A PAZ DO NÃO ALINHAMENTO E A PAZ DO ALINHAMENTO NEOLIBERAL, UM SÉRIO BALANÇO POR FAZER!
ESTE TEXTO FOI ELABORADO COMO UMA CONTRIBUIÇÃO ASSINALANDO O 46º ANIVERSÁRIO DOS SERVIÇOS DE SEGURANÇA E INTELIGÊNCIA DE ANGOLA (29 DE NOVEMBRO) E EXORTANDO À CONTINUAÇÃO DOS TRABALHOS DA COMISSÃO DE HISTÓRIA NO ÂMBITO DE TODA A COMUNIDADE, HONRANDO O PASSADO, A MEMÓRIA E OS ENSINAMENTOS DO CAMARADA PRESIDENTE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO E COM ISSO HONRANDO SEU PENSAMENTO E ACÇÃO GEOESTRATÉGICA NA LONGA LUTA PELA BUSCA DE PAZ EM ANGOLA, E NAS REGIÕES CENTRAIS E AUSTRAIS DE ÁFRICA!
A paz do Não Alinhamento activo foi impulsionada pelo Presidente António Agostinho Neto, de meados de 1976 até à sua morte a 10 de Setembro de 1979, enquanto ele pôde fazer dessa luta uma das “pedras de toque” do seu pensamento geoestratégico, até ao último suspiro!...
… O ousado projecto que foi insuficientemente abordado pelo camarada Iko Carreira por razões inerentes à doença que o atingiu e ao paulatino afastamento a que foi votado, escapava à bipolaridade engendrada pelo império na sua dilecta “Guerra Fria” que tinha África como um dos campos de manobra e domínio!...
… A paz neoliberal em função das transformações globais, foi impulsionada sem alternativa por quem o seguiu, fundamentalmente em função do Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991 e começou por ser uma paz moldada na agenciada via da terapia neoliberal, no seguimento dum choque manipulado pela aristocracia financeira mundial e o “hegemon” unipolar que na década de 90 do século XX e primeira década do século XXI, esteve sob seu inteiro domínio!...
Balancear esses dois parâmetros tão distintos, é fazer a avaliação que toda a África precisa, se alguma vez pretender seguir a trilha libertária da lógica com sentido de vida, ou se alguma vez pretender tratar com lucidez, coerência e vontade própria o seu próprio e inadiável renascimento!
De facto o socialismo em África pouca oportunidade teve para a paz e enquanto houve de algum modo luta armada, os seus princípios, doutrinas, ideologias e prática serviram a contento!
01- A luta pela paz Não-Alinhada protagonizada pelo pensamento e obra geoestratégica do camarada Presidente António Agostinho Neto deu seguimento imediato à retomada das fronteiras que se havia seguido à Proclamação da Independência que fez surgir a República Popular de Angola.
A ruptura era essencialmente com
o colonialismo português pelo que, sem esquecer os outros contraditórios, muito
pelo contrário tendo-os bem presentes, tendo em conta as jornadas épicas do
MPLA que antecederam os anos antes da Proclamação e o próprio ambiente do 11 de
Novembro de
Não era algo novo, pois durante todo o período da guerrilha o MPLA muitas vezes tentou corresponder a uma frente comum com a FNLA, algo que se foi protelando indefinidamente, mas era oportuno tentar uma vez mais quando a responsabilidade acabava por ser assumido perante todo o povo angolano!
A Proclamação foi pois a 11 de Novembro de 1975 e durante todo o Iº semestre de 1976 o esforço foi vocacionado para a retomada das fronteiras, abarcando todo o território nacional, ao mesmo tempo que as primeiras medidas abrangentes do novo estado eram introduzidas.
Entre os estados Não-Alinhados, a República Popular de Angola inspirou-se particularmente na República Popular do Congo e ponto de também o MPLA se transformar em Partido de Trabalho, a 10 de Dezembro de 1977, durante o seu Iº Congresso.
