, foi apenas dito, sem alardes comunicacionais públicos, dentro das instituições do estado angolano que tinham a obrigação de respeitar e preservar, sobretudo no Conselho da Revolução, o órgão decisivo!

Na altura só a voz do Presidente António Agostinho Neto era decisiva e pública, por que a República Popular de Angola, com todas as fragilidades que advinham do seu parto, estava epicamente empenhada nas responsabilidades de contribuir com um peso maior para libertar a África Central e Austral do colonialismo, neocolonialismo e “apartheid”, projecto que se sobrepunha a tudo o mais!

Tal como procedeu em relação ao camarada Presidente António Agostinho Neto, procedeu em relação ao senhor Presidente José Eduardo dos Santos, enquanto Comandante-em-Chefe das FAPLA e mais tarde das FAA, dando o exemplo no sentido de todo o efectivo militar e de segurança ser motivado a honrar a pátria angolana que nascia e tanto carecia do cuidado dos patriotas, particularmente dos que foram os heroicos parteiros dessa fulgurante emergência revolucionária!

Como oficial que serviu na equipa chefiada pelo camarada capitão António Carlos que morreria em combate no seu posto de Delegado Provincial do MINSE no Huambo, oficial portanto num dos seus gabinetes mais próximos, o da Informação e Análise, testemunho a sua têmpera de fiel e incorrupto servidor da RPA sob a orientação e mando do Presidente António Agostinho Neto, quaisquer que fossem as conjunturas, os desafios, os riscos e as consequências!...

Na guerrilha não houve tempo para o Comandante de Coluna Ludy Kissassunda andar em escolas, por que as actividades da libertação num percurso de luta armada não davam margem para tal, mas no seu cargo, ele reservava além do mais sempre tempo e espaço para uma contínua superação, em grande parte feita de vocação e experiência autodidata!

Foi “ludy”-fiel ao estado angolano, durante toda a sua escola de vida, demonstrando que os servidores do estado angolano têm o dever de serem íntegros, cultores de mérito, rigorosos e exigentes para consigo próprios antes de o serem para com outros, à prova de qualquer tentativa de corrupção e jamais aceitarem práticas oportunistas, que tanto têm vindo, nas últimas décadas de tanto desvario, a prejudicar Angola!...

03- Durante a existência da República Popular de Angola, não se havia conhecido a extensão do Exercício Alcora, apesar dos indícios esparsos de sua vigência, decorrentes das leituras dialéticas levadas a cabo pelo Presidente António Agostinho Neto e pelo Presidente Samora Machel, ao longo de todo o processo de luta armada de libertação nacional em Angola e Moçambique, da África Austral e Central!

Também, além dos indícios, se desconhecia do seu amplo reaproveitamento, adaptado aos interesses que se conjugaram sobretudo entre os governos portugueses do “arco de governação” decorrentes do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, o “apartheid” com seus mentores e interesses e os etno-nacionalismos forjados com o concurso da “africanização da guerra” em Angola e em Moçambique!

Mesmo assim, os Comandantes de Coluna das FAPLA e eméritos Oficiais Superiores delas nos primeiros anos da autodeterminação do estado angolano, ao se aplicarem na via do Não Alinhamento activo tiveram a percepção de muitos dos desafios, de muitos dos riscos e da necessidade de generalizar a luta tornando-a popular, a fim de se dar um passo decisivo na libertação dos povos da África Austral e Central quer do colonialismo-“apartheid”, quer dos círculos viciosos afectados por eles e seus aliados extracontinentais, a coberto do império da hegemonia unipolar!

Ainda no quadro do Grupo de Operações Especiais da Segurança do Estado-Maior Geral das FAPLA, houve uma iniciativa que comprova essa lúcida percepção: uma equipa de instrutores internacionalistas, da qual fiz também parte, integrou o primeiro Centro de Instrução Revolucionária que aproximava o Unkhonto we Sizwe, do ANC da África do Sul e o Peoples Liberation Army of Namibia, da SWAPO, na área da Funda, a norte de Luanda… graças às iniciativas dos Comandantes de Coluna das FAPLA, sob orientação directa do Comandante de Coluna Iko Carreira e estratégica do Comandante-em-Chefe das FAPLA, António Agostinho Neto!

