Paulo Baldaia | TSF | opinião
Há uma pressão muito grande na opinião pública e na política, à direita e à esquerda, para o Governo gastar mais, mais e mais. As regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento estão suspensas desde março de 2020 e assim vão continuar até ao final do próximo ano. Mas os avisos de Bruxelas já chegaram para os países mais endividados, como é o caso de Portugal: cuidado, porque alguém vai ter de pagar a conta.
E quem tem de pagar a conta do que pedimos emprestado para gastar agora são sempre as gerações futuras. As mesmas a quem fechamos a escola e aprisionamos em casa, em nome da saúde dos que agora gastam e dos que, passando dificuldades, se dirigem ao Estado, pedindo-lhe que tudo resolva. Não sugiro que se deixe de reforçar o investimento no Serviço Nacional de Saúde e não se acuda a quem verdadeiramente precisa, mas é da mais elementar justiça que se controle o nível da dívida, obrigando o Estado a ser mais criterioso nos gastos.
Não podemos gastar o valor de meia bazuca a salvar bancos e companhias aéreas e esperar que continue a haver dinheiro para tudo o resto. E tudo o resto tem de implicar tanto os apoios sociais de emergência que são devidos aos que ficam sem emprego, como a reestruturação de uma economia que garanta empregos futuros.
Quando escolhemos tirar a escola às crianças e jovens, porque nos recusamos investir a tempo para evitar esse encerramento, fazendo testagem massiva e vacinando prioritariamente professores e auxiliares educativos, mas aceitamos fazer dívida que essas mesmas crianças e jovens vão ter de pagar no futuro, estamos a castigar os únicos cidadãos que não se podem defender, porque não têm direito a voto.
A ideia de ter os limites do défice e da dívida inscritos na Constituição chegou a ser discutida, mas não fez caminho, por se considerar impraticável. É pena, essa parece ser a única forma de evitar que, a cada momento, quem tem o poder de decidir decida sempre a favor da geração a que pertence, contra as gerações futuras. Não sugiro que o país não tenha dívida, mas é da mais elementar justiça que ela seja utilizada para investir num futuro mais promissor para todos, exatamente ao contrário do que vem sendo feito até aqui. Claro que há sempre quem pense que é tranquilo viver com uma dívida pública que ronda os 135% do PIB e se admira muito quando os mercados nos fazem pagar com juros a irresponsabilidade de andar a gastar por conta como se não houvesse amanhã.
Sem comentários:
Enviar um comentário