quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A PAZ E A SUBVERSÃO DA PAZ!


A PAZ DO NÃO ALINHAMENTO E A PAZ DO ALINHAMENTO NEOLIBERAL, UM SÉRIO BALANÇO POR FAZER!

ESTE TEXTO FOI ELABORADO COMO UMA CONTRIBUIÇÃO ASSINALANDO O 46º ANIVERSÁRIO DOS SERVIÇOS DE SEGURANÇA E INTELIGÊNCIA DE ANGOLA (29 DE NOVEMBRO) E EXORTANDO À CONTINUAÇÃO DOS TRABALHOS DA COMISSÃO DE HISTÓRIA NO ÂMBITO DE TODA A COMUNIDADE, HONRANDO O PASSADO, A MEMÓRIA E OS ENSINAMENTOS DO CAMARADA PRESIDENTE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO E COM ISSO HONRANDO SEU PENSAMENTO E ACÇÃO GEOESTRATÉGICA NA LONGA LUTA PELA BUSCA DE PAZ EM ANGOLA, E NAS REGIÕES CENTRAIS E AUSTRAIS DE ÁFRICA!

A paz do Não Alinhamento activo foi impulsionada pelo Presidente António Agostinho Neto, de meados de 1976 até à sua morte a 10 de Setembro de 1979, enquanto ele pôde fazer dessa luta uma das “pedras de toque” do seu pensamento geoestratégico, até ao último suspiro!...

… O ousado projecto que foi insuficientemente abordado pelo camarada Iko Carreira por razões inerentes à doença que o atingiu e ao paulatino afastamento a que foi votado, escapava à bipolaridade engendrada pelo império na sua dilecta “Guerra Fria” que tinha África como um dos campos de manobra e domínio!...

… A paz neoliberal em função das transformações globais, foi impulsionada sem alternativa por quem o seguiu, fundamentalmente em função do Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991 e começou por ser uma paz moldada na agenciada via da terapia neoliberal, no seguimento dum choque manipulado pela aristocracia financeira mundial e o “hegemon” unipolar que na década de 90 do século XX e primeira década do século XXI, esteve sob seu inteiro domínio!...

Balancear esses dois parâmetros tão distintos, é fazer a avaliação que toda a África precisa, se alguma vez pretender seguir a trilha libertária da lógica com sentido de vida, ou se alguma vez pretender tratar com lucidez, coerência e vontade própria o seu próprio e inadiável renascimento!

De facto o socialismo em África pouca oportunidade teve para a paz e enquanto houve de algum modo luta armada, os seus princípios, doutrinas, ideologias e prática serviram a contento!


01- A luta pela paz Não-Alinhada protagonizada pelo pensamento e obra geoestratégica do camarada Presidente António Agostinho Neto deu seguimento imediato à retomada das fronteiras que se havia seguido à Proclamação da Independência que fez surgir a República Popular de Angola.

A ruptura era essencialmente com o colonialismo português pelo que, sem esquecer os outros contraditórios, muito pelo contrário tendo-os bem presentes, tendo em conta as jornadas épicas do MPLA que antecederam os anos antes da Proclamação e o próprio ambiente do 11 de Novembro de 1975, a luta pela paz nas fronteiras e em toda a extensão do território impunha-se.

Não era algo novo, pois durante todo o período da guerrilha o MPLA muitas vezes tentou corresponder a uma frente comum com a FNLA, algo que se foi protelando indefinidamente, mas era oportuno tentar uma vez mais quando a responsabilidade acabava por ser assumido perante todo o povo angolano!

A Proclamação foi pois a 11 de Novembro de 1975 e durante todo o Iº semestre de 1976 o esforço foi vocacionado para a retomada das fronteiras, abarcando todo o território nacional, ao mesmo tempo que as primeiras medidas abrangentes do novo estado eram introduzidas.

Entre os estados Não-Alinhados, a República Popular de Angola inspirou-se particularmente na República Popular do Congo e ponto de também o MPLA se transformar em Partido de Trabalho, a 10 de Dezembro de 1977, durante o seu Iº Congresso.

As bases de pendor socialista que mais serviram de retaguarda ao MPLA em ruptura com o colonialismo português e o “apartheid” (desde logo no âmbito do Exercício Alcora que começou a ser instalado por via da presença da South Africa Defence Forces no sudeste de Angola em 1968 e a vigorar por inteiro entre 14 de Outubro de 1970 e 25 de Abril de 1974), foram a República Popular do Congo e a República Unida da Tanzânia.

