segunda-feira, 31 de maio de 2021

Angola | Operação Caranguejo: João Lourenço exonera chefe da Casa de Segurança

Presidente de Angola exonera o chefe da Casa de Segurança na sequência do escândalo da chamada "Operação Caranguejo". Além do ministro Pedro Sebastião, João Lourenço já destituiu outros sete integrantes do órgão.

O Presidente angolano, João Lourenço, exonerou esta segunda-feiras (31.05) o chefe da sua Casa de Segurança e ministro de Estado, Pedro Sebastião, segundo uma nota divulgada à imprensa.

A medida ocorre uma semana depois de a justiça angolana anunciar a apreensão de vários milhões de dólares, euros e kwanzas no âmbito da chamada "Operação Caranguejo" - um processo de investigação a oficiais das Forças Armadas, suspeitos dos crimes de peculato,retenção de moeda, associação criminosa e outros.

Antes de Pedro Sebastião, o chefe do executivo angolano demitiu, na semana passada, outros sete elementos deste órgão. Entre os afastados estão o tenente-general José Manuel Felipe Fernandes, secretário-geral da Casa de Segurança, e o tenente-general João Francisco Cristóvão, diretor de gabinete do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança.

O tenente-general Paulo Maria Bravo da Costa, que era secretário para Logística e Infraestruturas da Casa de Segurança do Presidente da República, e o brigadeiro José Barroso Nicolau, antigo assistente principal da Secretaria para os Assuntos dos Órgãos de Inteligência e Segurança de Estado da Casa de Segurança do Presidente da República, foram também exonerados.

Angola | Polícia impede jornalista da DW de fazer reportagem no Huambo

Correspondente da DW em Angola, José Adalberto foi detido pela polícia do Huambo e impedido de concluir uma reportagem. Sindicato dos Jornalistas Angolanos "condena obstrução ao exercício da liberdade de imprensa".

Num comunicado de imprensa enviado às redações esta segunda-feira (31.05), o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) "condena a obstrução ao exercício da liberdade de imprensa" e refere que o jornalista José Adalberto foi "impedido de fazer a reportagem por agentes afetos à 3.ª Esquadra", no Huambo, no dia 29 de maio.

"José Adalberto foi conduzido até à esquadra quando reportava sobre o papel social das cantinas de cidadãos estrangeiros, na sequência de um telefonema de um suposto agente dos Serviços de Informação e Segurança”, lê-se no documento feito com base no relato do correspondente da DW em Angola.

A nota refere que o comandante provincial da Polícia Nacional no Huambo reconheceu que a detenção se tratou de "excesso de zelo", acabando por pedir desculpas ao correspondente da DW que foi libertado, apesar de impedido de concluir a reportagem. 

"O SJA manifesta-se preocupado com as reiteradas ‘incompreensões' dos agentes da Polícia Nacional sobre o trabalho dos jornalistas, e recorda que a liberdade de imprensa é um direito fundamental e que os jornalistas não carecem de autorização das autoridades para qualquer trabalho em lugares públicos, salvo as restrições impostas pela Constituição e à Lei de Imprensa", conclui a nota assinada por Teixeira Cândido, secretário-geral do SJA.

Deutsche Welle

A luta de classes é a maior das lutas e hoje o Lula sabe disso

Frei Chico* | AbrilAbril | opinião

Se informem. Lula é inocente. O Brasil é um país rico. E a maior luta é a luta de classes.

Todo o planeta tem bolsões de pobreza, todo o planeta tem famílias que estão na miséria absoluta, o que acontece por uma questão muito simples: pela não distribuição de renda.

Nós, família Silva, somos uma das milhares que nasceram em um dos bolsões da pobreza do Brasil. Somos do nordeste brasileiro, de Pernambuco. Nos anos 1950, migramos para São Paulo com o objetivo de sobreviver, ter água, comida e um emprego. Chegamos primeiro em Santos, onde eu e meus irmãos começamos a trabalhar. Vendíamos amendoins, coisas na barca, Itapema. Depois nos mudamos para a capital paulista, onde conseguimos emprego registrado e também fazer uma especialização, e assim nos tornamos metalúrgicos.

Eu, na vida de trabalhador operário, logo comecei a me interessar pelo movimento sindical, encontrando oportunidades de luta pelo direito à água, banheiro, a um salário digno. Importante dizer que lutávamos pelo que hoje os trabalhadores acham que é o básico, mas não era até há pouco tempo. Após o golpe de 1964, fui lutar nos sindicatos, principalmente em busca de conhecimento e informação sobre a luta dos trabalhadores pelo mundo.

Neste cenário, alguns anos depois, decidi convencer meu irmão, Luiz Inácio Lula da Silva, a participar da vida sindical. Alguns dizem que eu o levei para o movimento sindical, mas na verdade eu queria que ele, como trabalhador operário, entendesse o que era uma luta de classe, a exploração do homem pelo homem e enxergasse isso num plano global, de avanços, retrocessos e resistência que acontecia não só no Brasil. E não é necessário dizer que tínhamos uma grande censura nesta época, as informações que recebíamos eram de forma clandestina, principalmente do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, onde eu fui militar pouco tempo depois.