Os combatentes do MPLA, do PAIGC, da FRELIMO aprenderam a constante necessidade de unidade e coesão no decorrer da luta armada de libertação, até por que desde o seu simbólico berço, a 4 de Janeiro de 1961 e a 4 de Fevereiro de 1961, na Baixa do Cassanje como em Luanda, tiveram de avaliar quanto em socorro do colonial-fascismo e do “apartheid” estava a NATO, providenciando o indispensável arsenal de equipamento e armamento contra o então ainda incipiente e embrionário movimento de libertação em África a sul do Sahara!

O Comandante de Coluna Ludy Kissassunda, à frente dos transitórios organismos de inteligência e segurança (tão transitórios que ao invés de Ministério eles tinham a designação de Direcção de Informação e Segurança de Angola, DISA), esteve por dentro de todas as iniciativas nesse quadro embrionário!...

04- Por defender António Agostinho Neto, as campanhas internas e internacionais foram sendo sucessivamente desencadeadas, onda após onda, até nossos dias… contra ele e contra muitos dos seus oficiais, também oficiais das gloriosas FAPLA, por que ao poder externo dominante interessou sempre colocar todas as sensibilidades angolanas ao nível dos etno-nacionalismos de feição, utilizando para o efeito e em tempos oportunos, os mais aliciantes rótulos e manipulações de que seus laboratórios são pródigos!...

A corrente dessas campanhas foi engrossando com mais vigor desde o primeiro dia em que pararam as batalhas em solo angolano, pois as conjunturas se tornaram férteis para que assim acontecesse, dentro e fora das fronteiras angolanas, no exterior sobretudo a partir dos alfobres que germinam “afortunadamente” desde Portugal do “arco de governação”, inspirado em contenciosos antigos e parcerias contra natura acabadinhas de estrear nos seus projectos neoliberais!...

Nada acontece por acaso, nos rios de fervente tinta entornada, na ênfase das declarações com suas cargas emocionais, algumas delas as mais inverosímeis, outras as mais retrógradas, nos números das hecatombes que se foram contabilizando e reinventando…

… Até dia 8 de Janeiro de 2021, passados 21 dias da criação da Comissão de Averiguação e Certificação de Óbito para Vítimas de Conflitos Políticos (CAVICOP) do Ministério da Justiça de Angola, apenas 14 solicitações tinham dado entrada naquele organismo, muito longe dos alarmantes números que foram sendo de antemão prognosticados pelos deuses da propaganda ao longo dos anos, de décadas…

Os organismos centrais dos instrumentos do poder de estado da República Popular de Angola, que responderam à tentativa do golpe de estado do 27 de Maio de 1977 subordinaram-se a um tribunal ad hoc que julgou sumariamente e emitiu os vereditos em relação aos participantes que foram para ele conduzidos… e os seus componentes jamais foram sujeitos a contraditório, tal como os que por dever ético, moral e de “ludy”-fidelidade defenderam “in extremis” o Presidente António Agostinho Neto e o estado angolano…

O empolamento da corrente que engrossou essas campanhas teve sempre o camarada Comandante de Coluna Ludy Kissassunda como um dos seus mais referenciados alvos, por que os instrumentos de poder do então estado angolano nascente, seguraram inequivocamente e a quente o essencial da projecto patriótico da autodeterminação que levaria à continuidade da luta contra componentes do Exercício Alcora que não haviam desistido de controlar da forma mais bárbara a África Austral e Central!...

Esses instrumentos do poder de estado da República Popular de Angola abriam caminho a uma independência e soberania que se queriam plenas e isso era insuportável para muitas das mais poderosas entidades internacionais sob a égide do império da hegemonia unipolar e seu cortejo de avassalados!...