A República Popular do Congo esteve em vigor entre 1969 e 1991 e só se veio a extinguir em 1991, quando os impactos neoliberais determinaram em África a instauração das “democracias representativas” multipartidárias.

Enquanto vigorou a RPC, o Partido Congolês do Trabalho tal como na RPA, foi o único partido e as relações entre os líderes, o camarada Presidente Marien N’Gouabi e o camarada Presidente António Agostinho Neto foram sempre muito estreitas e profícuas, desde logo na luta pela paz ns regiões Central e Austral de África!

Em relação à Tanzânia também haviam excelentes relações entre o camarada Presidente António Agostinho Neto e o Presidente Julius Nyerere, pelo que durante a guerrilha o MPLA se pôde ir apercebendo, desde quando a sua sede provisória passou para Dar es Salam, dos outros focos de luta na África Austral e Central, pois a capital tanzaniana era uma obrigatória rectaguarda para a maioria das organizações rebeldes de então.

A paz em vista era uma paz animada de princípios éticos, morais e ideológicos, inerentes ao pronunciamento socialista, marxista-leninista, mas não pondo de lado a experiência acumulada, evidenciava-se pelo seu pendor organizativo, pela sua disciplina, pelo seu rigor e pelos horizontes que despontavam a curto, médio, longo e muito longos prazos!

Desse modo procurava-se aglutinar o máximo de forças num espírito e argumento de luta incessante pela unidade, coesão e identidade nacional na base do patriotismo e respeitando sempre a antropologia e a história.

Era portanto uma paz que priorizava o trabalho de massas tendo como classes fundamentais o operariado e o campesinato de modo a, em função delas, tornar-se abrangente a toda a sociedade, com os intelectuais revolucionários a terem um papel patriótico no sentido de fazer fermentar a aliança operário-camponesa inspiradora da aliança cívico-militar que permitia a resistência.

Era por fim uma paz que buscava a harmonia do relacionamento do homem com a natureza (com o ambiente), colocando a água como um factor de segurança vital no âmbito da lógica com sentido de vida que animou sempre a Libertação do continente quer do colonialismo como do “apartheid”!

Por essa razão a pedagogia era uma constante obrigação cívico-militar totalmente aberta à aprendizagem perseguindo uma trilha materialista-dialética proactiva apta à investigação e à ciência, a fim de catapultar o conhecimento.

Nessa paz combatiam-se necessariamente as divisões, fossem elas as de carácter etno-nacionalista, fossem as regionais, ou as raciais, pelo que a sociedade era vista e sentida como um todo, jamais permitindo a divisão entre o que era “civil” do que era “militar”; o termo “sociedade civil” era desconhecido por que a aliança cívico-militar urgia para fazer face ao “apartheid” e seus agentes…

A exigência e a responsabilidade cívico-militar foi colocada à prova nessa luta pela paz: ao mesmo tempo que o pensamento geoestratégico do Presidente António Agostinho Neto proclamou a luta popular generalizada para fazer face ao espectro do “apartheid” reaproveitando os enlaces propiciados pelo Exercício Alcora, ele próprio se encarregou de romper caminho para acabar com os tiros nas fronteiras e em todo o espaço nacional, o que implicou a mobilização dos instrumentos do poder de estado da República Popular de Angola.

A paz resultante dos impactos neoliberais que iria surgir após o Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991 e com o choque pelo meio até 2002, se não “floresceu” nos antípodas andou lá por perto!...

A humanidade deve pôr fim à guerra antes que a guerra acabe com a humanidade

# Publicado em português do Brasil

Sonjavan den Ende* | One World

Estas são as palavras históricas de John F. Kennedy proferidas na Organização das Nações Unidas (ONU) em 1961, dois anos antes de ser assassinado em 22 de novembro de 1963. O assassinato foi, como sabemos agora, provavelmente um trabalho interno realizado pela CIA. Alguns generais de alto escalão e presumivelmente seu antecessor Lynden B. Johnson também estavam envolvidos, mas isso é outra história.

Somos agora uma civilização na encruzilhada da extinção, como em 1961, ou podemos fazer um futuro melhor para nossos filhos. Tudo depende do caminho que vamos percorrer. Infelizmente, os chamados líderes dos países mais ricos escolhem o caminho de implementação da agenda do estado profundo, o governo real, o governo mundial único, do presidente George Bush pai, tantas vezes mencionado em seus discursos, o seu filho, presidente George Bush Jr ,. era burro demais para falar sobre isso ou, por falar nisso, sem falar nada, ele era um verdadeiro guerreiro e fantoche. O estado profundo consiste em grandes corporações, grande tecnologia, lobby de armas, lobby farmacêutico, serviços secretos em todo o mundo e, mais importantes, grandes instituições, como a OMS, IAEA, ONU e o Fórum Econômico Mundial(WEF), que é de longe o mais importante hoje em dia, parece que todos os países desenvolvidos (ricos) estão sob o guarda-chuva do WEF, da UE à Rússia   e China.

