segunda-feira, 31 de maio de 2021

Portugal | Depois das baldas ao rei futebol… Cá se fazem, cá se pagam

Falam em dois pesos e duas medidas acerca da quebra das medidas restritivas para o rei futebol e as balbúrdias passíveis de contágios covid-19 que proporcionou. Medidas restritivas com travão no futebol português (e noutras modalidades). Esquecem-se que “eles” fizeram contas ao dinheirinho que os “turistas bifes” deixam por cá? Esquecem-se que a UEFA e a FIFA são estados dentro de Estados? Oh, que falta de memória!

Afinal vale tudo. E nessa dos dois pesos e duas medidas, qualquer governo, qualquer entidade neste burgo à beira-mar plantado, usa essa prerrogativa. A sociedade está assim estruturada globalmente no mundo cada vez mais na antecâmara do fascismo a que chamam ocidente e neoliberalismo. Porque Portugal devia ser diferente se tem eleitores formatados, cobardes, que temem revolucionar o sistema caduco em que tão mal sobrevivemos?

Se acaso os índices de covid-19 aumentarem devido às manifestações futebolísticas - Festa do Sporting e Final UEFA | fica uma vez mais provado que cá se fazem cá se pagam, assim como paga o justo pelo pecador.

O Expresso Curto, a seguir. Continue a ler.

PG


Bom dia este é o seu Expresso Curto 

Santos em casa depois dos Champions na rua?

Cristina Peres | Expresso

Vêm aí os Santos Populares e, a haver dois pesos e duas medidas, vai ficar difícil fazer cumprir as medidas de segurança anti-covid-19 depois de milhares de adeptos ingleses as terem desrespeitado este fim de semana no Porto, no final da Liga dos Campeões. Sem máscara, sem distanciamento e com muito álcool, entregaram-se ao seu desporto favorito: escaramuças, violência e envolvimento com as forças de segurança. Além da situação epidemiológica - se a estirpe indiana que grassa no Reino Unido é mais transmissível, etc - “os especialistas alertam para a exceção e mau exemplo: torna-se difícil dizer às pessoas para terem um comportamento condizente com o cumprimento das regras”.

“Não há coerência nos critérios”, diz Marques Mendes, acusando o Governo de “desorientação total”, as autoridades da saúde apelam a quem tenha estado perto dos festejos para que “reduza os contactos nos próximos 14 dias”, Marcelo criticou o Governo, Pinto da Costa convidou o primeiro-ministro a demitir-se, Francisco Rodrigues dos Santos pede a demissão de Eduardo Cabrita, Rui Rio diz que “o Governo e a Câmara Municipal do Porto deveriam pedir desculpa aos portugueses”… A bolha de segurança prometida pelo Executivo não aconteceu e o jornal i traz hoje em manchete “Santos Populares à moda do futebol - agentes assistiram a tudo e não intervieram por ordens superiores”.

Há especialistas preocupados com “a corrosão da autoridade do Estado” e parece que não vai ser tão fácil fazer cumprir regras daqui para a frente.

Não é por acaso que as súmulas de notícias de hoje no Reino Unido arranquem com o perigo de o país ser obrigado a manter algumas das medidas de contenção além de 21 de junho dado o perigo de aí vir uma terceira vaga.

OUTRAS NOTÍCIAS

“Limpar o país”, responsabilizar a extrema-esquerda pelo que fez e governar: o Chega quer deixar de ser um partido de protesto e quer governar. Foi o que disse André Ventura nas suas três intervenções no congresso do partido que ontem encerrou. “Antes de governarmos o país temos de nos governar a nós próprios”, disse. De Itália veio Salvini, de Israel, o partido de Netanyahu, a ausência do PSD e da Iniciativa Liberal no Congresso de Ventura foi notada.

O DN destaca na manchete de hoje da entrevista a Tom Gallagher (autor da segunda biografia de Salazar) “Os políticos temem um renascimento do interesse por Salazar”.