Portugal | À espera do Diabo

Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

O conclave que esta semana juntou representantes da quase totalidade das subfamílias da Direita e da extrema-direita tem sido analisado, em vários quadrantes, de forma algo ligeira a partir de um facto incontestado: ali não se discutiram ideias que respondam aos grandes problemas com que se debate a economia e a sociedade portuguesas.

Todavia, puderam observar-se factos que merecem reflexão, não pelo impacto imediato que têm, mas sim pelos quadros perigosos que podem perspetivar.

Uns séculos atrás, num dos contextos políticos mais críticos que Portugal viveu ao longo da sua história, teve força a crença no miraculoso regresso de D. Sebastião. Como Deus não se mete nestas coisas jamais tivemos o Desejado, mas como obra do Diabo talvez a coisa possa acontecer. Neste encontro não faltou um candidato a desejado e não deixou de pairar na sala forte vontade de uma intervenção do mafarrico, que o faça regressar numa manhã de nevoeiro.

Realço cinco factos que nos evidenciam a situação política atual como mais complexa e difícil que aquela que tínhamos em 2015: i) na Direita tradicional uma parte está mais aberta à extrema-direita e outra já a integrou em dinâmicas partilhadas; ii) a evolução da situação política da União Europeia (UE) reforça este processo, e a União tem hoje problemas maiores que tinha naquela altura; iii) à Esquerda existe menos motivação e são menores as predisposições para compromissos entre as suas diferentes componentes; iv) os condicionalismos sociais, económicos, financeiros e orçamentais com que o país se depara são mais pesados; v) em 2015 iniciava-se uma nova governação com objetivos e metas programáticas para uma legislatura (mesmo que posteriormente se tenham mostrado insuficientes), o que criava dinâmica, quando hoje temos um Governo bastante desgastado, com vários membros a confirmarem o princípio de Peter e a confundirem governação com gestão de agendas do dia.

Quem conclui que a Direita não tem programa ou que "a realidade lhe retirou o programa" pode estar a laborar em dois erros convergentes. Primeiro, é mais que evidente a fidelidade programática da Direita às políticas de austeridade impostas na crise anterior e a sua predisposição para uma ofensiva contra os direitos e liberdades democráticas e contra o Estado na sua função de garante dos direitos sociais fundamentais: não o podem expor por agora porque os impactos da pandemia ainda estão muito vivos nas pessoas e mostraram a violência e a injustiça dessas políticas. Segundo, esta evidência pode evaporar-se rapidamente perante a inexistência de respostas do Governo nos planos do trabalho, do emprego, das políticas económicas e sociais, ou face a inversões de sentido súbitas por parte da UE, ou ainda, se houver um acentuar de desentendimentos à Esquerda.

Quase todas as análises concluem que o vazio de propostas que o encontro da Direita e da extrema-direita mostrou se consubstancia numa vitória de António Costa. Poderá ser, desde que o primeiro-ministro não se entregue ao papel de lebre na fábula de Esopo "A lebre e a tartaruga" e tome a sério a possibilidade de surgir uma intervenção do príncipe das trevas.

É indispensável que António Costa coloque o foco de toda a sua capacidade de análise e ação nas respostas aos problemas dos portugueses e não se deixe atrair demasiado por taticismos de gestão política.

*Investigador e professor universitário

Portugal | Depois das baldas ao rei futebol… Cá se fazem, cá se pagam

Falam em dois pesos e duas medidas acerca da quebra das medidas restritivas para o rei futebol e as balbúrdias passíveis de contágios covid-19 que proporcionou. Medidas restritivas com travão no futebol português (e noutras modalidades). Esquecem-se que “eles” fizeram contas ao dinheirinho que os “turistas bifes” deixam por cá? Esquecem-se que a UEFA e a FIFA são estados dentro de Estados? Oh, que falta de memória!

Afinal vale tudo. E nessa dos dois pesos e duas medidas, qualquer governo, qualquer entidade neste burgo à beira-mar plantado, usa essa prerrogativa. A sociedade está assim estruturada globalmente no mundo cada vez mais na antecâmara do fascismo a que chamam ocidente e neoliberalismo. Porque Portugal devia ser diferente se tem eleitores formatados, cobardes, que temem revolucionar o sistema caduco em que tão mal sobrevivemos?

Se acaso os índices de covid-19 aumentarem devido às manifestações futebolísticas - Festa do Sporting e Final UEFA | fica uma vez mais provado que cá se fazem cá se pagam, assim como paga o justo pelo pecador.

O Expresso Curto, a seguir. Continue a ler.

PG

O Ocidente quer que a Bielo-Rússia se torne mais dependente da Rússia?