Eu não acho que tenho que explicar quais são os objetivos e a agenda do estado profundo, agora todo mundo está quase acordado, de norte a sul e de leste a oeste. Sem o consentimento da maioria das pessoas no planeta Terra, eles seguem em frente com seus planos traiçoeiros, prendendo pessoas, intimidando -as em manifestações, até atirando nelas hoje em dia e conduzindo experimentos com medicamentos não seguros ou mal testados como o C- 19 jabs. Eles não estão apenas conduzindo um experimento médico, mas também um experimento social, implementando um sistema de crédito social, um sistema tão ruim, que a maioria das pessoas são tratadas como gado (como se vê na UE e na Austrália), sem ter liberdade de expressão, sem ter nada a dizer e sem ter liberdade alguma. Primeiro eles usaram a falsa pandemia e depois vão usar o clima para tornar a vida um inferno para a maioria das pessoas (não os privilegiados, é claro, é o experimento deles), com todas as restrições, eles se sentem os mestres do universo, mas afinal eles ainda são humanos, não transumanos, mas talvez seja melhor que se tornem transumanos, para que nós, os verdadeiros habitantes da Mãe Terra, possamos iniciar uma nova civilização.

A administração de Biden é a República de Weimar a caminho do fascismo dos EUA

# Publicado em português do Brasil

Finian Cunningam* | Strategic Culture Foundation

A crescente inflação econômica e os problemas sociais sob o governo Biden apontam para um resultado desastroso que aguarda os Estados Unidos.

A adoção do extremismo político pelo Partido Republicano nos Estados Unidos preocupou os historiadores constitucionais com a tendência para o fascismo. Se for esse o caso, o infeliz governo Biden pode ficar na história como uma imitação da República de Weimar antes da ascensão do fascismo americano.

Esta semana viu dois exemplos de como o Grande Velho Partido de Abraham Lincoln caiu em uma espécie de culto extremista.

Um congressista republicano, Paul Gosar (R-Arizona), foi formalmente sancionado por postar um vídeo de desenho animado editado mostrando-o assassinando outro legislador, a democrata Alexandria Ocasio-Cortez (D-New York City). O vídeo também mostrou Gosar empunhando espadas em um ataque sangrento ao presidente Joe Biden.

O político republicano não se desculpou pelo incitamento à violência. A maioria dos membros de seu partido no Congresso se recusou a votar a favor da censura.

Não se trata apenas de um vídeo bobo que pode ser facilmente descartado como uma piada de mau gosto.

Há um endosso crescente da violência de membros republicanos contra oponentes políticos. Isso está de acordo com os legisladores republicanos assumindo abertamente posições públicas em apoio a grupos de milícias de extrema direita, como os Oath Keepers e os Proud Boys. Esses grupos são melhor descritos como fascistas, promovendo a ideologia da supremacia branca.

O OCIDENTE, SIMULACRO DE LIBERDADE

Thierry Meyssan*

Reproduzimos um texto escrito a pedido da Fundação para o Combate da Injustiça de Evgueni Prigojine. Nele, o autor volta a debruçar-se sobre a protecção que o Presidente Jacques Chirac lhe havia providenciado e sobre as tentativas de assassinato de que ele e a sua equipe foram alvo a seguir. Os nossos leitores souberam destes acontecimentos em directo, mas é a primeira vez que Thierry Meyssan evoca publicamente a caça de que foi alvo. Não se trata, de forma alguma, para ele de exigir contas : as personagens que ele põe em causa agiram, certamente, acreditando servir o país. Mas os cidadãos franceses devem ter conhecimento dos crimes que se cometem em seu nome.

O Ocidente tentou fazer calar, com todos os meios à sua disposição, os seus cidadãos que revelaram depois do 11 de Setembro de 2001 a sua verdadeira política e que se viraram contra ela.

