quinta-feira, 20 de maio de 2021

Israel-Palestina | A falácia do 'direito à autodefesa' colonial

# Publicado em português do Brasil

Os poderes coloniais há muito exigem o "direito à autodefesa" contra as pessoas que colonizaram.

Patrick Gathara | Aljazzeera

A violência que convulsiona o Oriente Médio produziu imagens e estatísticas comoventes. Enquanto escrevo isto, pelo menos 160 pessoas , a grande maioria deles palestinos, incluindo pelo menos 41 crianças - a grande maioria palestinos - foram mortos enquanto os militares israelenses realizam bombardeios na densamente povoada Gaza e grupos armados palestinos lançam foguetes contra Cidades israelenses. Enquanto isso, a violência intercomunitária estourou em Israel.

Em resposta, os governos ocidentais, liderados pelo presidente dos EUA, Joe Biden, foram rápidos em condenar inequivocamente os grupos palestinos pelos foguetes, mas foram muito mais cautelosos ao condenar o ataque de Israel a civis palestinos.

Expressões mornas de “desânimo” e “grave preocupação” com as mortes palestinas foram intercaladas com declarações de “apoio inabalável à segurança de Israel e ao legítimo direito de Israel de se defender”. Eles também incluíram apelos por “clareza moral”, implicando que as ações de grupos palestinos, embora causassem uma pequena fração das mortes e da destruição que o bombardeio israelense causou, eram muito mais questionáveis.

Guterres: "Se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza"

Segundo a ONU, 60 crianças morreram nos combates que se iniciaram há 10 dias. "Os combates deixaram milhares de palestinianos sem casa e forçou mais de 50 mil pessoas a deixar as suas casas", lamenta o secretário-geral da ONU.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, considerou esta quinta-feira que "se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza" e criticou as violações às leis da guerra no conflito entre Israel e Palestina.

Em discurso perante a Assembleia Geral da ONU, onde decorre esta quinta-feira uma reunião plenária sobre o Médio Oriente, Guterres voltou a pedir a cessação imediata das hostilidades entre Israel e Palestina e declarou que "se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza", que vivem entre ataques e veem as suas casas destruídas.

Segundo a ONU, 60 crianças morreram nos combates que se iniciaram há 10 dias, num número total de mortos que se estima ser de 239, e dos quais 208 são palestinianos.

"Os combates deixaram milhares de palestinianos sem casa e forçou mais de 50 mil pessoas a deixar as suas casas e procurar abrigo em escolas, mesquitas e outros lugares da ONU com pouco acesso a água, comida, higiene ou serviços de saúde", lamentou o secretário-geral.

Portugal | Continuam a marcar-se os (pretos) com ferro quente

Paulo Baldaia | Diário de Notícias | opinião

Identificar uma pessoa como (preta) é racismo. O erro na notícia da Lusa, em que a deputada Romualda Fernandes é assim identificada, é o insulto não ter sido visto antes de chegar a todas as redações. Reparem, José Pedro Santos não viu o insulto e o insulto ganhou a dimensão de um escândalo, quer do ponto de vista jornalístico, quer do ponto de vista político. Esse é o erro que levou um jornalista sério a assumir a sua responsabilidade e a demitir-se das funções de editor de política. Em muitas páginas online da comunicação social o insulto foi amplificado, porque ninguém viu. É um erro mais comum do que seria desejável, porque tudo é feito a correr.

Se o editor tivesse visto e, em consequência, tivesse impedido a notícia de ser publicada com aquele insulto, o racismo existia na mesma, mas nós tínhamos sido poupados. Mais importante que qualquer um de nós, neste caso a deputada Romualda Fernandes teria sido poupada a um insulto, que magoa como ferro quente a entrar na carne. Ainda assim, esta hipótese só teria sido indiscutivelmente melhor se houvesse a certeza de que o racismo, na agência Lusa ou noutra empresa qualquer, manifestado desta forma, teria consequências. O problema é que a maior parte das vezes não tem. O racismo continua a marcar as vítimas, com o silêncio cúmplice dos não racistas.

Covid-19 hoje em Portugal: uma morte por covid-19 e 451 novos casos

Mais 346 recuperados em dia com menos mortos e casos de covid-19

Esta quinta-feira há uma morte por covid-19 e 451 novos casos de infeção. Mais 346 doentes conseguiram recuperar.

Desde o início da pandemia, em março de 2020, Portugal regista um total de 17.014 óbitos associados à covid-19 e 843.729 infeções por SARS CoV-2.

Nas últimas 24 horas há mais uma vítima mortal (na quarta-feira houve duas), reportada na região de Lisboa e Vale do Tejo - trata-se de uma mulher de 80 ou mais anos. Eleva-se assim para 7211 o total de óbitos nesta região do país, que apresenta o valor mais elevado a nível nacional.

