Segundo a ONU, 60 crianças morreram nos combates que se iniciaram há 10 dias. "Os combates deixaram milhares de palestinianos sem casa e forçou mais de 50 mil pessoas a deixar as suas casas", lamenta o secretário-geral da ONU.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, considerou esta quinta-feira que "se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza" e criticou as violações às leis da guerra no conflito entre Israel e Palestina.
Em discurso perante a Assembleia Geral da ONU, onde decorre esta quinta-feira uma reunião plenária sobre o Médio Oriente, Guterres voltou a pedir a cessação imediata das hostilidades entre Israel e Palestina e declarou que "se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza", que vivem entre ataques e veem as suas casas destruídas.
Segundo a ONU, 60 crianças morreram nos combates que se iniciaram há 10 dias, num número total de mortos que se estima ser de 239, e dos quais 208 são palestinianos.
"Os combates deixaram milhares de palestinianos sem casa e forçou mais de 50 mil pessoas a deixar as suas casas e procurar abrigo em escolas, mesquitas e outros lugares da ONU com pouco acesso a água, comida, higiene ou serviços de saúde", lamentou o secretário-geral.
António Guterres criticou de forma igual as duas partes em conflito - Israel e o movimento islâmico Hamas - por violações às leis da guerra e ao direito internacional humanitário.
"Até as guerras têm regras. Em primeiro lugar, os civis devem ser protegidos", declarou o português, apelando a Israel a permitir e facilitar o acesso de ajuda humanitária às vítimas em Gaza.
"Ataques indiscriminados e ataques contra civis e propriedades civis são violações das leis de guerra" e "o mesmo ocorre com os ataques contra alvos militares, que causam perdas desproporcionais de vidas civis e ferimentos a civis", avaliou.
O secretário-geral da ONU considerou que "não há justificação, incluindo contraterrorismo ou autodefesa, para a abdicação das obrigações sob o direito internacional humanitário".
Guterres exortou as autoridades israelitas a "exercer a máxima contenção na condução das operações militares", em particular a respeitar as leis sobre o "uso proporcional da força", e a parar com as demolições e evacuações dos territórios palestinianos ocupados, incluindo Jerusalém Oriental.
"Todas as atividades de assentamento, incluindo despejos e demolições, são ilegais segundo o direito internacional", lembrou Guterres.
Os recados ao movimento Hamas incluíram apelos para o fim do "lançamento indiscriminado de 'rockets' a partir de bairros altamente povoados para centros populacionais civis de Israel".
António Guterres voltou a defender a solução de dois Estados e pediu a retoma das negociações no conflito: pediu a "acabar com a ocupação e permitir a realização de uma solução de dois Estados com base nas linhas de 1967, resoluções da ONU, direito internacional e acordos mútuos, com Jerusalém como capital de Israel e Palestina".
O secretário-geral da ONU declarou estar a trabalhar para alocar recursos do Fundo Central de Resposta a Emergências (CERF, na sigla em inglês) e anunciou que o departamento da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) pretende doar 14 milhões de dólares (11,5 milhões de euros) aos territórios palestinianos ocupados.
Apesar de não ter tido contacto direto com as autoridades de Israel, segundo o porta-voz do secretário-geral, Guterres declarou estar a realizar "esforços diplomáticos extensivos na região", com o Egito, a Jordânia e o Qatar.
António Guterres declarou também que estes "eventos horríveis" devem ser vistos "no contexto de décadas de ocupação militar, impasse político, sofrimento, desespero e uma falha em abordar as questões centrais do conflito".
No passado domingo, numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o Médio Oriente, Guterres alertou para uma "crise descontrolada" humanitária e de segurança, com consequências extremas em toda a região.
O Conselho de Segurança, constituído por 15 Estados-membros, ainda não foi capaz de emitir uma declaração conjunta de condenação ou apelo às hostilidades, por vetos dos Estados Unidos da América, que se opuseram a várias tentativas.
Diário de Notícias | Lusa
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