A cumplicidade da Dinamarca no escândalo de espionagem a políticos alemães (que incluiu a chanceler Angela Merkel) acaba de ser revelada por uma investigação jornalística de vários países europeus. As revelações surgem antes de Joe Biden se deslocar pela primeira vez à Europa em meados de junho para as cimeiras G7, NATO e UE-EUA. Vai ser um tanto estranho, já que Biden era o vice de Barack Obama, o PR sob o qual a espionagem decorreu. Mas vai ser assunto, garante o politico.eu.

Emmanuel Macron declarou ontem numa entrevista que França poderia retirar as tropas do Mali se o país seguisse “na direção” do islamismo radical. A declaração foi feita depois de aquele país da África Ocidental ter sofrido um segundo golpe de Estado no espaço de nove meses. A Opération Barkhane, que combate os grupos radicais islamistas no Sahel, tem 5.100 militares franceses no terreno distribuídos pelo Chade, Burkina Faso, Mali, Mauritânia e Níger. O “golpe inaceitável” foi ordenado pelo coronel Assim Goita, entretanto aprovado pelo tribunal constitucional como Presidente do governo de transição, e resultou na prisão do Presidente Bad Ndaw e do primeiro-ministro Moctar Ouane.

Presidente francês deixou uma mensagem clara aos líderes da África Ocidental dizendo que não ficaria “do lado de um país onde já não há qualquer legitimidade democrática ou de transição”. Aqueles reuniram-se no domingo na capital do Gana, Acra, para discutir a crise no Mali e continuar a pressão no sentido de uma transição democrática.

Nós somos oito mil histórias, o Expresso em Ceuta.

Contra a permanência de Benjamin Netanyahu 12 anos seguidos no poder, Naftali Bennett, de extrema-direita, e o líder da oposição ultranacionalista, Yair Lapid, estão a negociar formar uma coligação multipartidária que reponha Israel “no seu caminho”.

Partido cipriota ligado aos neo-nazis gregos da Golden Dawn duplica percentagem nas eleições parlamentares deste domingo levando entre 5% e 7% dos votos.

Enormes manifestações enchem as ruas de mais de 200 cidades em todo o Brasil para exigir a saída do Presidente Jair Bolsonaro. Foto-galeria da Al-Jazeera.

Há bairros-fantasma por toda a Angola, normalmente construções novas que não foram concluídas, e que assim frustram jovens à procura de habitação e ficam à mercê de atos de vandalismo. É o caso de dezenas de apartamentos na Centralidade (bairro) do Luongo, município de Catumbela, província de Benguela. Acresce um falso alarme dado por funcionários do governo provincial, que fez acorrer uma centena de pessoas a candidatar-se a uma casa nova e acabou com a investigação e detenção de pelo menos sete funcionários, como apurou o “Novo Jornal”.

Covid-19. Ontem foi o segundo dia consecutivo sem mortes por coronavírus, porém aumentou o número de novas infeções e de internamentos.

A subida da venda de armas nos Estados Unidos não tem precedentes. Não tem graça, apesar de parecer uma anedota, esta igreja que reza com armas de alto calibre ao ombro acaba de comprar uma grande propriedade no Texas para os seus “patriotas”. Uma história da Vice.

Ave gigante que conviveu com os últimos dinossauros da Península Ibérica foi descoberta nos Pirinéus. Em versão fóssil.

Mais de uma geração vai reagir à morte do dono da voz que globalizou a canção “Raindrops Keep fallin’ on my Head”, B.J. Thomas; e ao desaparecimento de Gavin McLeod, mais conhecido como o capitão da série “O Barco do Amor”. Era cedo para o piloto luso-suíço, Jason Dupasquier, partir em consequência de um acidente no Grande Prémio de Itália em Moto3. Tinha 19 anos.

Tragédia e dignidade: Rio Ave e Tarantini.

Presidência portuguesa UE

O Presidente da República começou ontem uma visita oficial de três dias à Eslovénia, que sucederá a Portugal na presidência do Conselho da UE, e onde se reuniu com os chefes de Estado e de Governo locais. Marcelo Rebelo de Sousa é o primeiro chefe de Estado português a visitar o país desde Jorge Sampaio, em abril de 1999.