Em relação aos 451 novos casos (511 na véspera), o Norte notificou 172 infeções, passando a somar um total 338.847 testes positivos à covid-19 desde março de 2020. Segue-se Lisboa e Vale do Tejo com 159 (318.707), o Centro com 59 (119.410), os Açores com 22 (5133), o Algarve com 18 (22.080), a Madeira com 11 (9538) e o Alentejo com dez (30.014).

Mais 346 doentes conseguiram recuperar da infeção, num total de 804.522, e há menos três internados - são agora 208, dos quais 58 em estado mais grave e a receber assistência em cuidados intensivos (mais dois).

Os casos ativos são 22.193 (mais 104) e há mais 207 contactos sob vigilância das autoridades de saúde, num total de 18.620.

Sandra Alves | Jornal de Notícias

Inferno e paraíso... Que paraíso? Se tudo isto é um inferno!

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O inferno é vizinho do paraíso

Jorge Araújo | Expresso

Um bebé gelado, quase afogado. Nas mãos de um polícia espanhol. Onde estará a mãe?

Viva ou morta? Será este bebé uma das muitas crianças que mães em desespero entregam nos braços da Europa?

Um bebé gelado.

A Europa há muito que deixou de ser um porto seguro.

Um bebé quase afogado.

As mães sabem que as crianças ficarão na Europa, mas elas serão provavelmente repatriadas.

Há mães que desafiam a morte, a morte dos próprios filhos, na esperança de lhes dar uma vida.

Quanto desespero caberá em tamanho naufrágio?

Quanto amor.

Eu sei que o que está a acontecer nas portas da Europa é muito mais do que isto. E que nem tudo é a preto e branco. Mas não consigo apagar aquela fotografia do pensamento. Às vezes, uma miragem de esperança vale mais do que a vida.

Ceuta | AI acusa Marrocos e UE de usar pessoas em "jogo político"

Amnistia Internacional também 'aponta o dedo' à União Europeia neste "jogo"

A Amnistia Internacional acusou hoje Marrocos e União Europeia (UE) de estarem a utilizar pessoas "como peões num jogo político", na sequência da chegada de milhares de migrantes marroquinos a Ceuta nos últimos dias.

"Marrocos está a brincar com as vidas das pessoas. Não podem utilizar pessoas, entre as quais os seus próprios cidadãos, como peões num jogo político", disse responsável pela Política Interna e investigadora da Amnistia Internacional Espanha, Virginia Álvarez, em comunicado divulgado durante a noite.

Contudo, a Amnistia Internacional também 'aponta o dedo' à União Europeia (UE) neste "jogo".

"Os líderes europeus foram rápidos a apoiar Espanha e a dizer que as fronteiras espanholas são fronteiras da UE. Pela mesma lógica, os abusos de Espanha são também abusos da União Europeia", criticou Virginia Álvarez.

Ministro suspende pena a polícia antirracista que chamou “aberração” a Ventura

“Decapitem estes racistas nauseabundos que não merecem a água que bebem”, escreveu Manuel Morais, em junho, na sua página do Facebook. Polícia esclarece que não falava “no verdadeiro sentido da palavra”

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, suspendeu a execução da pena aplicada ao agente da PSP Manuel Morais por ter chamado, no seu Facebook pessoal, “aberração” ao líder do partido Chega, André Ventura. O diretor nacional da PSP, Magina da Silva, tinha confirmado, em março, a suspensão de dez dias aplicada pelo núcleo de deontologia da Unidade Especial de Polícia. Morais recorreu ao ministro e verá agora o seu salário, referente aos 10 dias, ser reposto.

O ministro não anulou a pena, mas acabou por decidir pela suspensão da execução, dando “provimento parcial” ao recurso. A pena será eliminada do registo do agente ao fim de um ano sobre a sanção inicial e é tida em conta, se vier a ter outro processo.

O post de Manuel Morais foi feito de 14 para 15 de junho de 2020 e foi denunciado, de forma anónima, ao gabinete de imprensa da PSP. O agente escreveu que o deputado do Chega André Ventura era uma “aberração” e afirmou: “Decapitem estes racistas nauseabundos que não merecem a água que bebem.” A PSP considerou que o polícia antirracista violou “deveres funcionais”.

Segundo o jornal “Público”, Manuel Morais disse, na altura, que “em momento algum quis ofender ou decapitar alguém no verdadeiro sentido da palavra”, mas apenas “transmitir que é necessário decapitar as ideias racistas que prejudicam a sociedade em geral”. O agente acrescentou que “não se queria referir em concreto à pessoa André Ventura, mas sim a muitas ideias que o mesmo já expressou publicamente”.

Expresso

Para que raio serve a democracia?

Pedro Tadeu | Diário de Notícias | opinião

Em 1882, o vocábulo "pogrom" foi registado pela primeira vez em inglês para designar a violência anti-semita no Império Russo. De acordo com o professor Colin Tatz, entre 1881 e 1920 houve 1.326 pogroms só na Ucrânia, que mataram 70 mil a 250 mil judeus civis, deixando meio milhão de desalojados.