Os oficiais sobreviventes, muitos deles juramentados, mantêm ainda hoje um dever patriótico, anti-imperialista e uma obrigação moral: mesmo que tantos tenham “atirado a toalha ao tapete”, defender o estado angolano hoje como ontem, agora no âmbito duma comunidade de inteligência e segurança que foi finalmente reconhecida como tal…

Por causa da sua fidelidade uns poucos foram até duplamente penalizados: pelos sacrifícios que nas horas decisivas tiveram que consentir com risco de suas próprias vidas e de suas famílias e pela marginalização a que foram sendo votados ao longo de décadas, enquanto muitos dos que foram um dia conotados ao fenómeno fraccionista, tal como muitos dos que haviam preenchido as fileiras dos agrupamentos etno-nacionalistas, eram projectados até para cargos governamentais de topo, em nome da democracia, da reconciliação, da reconstrução nacional e da paz… e cada vez menos em nome do socialismo!...

A orientação socialista serviu para a luta contra o colonialismo, contra o “apartheid” e contra muitas das suas sequelas, algumas delas aproveitadas pelos mentores e instrumentos do poder hegemónico que ainda em nossos dias se quer fazer de dominante, ainda que à custa de suas próprias ementas democráticas… mas não serviu para a paz, quando a paz é tão carente de justiça social, de participação e de protagonismo solidário, de socialismo na hora em que o próprio planeta foi estafado pela irracionalidade humana!...

Os resultados dessa opção estão visíveis!…

A serenidade do Comandante de Coluna Ludy Kissassunda enquanto vector dum Amplo Movimento prevaleceu durante essas décadas e a maneira como ele se conduziu por vezes em situações difíceis ainda que de outro cariz, inspirou sempre no sentido da “ludy”-fidelidade imprescindível à lógica com sentido de vida, essência do movimento de libertação em África e esse é um inestimável património comum imaterial, pronto para ser repartido como pão para todos os patriotas dignos e solidários às mais legítimas causas do povo angolano!

05- Numa das intervenções relativas ao camarada Comandante de Coluna Ludy Kissassunda, que um dia foi também meu chefe, tive a possibilidade de por fim sublinhar respondendo à atenção que desde Cuba foi dada em jeito de curto comentário à comunicação sobre seu falecimento, por uma companheira que nutre por Angola um especial carinho e respeito:

… “O camarada Comandante Ludy sempre fez sentir entre seus efectivos, a trincheira comum Tricontinental e essa escola animou-nos e anima-nos como uma força de vocação geoestratégica, que também sustenta a vocação da liberdade enquanto lógica com sentido de vida, de que Cuba é um santuário e um farol para toda a humanidade!...

Todos nós alimentámos e alimentamos nossas vocações nessa continental trincheira, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, uma trincheira afinal multicontinental, que abarca todo o Sul Global, que não vai deixar de existir num momento em que por decrepitude capitalista sobretudo da hegemonia unipolar, se esgotam em meio ano os recursos que a Mãe Terra pode apenas fazer revitalizar num ano!...

Assim, por razões imprescindíveis, A LUTA CONTINUA e ficam, os patriotas angolanos da luta armada de libertação em África, imensamente reconhecidos para com a Revolução Cubana e seus tão heroicos quão esclarecidos Comandantes que um dia assumiram pagar a dívida que a humanidade tem para com África, algo que não se esgotou, particularmente nos termos solidários do amor de que África está ainda tão carenciada!”...

Martinho Júnior -- Luanda, 9 de Janeiro de 2021.

Imagem retirada da comunicação da Televisão Pública de Angola

Algumas das referências consultadas:

https://www.tpa.ao/ao/videos/nacionalista-ludy-kissassunda-antigo-governador-do-zaire-morre-vitima-de-doenca-em-portugal/

https://www.tpa.ao/ao/noticias/comissao-recebeu-14-pedidos-de-certidoes-de-obitos/

Nota exclusiva para os angolanos patriotas:

Esta intervenção está à inteira disposição dos patriotas que dela quiserem fazer uso, desde que respeitando e honrando o passado e a nossa história, acima das convicções nacionalistas!