# Publicado em português do Brasil

AndrewKorybko* | OneWord

A campanha de pressão coordenada do Ocidente contra a Bielo-Rússia na sequência do incidente da Ryanair na semana passada sugere quase de forma contra-intuitiva que deseja que o país do Leste Europeu se torne mais dependente da Rússia, apesar de um ano de fomento do medo sobre este cenário, que pode realmente ser silenciosamente desejado neste particular ponto no tempo devido às esperanças de que poderia provocar outra rodada de agitação da Revolução Colorida.

Independentemente de se acreditar na narrativa predominante, implicando que a Bielorrússia encenou um susto de bomba a fim de prender um extremista a bordo de um voo em trânsito no espaço aéreo do país ou talvez tenha sido armado como parte de uma bandeira falsa ocidental (e / ou possivelmente ucraniana) para Para justificar uma próxima série de escaladas pré-planejadas contra ele, não há como negar que os adversários estrangeiros do presidente Lukashenko tentaram explorar esse escândalo ao extremo. De cortar suas companhias aéreas do espaço aéreo europeu à imposição de outra rodada de sanções específicas, o efeito final é que a Bielo-Rússia não terá para onde ir para obter alívio tão necessário dessa pressão recém-descoberta do que abraçar a Rússiaainda mais do que antes. Foi precisamente este cenário que o Ocidente temeroso espalhado por um ano já, mas quase contra-intuitivamente parece que agora eles querem que se materialize neste momento específico, talvez para provocar outra rodada de agitação da Revolução da Cor (colorida).

Para o crédito dos serviços de segurança bielorrussos, eles conseguiram restaurar a ordem no país, apesar de vários meses em que o resultado da campanha de mudança de regime apoiada por estrangeiros era incerto. A situação está amplamente sob controle, mas como qualquer observador de tais tramas já deve estar ciente, isso não significa que tudo permanecerá igual para sempre. As revoluções coloridas nunca morrem de verdade, elas simplesmente permanecem adormecidas até que outra oportunidade surja naturalmente ou seja fabricada. Esse parece ser o caso na Bielo-Rússia agora, onde o esperado aumento dos laços abrangentes do país com a Rússia em resposta à última campanha de pressão ocidental pode ser aproveitado para justificar uma nova rodada de agitação impulsionada por um sentimento nacionalista artificialmente exacerbado. Depois de tudo.

Pirataria Aérea Patrocinada pelo Estado ou Preocupações com a Segurança Nacional?

Houve erupções vulcânicas de indignação e condenação de Estados americanos e europeus depois que a Bielo-Rússia forçou um avião comercial a pousar para prender um ativista da oposição procurado. 

De alguma forma, foi esquecido que Washington comanda a pirataria aérea global com a cumplicidade total e silenciosa dos governos europeus. Se os europeus expressassem oposição a essa pirataria global, talvez tivessem um pouco de autoridade moral para comentar o incidente na Bielorrússia.

Fonte: Infográficos Estratégicos | Strategic Culture Foundation© Foto: SCF

EUA | Massacre racista nos EUA há cem anos é memória de uma sobrevivente

"Ainda vejo corpos negros deitados no chão." A ferida do Massacre de Tulsa não sarou

Viola, conhecida como Mother Fletcher, nunca mais esqueceu o pesadelo

Foi com um século de atraso que se ouviu em Washington a voz de Viola Fletcher, a sobrevivente mais velha do massacre de Tulsa. Tudo começou depois de Dick Rowland, de 19 anos, ter sido acusado de agredir Sarah Page. Uma notícia mal contada precipitou uma multidão branca de armas em punho que espalhou a morte na zona mais próspera de Tulsa, conhecida como "Wall Street Negra", uma referência de sucesso para as comunidades negras de então.

Viola, conhecida como Mother Fletcher, nunca mais esqueceu o pesadelo. Tinha ido dormir há pouco: "Na noite do massacre eu fui acordada pela minha família. Os meus pais e os meus cinco irmãos estavam lá, disseram-me que tínhamos de partir."

Hoje, Viola Fletcher tem 107 anos, mas o massacre continua vivo na memória: "Não vou esquecer nunca a violência da multidão branca quando deixámos a nossa casa. Ainda vejo homens de pele negra a serem mortos a tiro, ainda vejo corpos negros deitados no chão. Ainda sinto o cheiro a fumo, ainda vejo as lojas e os negócios dos negros a serem queimados. Ainda ouço os aviões a passarem por cima das nossas cabeças. Eu ouço os gritos. Eu tenho vivido com o massacre dia após dia".

"Durante a maior parte da minha vida fui uma empregada doméstica ao serviço de famílias brancas. Nunca fiz muito dinheiro e até hoje mal consigo suportar as minhas necessidades diárias. Penso no terror, no horror que é infligido neste país todos os dias às pessoas negras", remata.

TSF

Imagens: 1 - Viola Fletcher, a mais velha sobrevivente do massacre de Tulsa // © AFP; 2 - Manchete de jornal da época e criança que transporta irmão morto pelos racistas.

LER MAIS EM WIKIPÉDIA

Mais lidas da semana