Em 2002, eu publiquei L’Effroyable imposture (« A terrível impostura »), uma obra de ciências políticas que denunciava a versão oficial dos atentados de Nova Iorque, de Washington e da Pensilvânia, e antecipava a nova política EUA : uma vigilância generalizada dos cidadãos e a dominação do Médio Oriente Alargado. Após um artigo do New York Times que se espantava pelo meu impacto em França, o Departamento da Defesa dos EUA encarregava a Mossad israelita de me eliminar. O Presidente Jacques Chirac, que havia pedido aos seus Serviços de Inteligência para verificar a minha tese, tomou então a minha defesa. Aquando de uma conversa telefónica com o Primeiro-Ministro Ariel Sharon, ele informou-o que qualquer acção contra mim, não só em França como em todo o território da União Europeia, seria interpretada como um acto hostil contra a França. Ele encarregou igualmente um dos seus colaboradores de velar por mim e de informar os Estados não-europeus que me convidassem da sua responsabilidade em garantir a minha segurança. Efectivamente, em todos os países para onde fui convidado, providenciaram-me uma escolta armada.

No entanto em 2007, o Presidente Chirac foi substituído por Nicolas Sarkozy. Segundo o alto-funcionário que Jacques Chirac tinha encarregado da minha segurança, o novo Presidente aceitou o pedido de Washington em ordenar à DGSE a minha eliminação. Assim avisado, fiz a minha mala sem demoras e exilei-me. Dois dias mais tarde, eu chegava a Damasco onde me concederam a protecção do Estado.

Alguns meses mais tarde, decidia instalar-me no Líbano onde me haviam proposto realizar uma emissão semanal em francês na Al-Manar, a televisão do Hezbolla. Este projecto jamais viu a luz do dia, uma vez que a Al-Manar renunciara a emitir em francês, apesar de ser a língua oficial do Líbano. Foi então que a Ministra da Justiça francesa, Michele Alliot-Marie, lançou contra mim uma carta rogatória com o pretexto de que um jornalista, que já havia escrito um livro contra mim, me acusava de difamação. Durante mais de 30 anos, jamais houvera uma tal abordagem ao Líbano. A polícia entregou-me uma intimação. Nela pude constatar que esta abordagem não tinha nenhum fundamento segundo o Direito francês.

RACISMO EM PORTUGAL: UM PAÍS EM ESTADO DE NEGAÇÃO

O racismo estrutural em Portugal, herança do seu passado colonialista, traduz-se em desigualdades de toda a ordem. A violência policial racista é uma das manifestações mais atrozes deste flagelo. Para combatê-lo, é preciso sairmos do estado de negação em que nos encontramos. Dossier organizado por Mariana Carneiro.

Mariana Carneiro*

Em 2000, tinha eu 20 anos, trabalhei para uma câmara municipal, enquadrada num programa de emprego jovem. À época, fui colocada nas Atividades de Tempos Livres (ATL) de uma escola primária. Oriundas de um bairro de barracas, as crianças que ali permaneciam durante algumas horas tinham sido recentemente realojadas num bairro social mesmo ali ao lado. Uma dessas crianças era o Nuno, um miúdo negro de sete anos, olhos brilhantes, sorriso aberto e extremamente inteligente.

Conto-vos esta história porque, tendo vivido vários anos em Viseu, cidade que, à época, infelizmente, não era marcada pela diversidade étnico-racial, este foi um dos primeiros momentos que mais me marcou e indignou no que respeita às consequências do racismo bafiento que ainda se encontra impregnado na nossa sociedade.

Como é costume nestas idades, o Nuno desenvolveu uma paixoneta por mim. Não se sentindo correspondido, e depois de saber que eu tinha namorado, pediu para ver a foto do meu companheiro. Quando olhou para ela, automaticamente desatou num pranto e soluçou: “Eu sabia! É branco! Nunca ias namorar com um menino como eu”. O Nuno revoltava-se, às vezes violentamente, com todas as crianças que o afrontavam chamando-lhe “Ó preto, ó preto!”. O Nuno não era preto, era castanho. Era isso que explicava insistentemente. Ele não podia ser preto. Um dos sonhos do Nuno era ir morar para as casas brancas. Acabei por perceber porquê. O bairro social onde foi realojada a sua família, igual a tantos outros bairros guetizados, era dividido por diferentes áreas, com casas brancas, verdes e rosas, para brancos, ciganos e afrodescendentes, respetivamente.

Que sociedade se pode chamar democrática quando esmaga a dignidade, os direitos, os sonhos de crianças como o Nuno?

ONDE ESTÁ O RENDEIRO?

Henrique Monteiro | HenriCartoon

QUE RUMO LEVA A UNIÃO EUROPEIA?