2030, o futuro que a NATO prepara

Manlio Dinucci*

A NATO está a olhar para o futuro. Por isso, é que o Secretário Geral, Jens Stoltenberg, apelou aos estudantes e jovens líderes dos países da Aliança para proporem "novas ideias para a NATO 2030", em 4 de Fevereiro, numa videoconferência. 

A iniciativa faz parte do envolvimento crescente das universidades e das escolas, também com um concurso sobre o tema: "Quais serão as maiores ameaças à paz e à segurança em 2030 e como terá a NATO de se adaptar para as combater?

Para levar a cabo o tema, os jovens já têm o manual: "NATO 2030/Unidos para uma Nova Era", o relatório apresentado ao grupo de dez peritos nomeados pelo Secretário Geral. Entre eles está Marta Dassù que, depois de ter sido conselheira de política externa do Primeiro Ministro, Massimo D'Alema, durante a guerra da NATO contra a Jugoslávia, ocupou cargos importantes em governos sucessivos e foi nomeada pelo Primeiro Ministro, Matteo Renzi, para a direcção da Finmeccanica (agora Leonardo), a maior indústria de defesa italiana.

Qual é a "nova era" que o grupo de peritos prevê?

Depois de ter definido a NATO como "a aliança mais bem sucedida da História", que "pôs fim a duas guerras" (as que ocorreram  contra a Jugoslávia e contra a Líbia, que a NATO iniciou), o relatório traça um quadro de um mundo caracterizado por "Estados autoritários que procuram expandir o seu poder e influência", colocando aos aliados da NATO "um desafio sistémico em todos os domínios da segurança e da economia". 

Distorcendo os factos, o relatório argumenta que, enquanto a NATO estendeu uma mão amiga à Rússia, a mesma respondeu com "a agressão na zona Euro-Atlântica" e, ao violar os acordos, "provocou o fim do Tratado das Forças Nucleares Intermédias". A Rússia, sublinham os dez peritos, é "a principal ameaça que a NATO tem de enfrentar nesta década". Ao mesmo tempo – reiteram - a NATO enfrenta os crescentes "desafios de segurança colocados pela China", cujas actividades económicas e tecnologias podem ter "um impacto na defesa colectiva e na preparação militar na área da responsabilidade do Comandante Supremo Aliado na Europa" (que é sempre um general USA nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos).

Depois de ter lançado o alarme sobre estas e outras "ameaças", que também viriam do Sul do mundo, o relatório dos dez peritos recomenda "cimentar a centralidade da ligação transatlântica", ou seja, a ligação da Europa com os Estados Unidos, na aliança sob o comando USA.

Ao mesmo tempo, recomenda o "reforço do papel político da NATO", sublinhando que "os Aliados devem reforçar o Conselho do Atlântico Norte", o principal órgão político da Aliança que se reúne ao nível de Ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros e à competência de Chefes de Estado e do Governo.

Uma vez que, de acordo com as regras da NATO, toma as suas decisões não de acordo com a maioria, mas sempre "por unanimidade e de comum acordo", ou seja, basicamente, de acordo com o que é decidido em Washington, o maior reforço do Conselho do Atlântico Norte significa um maior enfraquecimento dos parlamentos europeus, em particular do Parlamento italiano, que já se encontram privados dos verdadeiros poderes de decisão sobre política externa e militar. 

Neste âmbito, o relatório propõe reforçar as forças da NATO, em particular no flanco oriental, dotando-as de "capacidades militares nucleares adequadas", adaptadas à situação criada pelo fim do Tratado das Forças Nucleares Intermédias (revogado pelos EUA). Por outras palavras, os dez peritos pedem aos EUA para acelerarem a instalação na Europa, não só das novas bombas nucleares B61-12, mas também de novos mísseis nucleares de alcance  médio, semelhantes aos mísseis europeus dos anos oitenta. Pedem em particular para "prosseguir e revitalizar os acordos de partilha nuclear", que permitem aos países formalmente não nucleares, como a Itália, preparar-se para o uso de armas nucleares sob o comando dos EUA.

