#Publicado em português do Brasil
O fantasma que ronda o governo de
Madrid é o receio de que as agitações populares derivem para alguma forma de
terrorismo. Como aconteceu com os bascos, que através do ETA (Euskadi Ta Akatatuna,
na difícil língua basca) tentou a independência com armas e bombas numa guerra
que durou de
Celso Japiassu | Carta Maior
“Otra revolución necesitan
Dijo que la insurrección no es un banquete
No puede ser tan pausada, fina y elegante
(De um rap de Pablo Hasél)”
“Above all, there was a belief in the revolution and the future, a feeling of
having suddenly emerged into an era of equality and freedom.”
(George Orwell, Homage to Catalonia)
A agitação do povo nas ruas das cidades da Catalunha, aglomerando-se em plena
pandemia, desta vez foi deflagrada pelo protesto contra a prisão do rapper Pablo
Hasél. Suas canções e mensagens políticas espalhadas pelas redes da internet
foram consideradas pelo Supremo Tribunal espanhol como subversivas, incitando a
violência e enaltecendo o terrorismo. Centenas de artistas, entre eles o
cineasta Pedro Almodóvar e o ator Javier Bardem, protestaram num manifesto em
que afirmam que "o Estado espanhol passou a encabeçar a lista de países
que mais artistas condenou pelos conteúdos das suas canções".
Os conflitos entre a polícia, que tem na Catalunha o nome de Mossos de
Esquadra, com os manifestantes espalharam-se por Barcelona, Tarragona, Girona e
outras cidades catalãs mas não significam apenas um protesto generalizado em
favor de Pablo Hasél. Representam na verdade a continuação da luta pela
independência da Catalunha que vem de séculos, passando de geração a geração e
que ganhou forma política com militância aguerrida a partir de 1922 com a
fundação do Estat Català. Em torno dele reuniram-se outros partidos e,
juntos, formaram a Esquerda Republicana da Catalunha, (Esquerra
Republicana de Catalunya-ERC).
O fantasma que ronda o governo de
Madrid é o receio de que as agitações populares derivem para alguma forma de
terrorismo. Como aconteceu com os bascos, que através do ETA (Euskadi Ta
Akatatuna, na difícil língua basca) tentou a independência com armas e bombas
numa guerra que durou de
A ação clandestina volta a ser um recurso das lideranças catalãs. Os líderes da
declaração unilateral de independência em 2017 estão presos ou exilados, entre
eles Carles Puigdemont, ex-presidente da comunidade autônoma, destituído e
refugiado na Bélgica desde então.
A Catalunha tem fortes argumentos históricos para reivindicar independência. É
uma rica região, tem sua própria identidade, língua e cultura fortes. Reclama
também de participar com a maior parcela do PIB espanhol e receber o menor
investimento do poder central. A população ou grande parte dela quer viver num
país autônomo e independente mas a constituição espanhola proíbe um referendo
sobre o tema, como foi possível fazer na Escócia, no Reino Unido e em Quebec,
no Canadá. Há ainda a dificuldade de obter um reconhecimento internacional pois
os países que poderiam apoiar o desejo catalão não se animam a fazê-lo porque
têm os seus próprios problemas domésticos, no caso a China com o Tibet e a
Rússia com a Chechênia. Uma Catalunha independente contra a vontade da Espanha
teria também dificuldade para a médio prazo integrar a União Europeia.
Historicamente formado de comerciantes e artesãos sem força militar expressiva,
os catalães foram facilmente dominados por exércitos invasores e o seu país
dominado como se fosse uma colônia. Nunca aceitaram a dominação, mantiveram-se
em rebelião e encaram a Espanha como uma força de ocupação acantonada em seu
território. Diante das manifestações de rua com a participação de milhares de
pessoas, são tratados pela polícia e reprimidos como cidadãos de um país ocupado.
Novos países
Outros casos assemelhados na Europa que se queixam da opressão que sofrem do
poder central são, por exemplo e entre outros, os do País Basco, também na
Espanha, a Córsega, na França, Flandres, na Bélgica. Língua e cultura próprias
não garantem autonomia. A História recente testemunhou dois momentos em que
surgiram novas nações independentes. Como resultado da I Guerra Mundial, o fim
dos impérios Austro-húngaro, Otomano e da Rússia czarista fez surgir novos
países no Centro e no Leste Europeu. Depois da II Guerra Mundial, novas nações
emergiram do processo de descolonização na África e no Médio Oriente.
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