# Publicado em português do Brasil
Ariela Ruiz Caro* | Carta Maior
Dois recentes eventos fizeram
renovar a esperança de uma retomada na cooperação latino-americana e caribenha
tão negligenciada nos últimos cinco anos: o discurso de Andrés Manuel López
Obrador (AMLO) no encontro dos Ministros do Exterior da Comunidade dos Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e o de Héctor Béjar em sua posse como
chanceler em Lima, apontando para uma reviravolta na política externa do Peru.
Os dois expressaram rejeição a bloqueios e embargos impostos a países da
região, respeito aos princípios de não-intervenção e de autodeterminação dos
povos e defenderam o uso das plataformas de integração como órgãos de
coordenação política em diversos campos. Especificamente, eles apontaram para o
fato de a América Latina, ao contrário de outras regiões, não ter
definidodiretrizes de políticas públicas comuns nem coordenado compras
conjuntas de vacinas para combater a pandemia de COVID-19 por meio de
existentes mecanismos de cooperação regional.
Já vários países do Sudeste Asiático, a União Africana (UA) – formada por 56
nações com diferentes tendências ideológicas – e a União Europeia buscaram
conjuntamente comprar vacinas e estabeleceram protocolos de saúde comuns. A UA
foi além e assumiu posição unânime em apoio à proposta da Índia e da África do
Sul de suspensão temporária de patentes de vacina contra a COVID-19 até que
fosse feita uma oferta para se providenciar as vacinas para toda a população
dentro dos marcos do fórum do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIP, sigla em inglês), da Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Nos últimos dois anos, a América Latina e o Caribe expuseram sua
desintegração:seus governos deixaram a Unasul desmoronar; o candidato do
ex-presidente Trump, o americano Mauricio Claver-Carone, ser apontado para a
presidência do BID; a OEA ser cúmplice de um golpe de Estado na Bolívia; para
não mencionar as atuais tensões dentro do Mercosul.Entretanto, surge alguma
esperançaacenada pelo presidente do México, pela mudança na política externa do
recém-eleito presidente peruano, Pedro Castillo, e pela possibilidade de
ascensão de novos governos esquerdistas que poderiam definir um novo cenário de
cooperação e formação de consenso na região.