Por fim, os dez peritos recordam que é essencial que os aliados mantenham o compromisso, assumido em 2014, de aumentar a sua despesa militar até 2024, pelo menos para 2% do PIB, o que significa para a Itália que a sua despesa passará de 26 para 36 biliões de euros por ano. Este é o preço a pagar para usufruir o que o relatório define como "os benefícios de estar sob o guarda-chuva da NATO".

*Manlio Dinucci | Il manifesto, 02 febbraio 2021

 A tradução correcta do título original é

*Em direcção a 2030, nasceu *(è NATO) o futuro

*Trocadilho do  particípio passado do verbo IT ‘nascere’

com a designação da aliança militar

mais poderosa do mundo

A Fotografia

A NATO Selecciona Thales para Fornecer a Sua Primeira Nuvem de Defesa para as Forças Armadas

https://www.businesswire.com/news/home/20210125005006/en/  

 "Thales orgulha-se de estar a contribuir para a transformação digital das forças armadas, fornecendo esta primeira solução de nuvem de defesa táctica, certificada e destacável. Estamos gratos à NATO por renovar a sua confiança na nossa perícia em sistemas de informação e comunicação seguros e interoperáveis". Marc Darmon, Vice Presidente Executivo, Secure Communications and Information Systems, Thales.

Sobre Thales

Thales (Euronext Paris: HO) é um líder global de alta tecnologia que investe em inovações digitais e de "tecnologia profunda" - conectividade, grandes dados, inteligência artística-social, segurança cibernética e tecnologia quântica - para construir um futuro em que todos possamos confiar, o que é vital para o desenvolvimento das nossas sociedades. A empresa fornece soluções, serviços e produtos que ajudam os seus clientes - empresas, organizações e estados - nos mercados da defesa, aeronáutica, Espaço, transporte e identidade digital e de segurança a cumprir as suas missões críticas, colocando o ser humano no centro do processo de tomada de decisão.

Com 83.000 empregados em 68 países, a Thales gerou vendas de 19 biliões de euros em 2019 (numa base que incluiu a Gemalto durante 12 meses).

*Publicado em No war no NATO, 2 Jan 2021-02-11

Nada está claro sobre as origens da Covid-19

#Publicado em português do Brasil

Equipe de investigação da OMS encerra trabalhos na China sem saber, sequer, se o vírus espalhou-se a partir de Wuhan. Riscos epidemiológicos do Antropoceno parecem graves e difusos. E mais: a experiência de vacinação em Serrana-SP

Raquel Torres | Outras Palavras

MAIS PERGUNTAS DO QUE RESPOSTAS

A equipe internacional liderada pela OMS para investigar as origens do SARS-CoV-2 junto com especialistas chineses encerrou sua missão de duas semanas no país e apresentou ontem suas conclusões. Passado mais de um ano desde que os primeiros casos foram identificados em Wuhan, era pouco provável que os cientistas chegassem muitas certezas. Assim foi. A equipe só foi realmente taxativa em afirmar que o vírus não escapou de um laboratório – algo considerado “extremamente improvável” e que sequer deve continuar sendo estudado.

“Não é impossível. Isso já ocorreu em outros países”, disse Peter Ben Embarek, que liderou os pesquisadores, referindo-se a acidentes de laboratório; ele afirmou, porém, que não havia na época pesquisas sobre vírus com as características do SARS-CoV-2, e por isso a ideia foi abandonada. 

Outras três hipóteses sobre a origem da contaminação em humanos continuam em aberto: a transmissão direta a partir de um animal, provavelmente um morcego; a via indireta, por meio de um animal intermediário; e o contágio a partir de vírus em superfícies congeladas. Esta última tem sido defendida pelas autoridades chinesas, que apostam que o vírus pode ter vindo de outro país a partir de alimentos de origem animal congelados. A teoria nunca teve muito alcance entre cientistas de outros países, e mantê-la em jogo pode ser visto como um aceno a Pequim; porém, a equipe da OMS foi cautelosa ao admitir a possibilidade, salientando que para confirmá-la seria preciso investigar toda a cadeia de fornecedores de produtos para Wuhan. 

