«A América está de volta», garante Biden. E a agitação militar crescente no Médio Oriente confirma-o. Se alguma coisa mudou na situação militar internacional, foi no sentido de se agravar.
José Goulão* | AbrilAbril | opinião
Joseph Biden mandou bombardear a Síria a pretexto de ataques dirigidos contra as suas forças de ocupação presentes no Iraque; e fê-lo ao mesmo tempo que aviões militares israelitas atacavam Damasco. Como era de esperar, a realidade demonstra que em Washington mudaram apenas as moscas. Nas eleições norte-americanas o partido único, o partido da guerra, ganha sempre.
O presidente dos Estados Unidos explicou que os ataques contra território sírio nos últimos dias de Fevereiro – outros irão seguir-se, com toda a certeza – foram executados para «proteger americanos». É a forma imperial de ver as coisas: Biden não admite que sejam incomodadas as tropas norte-americanas que ocupam outros países apesar de não terem sido convidadas ou de se recusarem a ir embora. O agressor vitimiza-se e assim engendra pretextos para alimentar a guerra e prosseguir a ocupação.
Os recentes ataques militares contra a Síria soberana foram explicados com os mesmos argumentos usados por Donald Trump há um ano durante a escalada de guerra que se seguiu ao assassínio do general iraniano Qasem Soleimani: punir a organização xiita «pró-iraniana» Kataeb Hezbollah, que opera com bases na região fronteiriça entre a Síria e o Iraque.
Há um ano provou-se que este grupo não atacara quaisquer instalações ocupadas por norte-americanos no Iraque. Por detrás das operações estiveram provavelmente efectivos do Isis ou «Estado Islâmico», uma vez que foram realizadas em território sunita iraquiano.
Desta feita, o novo presidente dos Estados Unidos mandou atacar instalações do mesmo Kataeb Hezbollah na Síria, acusando-o também de ter atingido interesses norte-americanos no Iraque. Segundo o New York Times, uma «bíblia» nestas matérias, ter-se-ia registado a morte de um cidadão dos Estados Unidos. Depois corrigiu: afinal ficou só ferido; mas nenhuma fonte divulgou a sua identificação nem o que tal pessoa estaria a fazer no Iraque. Nos ataques do início de 2020 também começou por haver «mortos», que depois foram transformados em «feridos» e sem qualquer identificação.