quinta-feira, 20 de maio de 2021

Inferno e paraíso... Que paraíso? Se tudo isto é um inferno!

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O inferno é vizinho do paraíso

Jorge Araújo | Expresso

Um bebé gelado, quase afogado. Nas mãos de um polícia espanhol. Onde estará a mãe?

Viva ou morta? Será este bebé uma das muitas crianças que mães em desespero entregam nos braços da Europa?

Um bebé gelado.

A Europa há muito que deixou de ser um porto seguro.

Um bebé quase afogado.

As mães sabem que as crianças ficarão na Europa, mas elas serão provavelmente repatriadas.

Há mães que desafiam a morte, a morte dos próprios filhos, na esperança de lhes dar uma vida.

Quanto desespero caberá em tamanho naufrágio?

Quanto amor.

Eu sei que o que está a acontecer nas portas da Europa é muito mais do que isto. E que nem tudo é a preto e branco. Mas não consigo apagar aquela fotografia do pensamento. Às vezes, uma miragem de esperança vale mais do que a vida.

O inferno é vizinho do paraíso

OUTRAS NOTÍCIAS

Greve. A primeira vez depois da última vez é sempre especial. Sobretudo, quando se perdeu a conta de quando foi a última vez.

A pandemia congelou as nossas vidas. Suspendeu os nossos direitos.

De todos os direitos, o direito à greve é um dos mais importantes. Mesmo que não concordemos com todas as greves, não podemos discordar da necessidade da existência deste direito.

Não foi dado de mão beijada. Não deve ser considerado um direito adquirido.

Hoje, é dia de greve da função pública. A primeira desde a pandemia. No fundo, é um regresso a um passado recente.

Um certo ar de normalidade.

Com esta greve, a Frente Comum reivindica o aumento geral dos salários, a valorização das carreiras, a correção da tabela remuneratória única (TRU) e a revogação do sistema de avaliação do desempenho dos funcionários públicos.

A primeira greve em tempos de pandemia vai ter impacto nas escolas e na recolha de lixo. Mas, tendo em conta o contexto pandémico, deixa de fora o sector da saúde.

JUSTIÇA. Continuam as ondas de choque em torno do chamado “Caso Selminho”.

Já se sabe que o presidente da Câmara do Porto vai a julgamento. Agora, falta saber se tem condições políticas para avançar nas próximas autárquicas.

Rui Moreira diz que sim e já sabe que pode contar com o apoio do CDS. Quanto aos outros partidos, as opiniões divergem: PS e CDU não se querem meter ao barulho, Bloco de Esquerda censura a recandidatura.

Hoje, deverá ser conhecida a posição do PSD.

CORONAVÍRUS. Na passada sexta-feira, levei a tão desejada primeira dose da vacina contra a Covid-19.

Calhou-me a tão badalada AstraZeneca e, como a maioria dos vacinados com esta vacina, não tive qualquer efeito secundário. Receber a vacina e ver tanta gente a ser vacinada é rastilho para dias melhores.

A pouco e pouco, caminhamos para a tão desejada imunidade de grupo. Cada dia que passa, estamos mais perto de uma certa normalidade.

As contas são fáceis de fazer: 32% da população já recebeu a primeira dose de uma das vacinas. E o que é melhor: quase noventa por cento dos portugueses entre 65 e 79 anos já receberam uma dose.

Se ainda não recebeu qualquer vacina, o melhor é ler este artigo do Tiago Soares para saber o que o futuro lhe reserva.

SAGA. O presidente do conselho de administração do Novo Banco, António Ramalho, foi ontem ouvido na comissão de inquérito no parlamento.

A audição foi a mais longa de todas - somou oito horas e muitas pérolas. Para António Ramalho, “o aval do sr. Luís Filipe Vieira vale mais não executado do que executado”. E vai mais longe: “O verdadeiro valor é reputacional, uma vez que é presidente do Benfica.”

As jogadas não se ficam por aqui, mas passo a bola ao Diogo Cavaleiro e à Isabel Vicente que desta história sabem muito mais do que eu.

SUPREMO. Henrique Araújo venceu as eleições para o Supremo Tribunal de Justiça. O magistrado de 67 anos, cuja competência é reconhecida pelo seus pares, é também conhecido pelos seus dotes de guitarrista de rock.

Se quiser saber mais sobre o homem que ocupa o mais importante cargo da magistratura, leia o perfil deste gentleman de Arcos de Valdevez pela pena do Rui Gustavo

TAP. Mais uma má notícia para a Transportadora Aérea Nacional. O Tribunal de Justiça Europeu deu razão à Ryanair e chumbou a ajuda à Tap. Em causa está um apoio do estado de 1.2 mil milhões de Euros.

Apesar disso, António Costa já veio dizer que esta decisão “ é preliminar...e não tem consequência nenhuma”.