O mais plausível, por enquanto, continua sendo a ideia de que vírus surgiu em morcegos e passou para outra espécie antes de saltar para humanos, mas ainda não se sabe que animais estariam por trás disso.  Segundo Peter Ben Embarek, as novas informações conseguidas apontam que o vírus provavelmente circulou fora de Wuhan antes de ser detectado lá; A hipótese de que um mercado local tenha sido o primeiro epicentro da epidemia foi descartada.

Os pesquisadores também não encontraram nenhuma evidência de que o vírus tenha se espalhado nesta ou outra cidade chinesa antes de dezembro de 2019. Os representantes chineses da missão bateram na tecla de que o vírus pode ter surgido em outro país, passando desapercebido; novamente, a equipe internacional não rechaçou a hipótese, mas alertou que novos estudos são necessários e que as poucas pistas apresentadas até agora nesse sentido (como um estudo que identificou anticorpos contra o coronavírus em amostras de sangue na Itália, no outono de 2019) são inconclusivas. 

Entender a origem do vírus pode soar como uma necessidade secundária quando a maior parte do mundo atravessa problemas urgentes – as mortes que se acumulam, a crise econômica, a falta de acesso às vacinas –, mas entender bem o que aconteceu é fundamental para evitar que essa história se repita. Como já dissemos bastante por aqui, outras ameaças, tão graves ou piores do que a covid-19, estão sempre à espreita. Mas a investigação da OMS demorou demais para decolar, e obviamente é uma questão tão científica quanto política. As autorizações para explorar a China vieram em conta-gotas. Uma primeira equipe da Organização chegou a Pequim ainda em fevereiro do ano passado a fim de conduzir os primeiros estudos, mas não conseguiu nem visitar o mercado de animais vivos em Wuhan.

O MOVIMENTO DE LUIZA

A inaptidão do governo federal em comprar vacinas – e, não esqueçamos, dos governos estaduais e municipais em distribuir as doses já disponíveis – gerou uma lacuna que o setor privado pretende preencher. Opondo-se ao conluio de empresários que pretendem comprar doses para imunizar seus funcionários, a bilionária Luiza Trajano lançou ontem o “Unidos pela Vacina”, com a meta de imunizar o país todo até setembro, pelo SUS, para “salvar vidas e destravar a economia”. Cerca de 400 empresas e entidades estão apoiando e, segundo o Estadão, o grupo já trabalha há um mês. 

Dona da rede Magazine Luiza, ela não pretende adquirir vacinas, mas “agilizar, com influência de nossas empresas, e ajudar a chegar vacina”. “O movimento planeja várias frentes, como facilitar a aquisição e produção de insumos, como seringas e agulhas, e ajudar na fabricação dos imunizantes, com o auxílio na logística e solução de problemas da Fiocruz e do Instituto Butantan”, diz O Globo. 

Não está claro como isso vai ser conduzido, mas, segundo Luiza, “nós temos empresas que estão na China, Índia, Estados Unidos e que estão querendo ajudar nessa solução”. O plano envolve fazer uma “radiografia” das unidades de saúde do país, um levantamento para entender a relevância do movimento antivacina por aqui, grupos de trabalho para dialogar com os governos em todas as esferas e uma campanha publicitária nacional a favor da vacina. Aliás, o Rio de Janeiro e Nova Lima (MG) são cidades-piloto e já estão sendo mapeadas. O presidente da Suzano vai ser o analista dos entraves à produção; o da Gol vai cuidar de logística e armazenamento. Embora não haja previsão para a compra de doses, esta semana houve uma reunião com o fabricante da vacina Sputnik V. 