Essa violência racista, que estava disseminada por toda a Europa Oriental, gerou nessa época uma onda de migração judaica para o oeste, grande parte dela para os Estados Unidos da América, que totalizou cerca de 2,5 milhões de pessoas.

Mas no ocidente europeu as perseguições violentas aos judeus também eram frequentes.

Em França, no fecho do século XIX, houve manifestações com milhares de pessoas a gritar "morte aos judeus" na sequência do caso Dreyfus.

As agressões contra os judeus eram frequentes em regiões da atual Alemanha, Áustria e Hungria.

No Reino Unido o anti-semitismo é recorrente e chega aos nossos dias. Em 1904, na Irlanda , o boicote de Limerick, que excluia os judeus da vida económica, fez com que várias famílias judias deixassem a cidade. Durante o motim de Tredegar, em 1911 no País de Gales, casas e negócios de judeus foram saqueados e queimados. Na Palestina sob administração britânica, os judeus foram os alvos no massacre de Hebron em 1929 e do pogrom de 1929 em Safed.

E depois houve a II Guerra Mundial e o Holocausto de Hitler: 6 a 7 milhões de judeus assassinados, com setores populacionais de França e de vários países do Leste, entretanto ocupados pelos nazis, a ajudarem ao genocídio.

Este horror que descrevo é apenas uma pequena amostra da dimensão da perseguição euro-cristã-ocidental aos judeus nos últimos 150 anos e ignora milénios de massacres e perseguições anteriores, como as que aconteceram em Portugal.

Para acabar de vez com isto o jornalista Theodore Herzl, o inventor do sionismo político, propusera em 1896, num livro intitulado "O Estado Judaico", a fundação de uma "república aristocrática," governada por judeus e que se situasse fora da Europa. Para defender a localização desse Estado na Palestina, como veio a acontecer a partir de 1948, avançou, entre outros, com este argumento: essa zona seria "parte da muralha da Europa contra a Ásia... um posto avançado da cultura contra a barbárie".

O Estado de Israel dos nossos dias está a matar populações civis palestinianas, incluindo crianças, como, apesar das dificuldades em obter informação rigorosa, foi amplamente noticiado pelas agências noticiosas internacionais.

Esta resposta a um ataque com rockets feito pelo Hezbolah palestiniano é claramente desproporcionada e viola, sem desculpa, os direitos humanos de milhares de civis (a conta, por baixo, vai em 200 mortos e 60 mil desalojados em apenas nove dias).

O que está em curso é uma limpeza étnica na Cisjordânia e uma matança em Gaza. Não se chama pogrom, mas é, ironia trágica, algo bastante parecido.

O poder político na Europa tem na consciência o peso moral da perseguição milenar aos judeus, que culminou no Holocausto nazi, e de não conseguir, ainda hoje, eliminar dentro de portas o anti-semitismo. Mas tem também no raciocínio a lógica calculista de ver Israel como uma ponta de lança da sua própria expansão civilizacional, "da cultura contra a barbárie", como escreveu Herzl. Antigamente chamavam a esta arrogância de "imperialismo", hoje em dia dizem-nos que é "defesa da democracia".

E é em nome dessa visão corrompida e corruptora da "defesa da democracia" que os Estados Unidos da América lideram a hipocrisia diplomática que poupa Israel a pressões internacionais consequentes, isto depois de ter promovido a normalização das relações israelitas com belos exemplos de "democracia" como são a Arábia Saudita, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos, para além do Egito.

O apoio árabe aos "antidemocráticos" palestinianos é agora pueril e a miragem da coexistência pacífica de dois estados na Palestina desvanece-se em areia.

Quando leio gente supostamente humanista a defender que apesar dos "excessos" (que eufemismo cruel para uma chacina, caramba!...) há que escolher um lado entre Israel e palestinianos e esse lado tem de ser o da democracia e, por isso, é o lado de Israel, tenho de contrapor: se a democracia serve para legitimar crimes contra a humanidade, para que raio queremos a democracia?

Israel volta a bombardear Gaza durante a madrugada

O exército de Israel voltou a bombardear, durante a madrugada, vários objetivos do movimento islâmico Hamas na Faixa de Gaza, apesar das pressões internacionais no sentido do cessar-fogo.

De acordo com o exército israelita, entre os objetivos alcançados, foi destruído um local de produção e armazenamento de armas e que era usado pelas milícias palestinianas no lançamento de foguetes contra o território de Israel.

Várias residências de comandantes do Hamas foram também atingidas.

Por outro lado, os ataques israelitas voltaram a concentrar-se na rede de túneis de Gaza, conhecida como "Metro" e que segundo Israel é usada pelas milícias do Hamas para movimento de forças e transporte de armas em Gaza. 

A última ofensiva, ocorrida durante a noite, verificou-se após a insistência do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu nos ataques contra Gaza "até que se consiga recuperar a tranquilidade e a segurança".

Netanyahu disse que a campanha é uma ação de "dissuasão contundente" contra as milícias.

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