As bases de pendor socialista que mais serviram de retaguarda ao MPLA em ruptura com o colonialismo português e o “apartheid” (desde logo no âmbito do Exercício Alcora que começou a ser instalado por via da presença da South Africa Defence Forces no sudeste de Angola em 1968 e a vigorar por inteiro entre 14 de Outubro de 1970 e 25 de Abril de 1974), foram a República Popular do Congo e a República Unida da Tanzânia.
A República Popular do Congo esteve em vigor entre 1969 e 1991 e só se veio a extinguir em 1991, quando os impactos neoliberais determinaram em África a instauração das “democracias representativas” multipartidárias.
Enquanto vigorou a RPC, o Partido Congolês do Trabalho tal como na RPA, foi o único partido e as relações entre os líderes, o camarada Presidente Marien N’Gouabi e o camarada Presidente António Agostinho Neto foram sempre muito estreitas e profícuas, desde logo na luta pela paz ns regiões Central e Austral de África!
Em relação à Tanzânia também haviam excelentes relações entre o camarada Presidente António Agostinho Neto e o Presidente Julius Nyerere, pelo que durante a guerrilha o MPLA se pôde ir apercebendo, desde quando a sua sede provisória passou para Dar es Salam, dos outros focos de luta na África Austral e Central, pois a capital tanzaniana era uma obrigatória rectaguarda para a maioria das organizações rebeldes de então.
A paz em vista era uma paz animada de princípios éticos, morais e ideológicos, inerentes ao pronunciamento socialista, marxista-leninista, mas não pondo de lado a experiência acumulada, evidenciava-se pelo seu pendor organizativo, pela sua disciplina, pelo seu rigor e pelos horizontes que despontavam a curto, médio, longo e muito longos prazos!
Desse modo procurava-se aglutinar o máximo de forças num espírito e argumento de luta incessante pela unidade, coesão e identidade nacional na base do patriotismo e respeitando sempre a antropologia e a história.
Era portanto uma paz que priorizava o trabalho de massas tendo como classes fundamentais o operariado e o campesinato de modo a, em função delas, tornar-se abrangente a toda a sociedade, com os intelectuais revolucionários a terem um papel patriótico no sentido de fazer fermentar a aliança operário-camponesa inspiradora da aliança cívico-militar que permitia a resistência.
Era por fim uma paz que buscava a harmonia do relacionamento do homem com a natureza (com o ambiente), colocando a água como um factor de segurança vital no âmbito da lógica com sentido de vida que animou sempre a Libertação do continente quer do colonialismo como do “apartheid”!
Por essa razão a pedagogia era uma constante obrigação cívico-militar totalmente aberta à aprendizagem perseguindo uma trilha materialista-dialética proactiva apta à investigação e à ciência, a fim de catapultar o conhecimento.
Nessa paz combatiam-se necessariamente as divisões, fossem elas as de carácter etno-nacionalista, fossem as regionais, ou as raciais, pelo que a sociedade era vista e sentida como um todo, jamais permitindo a divisão entre o que era “civil” do que era “militar”; o termo “sociedade civil” era desconhecido por que a aliança cívico-militar urgia para fazer face ao “apartheid” e seus agentes…
A exigência e a responsabilidade cívico-militar foi colocada à prova nessa luta pela paz: ao mesmo tempo que o pensamento geoestratégico do Presidente António Agostinho Neto proclamou a luta popular generalizada para fazer face ao espectro do “apartheid” reaproveitando os enlaces propiciados pelo Exercício Alcora, ele próprio se encarregou de romper caminho para acabar com os tiros nas fronteiras e em todo o espaço nacional, o que implicou a mobilização dos instrumentos do poder de estado da República Popular de Angola.
A paz resultante dos impactos neoliberais que iria surgir após o Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991 e com o choque pelo meio até 2002, se não “floresceu” nos antípodas andou lá por perto!...