EM MASSA

O governo de São Paulo decidiu imunizar todos os 30 mil adultos do município de Serrana até abril. O objetivo é verificar o efeito da vacinação em massa em um ambiente não controlado, como é o dos testes clínicos. Segundo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, o que vai ser avaliado não é mais a eficácia, mas a efetividade da vacina – seu efeito na redução nos casos, internações e mortes, além do uso do sistema de saúde e dos impactos na economia. 

O lugar foi escolhido por ser pequeno e uma cidade-dormitório, em que a maior parte dos habitantes trabalha em outras localidades. Isso aumenta a possibilidade de transmissão. As doses usadas não são provenientes do plano nacional de imunização (que devem respeitar os grupos prioritários), mas ainda do lote reservado para o estudo clínico. 

Por enquanto, as maiores evidências de que vacinar muita gente pode conter a pandemia vêm de Israel, que utiliza o imunizante da Pfizer/BioNTech. Aliás, o acordo com a Pfizer para o fornecimento constante de vacinas se baseia justo no fornecimento de dados completos sobre os vacinados, para que esse tipo de dado seja produzido. Os estudos até agora apontam uma redução drástica dos casos e  hospitalizações por conta da doença. Os dados das pessoas com mais de 60 anos que receberam o imunizante mostram uma queda de 41% nos novos casos em três semanas, além de 31% nas hospitalizações. É claro que o lockdown imposto no país também influencia nos números, mas, segundo o New York Times, as pesquisas conseguiram “descolar” esses fatores. Ontem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que, das 1,5 mil pessoas que morreram em Israel nos últimos 30 dias, 97% não tinham sido vacinadas. 

ONDE É MAIS URGENTE

As Defensorias Públicas do Amazonas e da União entraram com uma ação na Justiça Federal para obrigar o governo brasileiro a comprar mais vacina para Manaus e outros sete municípios do estado em até 30 dias. A quantidade deve ser suficiente para imunizar pelo menos 70% dos adultos nas cidades, escolhidas em função da situação epidemiológica grave.

NOVA FLEXIBILIZAÇÃO

A Anvisa decidiu ontem dispensar a necessidade de seu registro ou autorização emergencial para que as vacinas adquiridas por meio da Covax Facility sejam usadas no Brasil. A medida vai agilizar a entrada dos imunizantes que já façam parte da iniciativa mas ainda não tenham sido aprovados aqui. É importante salientar que todas elas passam pelas análises de qualidade da própria OMS (que às vezes demoram mais para sair do que as de algumas agências reguladoras).

Nesse momento, talvez a decisão não faça muita diferença para nós, já que durante os próximos meses a única vacina que o Brasil deve receber por meio do consórcio é a de vacina de Oxford/AstraZeneca, que de todo modo já foi autorizada pela Anvisa. Mas, no futuro, deve facilitar nosso acesso a outras, como as da Moderna. 

DUAS INDIANAS

O laboratório indiano Bharat Biotech disse que deve exportar esta semana doses de sua vacina, a Covaxin, para o Brasil. O Ministério da Saúde pretende comprar oito milhões de doses em fevereiro e mais 12 milhões em março. Como já dissemos por aqui, os testes de fase 3 com esta vacina estão em curso na Índia e não há dados de eficácia. A Precisa Farmacêutica, que representa o Bharat Biotech no Brasil, chegou a pedir para realizar ensaios no Brasil, mas desistiu, pois ainda não tem todos os documentos necessários para submeter a solicitação à Anvisa.  

O governo brasileiro agora negocia também a compra de outra vacina indiana, a Zycov-D. Para esta, a fase 3 ainda não começou. 

DÚVIDAS SOBRE O AUXÍLIO

Depois de muito dizerem que não, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro acenaram para o possível retorno do auxílio emergencial. O novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que pode haver um anúncio ainda nesta semana. Mas ainda não se sabe quase nada sobre a proposta: qual vai ser o valor do auxílio, quem vai recebê-lo, de onde vai sair a verba. Vamos acompanhar.

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