PRAIA. A primavera já cheira a verão. E sempre que o calor aperta todos os caminhos em Portugal vão dar ao mar. Apesar da época balnear só arrancar oficialmente a 29 de Maio, foram ontem anunciadas as novas regras de acesso às praias em tempos de Covid-19.

Atenção que as multas podem chegar aos 100 euros.

ÁLCOOL. Portugal está na linha da frente no consumo de álcool. Cada português consome anualmente doze litros de álcool. A média da dos países da OCDE é de dez litros.

A médio prazo, o consumo excesivo de álcool tem impacto na saúde e na esperança média de vida

FUTEBOL. Ontem, caiu o pano sobre a primeira liga de futebol. As contas do título e dos milhões da Champions já estavam feitas.

O Sporting foi quem deitou os foguetes ao quebrar um longo jejum.

E os cofres do Futebol Clube do Porto respiraram de alívio com o segundo lugar.

Para a última jornada da prova, o grande suspense era saber quem iria descer de divisão. A fava saiu ao Nacional da Madeira e ao Farense enquanto que o Rio Ave vai a playoff.

No domingo joga-se a final de Taça de Portugal entre Benfica e Braga. Depois, é o Euro onde a seleção vai defender o título conquistado em Paris.

Só depois o futebol vai de férias.

PRESIDÊNCIA PORTUGUESA UE

UE vai abrir fronteiras a quem já foi vacinado

A lista de países de onde são permitidas viagens para a UE será revista, com a flexibilização dos critérios da taxa de incidência do vírus utilizados e que é aumentada de 25 para 75 casos por 100 mil habitantes durante os últimos 14 dias.

“Os embaixadores da UE concordaram em atualizar a aprovação de viajar do exterior para a União Europeia e o Conselho recomenda que os Estados-membros aliviem algumas das restrições, nomeadamente para pessoas já completamente vacinadas", anunciou, ontem, o porta-voz para a Justiça, Christian Wigand.

Suspensão de patentes. O debate de ontem no Parlamento Europeu, no seguimento da proposta dos EUA em apoiar a suspensão de patentes da vacina contra a Covid-19, mostrou os eurodeputados divididos entre apoiar a medida ou considerar o levantamento temporário da propriedade intelectual um entrave à investigação científica.

A UE insiste que a solução passa pela partilha de vacinas e sublinha que já o fez com 75 milhões de doses e que vai intensificar o Covax no segundo semestre do ano. O vice-presidente executivo da Comissão anunciou que Bruxelas vai apresentar uma proposta à OMC para flexibilizar as licenças obrigatórias em contexto de pandemia.

O QUE EU ANDO A LER

Não é verdade que não se deve nunca regressar a um lugar onde se foi feliz. Nos últimos dias, regressei a um pequeno castelo de caça na Hungria e voltei a sentir a emoção da primeira vez.

Este pequeno castelo de caça na Hungria é o palco de um dos livros mais entusiamantes que li. Tem por título “ As velas ardem até ao fim” e foi escrito por Sándor Márai.

Li-o pela primeira vez nos finais dos anos noventa do século passado e foi amor à primeira leitura. Não vou desvendar o enredo da história para não estragar o efeito surpresa.

Aquando da sua publicação, o jornal El Correo escreveu : “Este belíssimo romance é uma reflexão sobre a amizade, a paixão e um mundo que não regressará jamais”.

Eu assino por baixo.

Sándor Márai suicidou-se em 1989, em San Diego, Califórnia, cidade que o acolheu quando atravessou a Cortina de Ferro. Mas a verdade é que um escritor que nos deixa um livro como "As velas ardem até ao fim", é imortal.

O QUE EU ANDO A OUVIR

A noite africana tinha um nome: Monte Cara. Nos anos 80, em Lisboa, todas as madrugadas iam dar à Rua do Sol ao Rato, morada do espaço criado por Bana, o reconhecido rei da música de Cabo Verde.

Com restaurante e discoteca, o Monte Cara fazia as delícias de quem ali acorria para matar saudades de África ou simplesmente ouvir boa música.

Rui Reininho, Rui Veloso e Vitorino faziam parte dos clientes da casa. Tito Paris, Toy VieiraPaulino Vieira e Lionel Almeida foram alguns dos músicos que tornaram mítico aquele palco. Que ali cresceram.

O Monte Cara de Lisboa tinha honras no mapa europeu da diáspora africana. Quase todos os voos de regresso a África partiam de Lisboa e eram muitos os que enganavam a escala, por entre mornas e coladeiras, na “casa” de Bana.

As portas do Monte Cara, que chegou a ser Enclave, fecharam há muito. Mas o espírito permanece vivo.

E é, por isso, que Alcides Nascimento, um dos filhos de Bana, lança agora o projeto Re:Imaginar Banda Monte Cara. Com o sonho de documentar o passado e dar ritmo ao futuro, foi lançada uma campanha de crowdfunding: https://ppl.pt/montecara#campanha

Tenha um resto de bom dia

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