O discurso da presidente da Comissão Europeia Ursula Von der Leyen em Setembro passado é suficientemente revelador do caminho que o grande capital imprime à UE. Um verdadeiro tratado das intenções de aprofundamento dos pilares neoliberal, federalista e militarista. O fundamentalismo neoliberal em todo o seu esplendor (em parte pintado de “verde”), com o seu cortejo de privatização e mercantilização. Todo o quadro do regresso em força do irracional dogma do “défice”. O avanço da militarização da UE, correspondendo a uma ambição geopolítica que, no fim de contas, é mero alinhamento com a agressiva estratégia EUA-NATO. E um hipócrita assumir de valores “humanitários” e “democráticos”, por parte de uma UE cada vez mais desrespeitadora de direitos dos povos e dos Estados.

João Pimenta Lopes * | opinião

No passado Setembro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, proferiu o discurso sobre o dito «Estado da União» no Parlamento Europeu (PE). Um ano após o primeiro discurso, tanto marca o discurso aquilo que nele foi dito, como o que nele esteve ausente. Em quase uma hora, escutámos um simultâneo exercício de propaganda, com várias parangonas e adjectivos que apelam a nobres valores, e um tratado com maior ou menor evidência das intenções de aprofundamento dos pilares neoliberal, federalista e militarista da UE, estruturado em grandes temas.

Arrancando com as questões da pandemia, não é despiciendo que o tenha feito com centralidade nas questões da Saúde, evidenciando claras intenções de criar uma chamada “União Europeia da Saúde’, alargando o mercado único à saúde, com “inevitável’ objectivo de promover a liberalização, privatização e concentração deste serviço público fundamental. O processo de normalização/ampliação do mecanismo de aquisição de vacinas a outros medicamentos, que amarrou países como Portugal visando obstaculizar a diversificação das vacinas, integrado na proposta de “Regulamento relativo às ameaças transfronteiriças graves para a saúde”, votado na mesma semana no PE, é parte desse caminho que consiste num abrir de portas ao negócio das multinacionais na área da saúde. O anúncio da mobilização de 50 mil milhões de euros, envolvendo uma nova entidade no domínio da saúde, a Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (HERA), que segue a mesma abordagem da resposta à COVID-19, deve igualmente ser visto com apreensão. Outros exemplos poderiam ser dados como o reforço das competências do “Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças”, sobre o que o PE igualmente se posicionou, pretendendo conferir um papel de inspecção e monitorização da implementação das orientações que sejam emitidas nos domínios em que intervém.

A COVID VEIO PARA FICAR

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Temos de nos habituar a viver com a covid. Tal como nos habituámos a viver com a gripe. Sim, a comparação é possível, não se trata de negacionismo. Trata-se de aceitar aquilo que a ciência já nos diz há vários meses. E que repetiu quando já tinha medido o efeito das vacinas.

É isso que ouvimos uma e outra vez aos especialistas: a covid veio para ficar. Tal como a gripe. Sendo que, por enquanto, a primeira é mais perigosa do que a segunda (ainda que a gripe também mate), o que obriga as sociedades a concertar medidas para se defenderem.

Mas isso não pode ser sinónimo de entrar em pânico. Já todos percebemos os efeitos económicos e sociais dos confinamentos, sejam os mais duros, sejam os mais leves. Ninguém no seu juízo está interessado em repetir a experiência. Que se faça, portanto, o que for possível para controlar a pandemia, mantendo o país e a sociedade a funcionar em pleno. Sem destruir emprego. Sem fechar os nossos velhos nos lares. Sem deixar sozinhos nos hospitais os nossos doentes.

Não há atividades, sejam elas económicas, desportivas, culturais, familiares, ou de lazer, sacrificáveis. Tal como não há vidas sacrificáveis. Que se use máscara quando tiver de ser (em espaços fechados e em iniciativas com ajuntamentos); que se peça certificado digital de vacinação e até um teste em casos limite (e desde que seja o Estado a pagá-lo e não o empresário ou o consumidor, porque isso teria o mesmo efeito que mandar confinar e, portanto, destruiria o ganha- -pão de alguém); que se imponha a vacinação obrigatória para os adultos (se os negacionistas pretendem continuar a viver em sociedade têm de respeitar a nossa saúde); que se vacinem as crianças pequenas (tendo em conta o número de aulas que continuam a perder em sucessivas quarentenas).

Que se tomem, portanto, medidas, mesmo que nos causem algum desconforto, desde que nos permitam viver sem limitações. Com solidariedade e até algumas obrigações. Sem proibições.

*Diretor-adjunto

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