"O segredo desta presidência [portuguesa] tem sido a procura da estabilidade, a procura da unidade no poder político, a coabitação política entre o Presidente da República, o Governo e o Parlamento, a capacidade de colocar a União Europeia, a unidade política perante as questões europeias, acima de divergências pessoais ou partidárias", sublinhou Marcelo, durante a conferência de imprensa conjunta com o Presidente esloveno, Borut Pahor, e alemão, Frank-Walter Steinmeier.

FRASES

“Nunca vimos nada igual”, Operacional da polícia de choque, ao jornal i a propósito do comportamento dos adeptos na final dos Champions no Porto

“Vou reunir-me com o Presidente Putin dentro de semanas em Genebra e deixarei claro que não ficaremos parados a deixá-lo abusar desses direitos [direitos humanos]”, Joe Biden, Presidente dos EUA referindo-se às violações de direitos humanos na Rússia

“Há limites de decência e de bom senso”, Comunicado do PSD referindo declarações de André Ventura, justificando a sua ausência do congresso do Chega

O QUE ANDO A LER

Em 2008 passei três meses no Ruanda. O país mais pequeno da região dos Grandes Lagos investia então considerável energia numa espécie de corrida de fundo para longe dos horrores de 14 anos antes. 1994 foi o ano em que três meses bastaram para assassinar perto de um milhão de pessoas. Tutsis à frente, hutus moderados pelo caminho. Ainda que demasiado tarde, os holofotes da chamada “comunidade internacional” foram obrigados a focar neste ponto do mapa, que faz fronteira a ocidente com a gigantesca República Democrática do Congo mesmo, mesmo na faixa de exploração de coltan (columbita e tantalita) indispensável ao hardware das tecnologias de informação, e de outros minérios preciosos. Demasiado tarde. A culpa transformou-se num luto de difícil digestão, escreveu-se de forma apressada sobre as “questões lá deles” ignorando que ser tutsi (criadores de gado) ou hutu (agricultores) - há ainda os twa, que não ficaram famosos - é uma condição social e não étnica (o tipo físico que os diferencia deve-se à alimentação).

A má consciência internacional levou as Nações Unidas a reagir às atrocidades da década de 1990 - Balcãs e Ruanda - criando a Prevenção de Genocídio e Responsabilidade de Proteger, e Paul Kagame, líder da Frente Patriótica do Ruanda (RPF na sigla inglesa, atualmente o partido no poder), de líder do exército libertador em 1994 tornou-se no Presidente eterno com justificação constitucional alterada à medida de lhe permitir lá permanecer até 2034. Da sua biografia, porém, foram desaparecendo factos. Desapareceram também os nomes e a importância histórica de outros militares igualmente responsáveis pelo fim da guerra civil, entretanto caídos ou feitos desaparecer.

Em 2008 conheci pessoas que assistiram ao assassínio dos seus familiares. Conheci uma mulher que só conseguiu voltar a falar anos depois. Muitas vezes me cruzei com filas de dezenas de prisioneiros a caminho dos trabalhos comunitários diários que faziam parte das penas que cumpriam. Assisti de longe aos julgamentos que ainda decorriam ao ar livre no estádio de Kibuye. Mais de uma vez me gritaram, furiosos, na rua e fui protegida por ruandeses que compreendiam as invectivas. Tudo isto pressupõe uma terra cheia dos silêncios e terrores que surgem agora magistralmente escrutinados por Michela Wrong, uma jornalista americana que passou 20 anos a cobrir a África oriental, ocidental e central e reuniu tudo o que aprendeu e os testemunhos que recolheu em “Do Not Disturb - The Story of a Political Murder and an African Regime Gone Bad” (4th Estate - London).

Em 2014, escrevi no Expresso sobre o assassínio de Patrick Karegeya na África do Sul. Ele era o ex-chefe de informação do RPF, uma das figuras de proa daquela parte da história do Ruanda, que entrou em rota de colisão com o chefe que venceu, Paul Kagame. Wrong entrevistou Karegeya várias vezes e este livro, que contém revelações frescas sobre os métodos de Kagame, centra-se no seu assassínio, o longo braço da repressão transnacional ruandesa.

Por hoje é tudo, desejos de uma ótima semana. Fique connosco em expresso.pt

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