terça-feira, 7 de dezembro de 2021

VAI, CHILE, VAI E VENCE

Em jogo no país, mais que a disputa entre esquerda e candidato que flerta com o fascismo: também a capacidade de fazer a velha política se dobrar às ruas – e de superar o deserto neoliberal e história de derrotas, com novos atores políticos

Vladmir Safatle, no El País Brasil | em Outras Palavras

Peço licença para escrever pela primeira vez na primeira pessoa do singular, peço desculpas sem saber muito bem porque esse procedimento se impôs no assunto em questão. Mas chega um momento da vida que se começa a confiar no que não se tem clareza, um pouco como quem aceita esse espírito que um dia Pascal descreveu como uma mistura de incapacidade de, ao mesmo tempo, provar totalmente e abandonar completamente algo.

Eu nasci no Chile, meses antes do golpe de estado que derrubaria Salvador Allende e implementaria não apenas uma das ditaduras mais sanguinárias em um continente onde nunca faltou sangue correndo nas ruas, mas o primeiro laboratório mundial para um conjunto de políticas econômicas, conhecidas como neoliberalismo, que trariam concentração de renda e morte econômica para populações em todo o globo. Esse modo de gestão social, que se vende como defensor de liberdades e da autonomia individual, começou com golpe de estado, desaparecimento de cadáveres, mãos cortadas e estupro. O que diz algo a respeito de sua verdadeira essência autoritária.

Minha mãe costumava dizer que nos meses em que ela começava a se descobrir como uma jovem mãe de 24 anos, era comum ouvir bombas explodindo e tiros nas ruas. Eram os últimos meses do governo de Salvador Allende. Meu pai, que tinha a mesma idade, havia participado da luta armada contra a ditadura brasileira no grupo de Marighella e havia preferido tentar ajudar, de qualquer forma que fosse, a experiência socialista de Allende a aceitar a proposta de sua família e terminar os estudos na Inglaterra. Impotentes, como escoteiros que observam uma floresta em chamas, eles começavam suas vidas adultas com um filho e uma catástrofe.

O governo Allende era apunhalado por todos lados. Vítima de lockouts financiados por Nixon e seu macabro braço direito Henry Kissinger, depois louvado como “grande estrategista” por ter conseguido um aperto de mão entre seu presidente e Mao-Tse Tung enquanto mandava o povo chileno para um inferno de 25 anos, Allende parecia uma figura trágica grega. Se o Chile desse certo, o único país na história em que um programa marxista de transformação social havia sido implementado pelo voto e respeitando as regras da democracia liberal mostraria uma via irresistível em um momento histórico no qual estudantes e operários lideravam insurreições em vários países centrais do capitalismo global. O Chile era o ponto frágil da Guerra Fria, pois ensaiava um futuro que havia sido negado em várias outras ocasiões. Nele se tentava pela primeira vez um socialismo radical que recusava a via da militarização do processo político.

Portugal | A AGENDA ESCONDIDA DA CHAMADA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Adepto fervoroso das energias renováveis, Matos Fernandes desdobra-se em argumentos para convencer o povo de que, com estas fontes de produção energética, estaremos em 2025 às portas de um admirável mundo novo.

Rogério Silva | AbrilAbril | opinião

Da agenda climática à destruição de milhares de postos de trabalho e da capacidade produtiva do País, a designada transição energética, aplicada em Portugal pelo Governo PS, tem na sua génese não uma verdadeira preocupação com as questões climáticas e ambientais, mas antes uma agenda política, profundamente neoliberal, que procura a qualquer custo colocar Portugal no pelotão da frente na redução de emissões de GEE.

Ora, tais decisões não obedecem a uma estratégia coerente para o sector energético por forma a salvaguardar o aprovisionamento, a segurança e a soberania energética e são fortemente penalizadoras do desenvolvimento económico, do emprego e das economias regionais e nacional.

São medidas executadas através de um conjunto de políticas públicas lesivas para os trabalhadores, para os consumidores de electricidade, gás natural e combustíveis líquidos, para além da carga fiscal ambiental crescente e penosa para todos e dos prejuízos para o País, obrigado a importar o que deixa de produzir.

Portugal | Casos associados à variante Ómicron em Portugal sobem para 37

O número de casos associados à variante Ómicron em Portugal subiu para 37 em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), que colocam a hipótese de circulação comunitária desta variante no país de uma forma residual.

Dados divulgados na sexta-feira no relatório conjunto do INSA e da Direção-Geral da Saúde "Linhas Vermelhas" registavam 34 casos da Ómicron, variante de preocupação do coronavírus SARS-CoV-2, que foi recentemente identificada em países da África austral, tendo, entretanto, sido já detetada em cerca de 30 países à escala global.

O relatório semanal do INSA sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 no país, hoje divulgado, refere que estão agora identificados "um total de 37 casos por pesquisa dirigida de mutações e/ou sequenciação do genoma viral".

"Em Portugal, não foi detetado qualquer caso desta variante nas amostragens aleatórias semanais de âmbito nacional sujeitas a sequenciação do genoma viral (última amostragem relativa ao período de 22 a 28 de novembro, estando em a curso a análise relativa ao período de 29 de novembro a 5 de dezembro)", adianta o relatório.

Esta situação, acrescenta o INSA, coloca "como hipótese a existência de circulação comunitária da variante Ómicron em Portugal nos períodos analisados (hipótese não confirmada até à data), estes dados sugerem que a circulação terá sido residual", lê-se no relatório.

Diário de Notícias | Lusa

O VÍRUS RI-SE DAS FRONTEIRAS

Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

No final de novembro de 2020, uma petição de 99 países, liderados pela África do Sul e pela Índia, pediu à Organização Mundial do Comércio que suspendesse as regras das patentes associadas a medicamentos, vacinas e tecnologia para combater a covid.

Só assim seria possível contrariar os efeitos do açambarcamento das vacinas pelos países ricos e proteger a população mundial. Já nessa altura, uma coligação de organizações não governamentais como a Oxfam e a Amnistia Internacional denunciou que 14% da população detinha 53% das vacinas e que, em cada dez pessoas dos países pobres, nove não teriam acesso à vacinação.

Contra todas as evidências científicas e contra a toda a racionalidade - humanitária ou mesmo egoísta (a baixa vacinação potencia o desenvolvimento de novas estirpes que se tornarão sempre globais) -, contra os apelos da Organização Mundial de Saúde e das Nações Unidas, os países mais ricos do Mundo impediram o levantamento das patentes. Nesse grupo esteve sempre a União Europeia, com o apoio do Governo português, protegendo os interesses das farmacêuticas em vez da população mundial.

A vacina contra a covid não se tornou um bem público, como defendia António Guterres, mas um fator de reprodução da pobreza e das desigualdades que dividem o Mundo.

Portugal | Supremo nega recurso de Ventura sobre família do Bairro Jamaica

O Supremo Tribunal de Justiça confirmou hoje a condenação de André Ventura e do Chega no caso sobre "ofensas do direito à honra" de uma família do Bairro Jamaica (Seixal), ao negar o recurso do deputado e do partido.

Segundo o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), datado de hoje, "o que ressalta da motivação" para interpor recurso é uma discordância com a decisão condenatória, mas que para este tribunal superior "não é suficiente para sustentar" a validade do recurso.

Quanto ao "erro de pronunciamento, traduzido na inexistência da violação do direito à imagem pelos réus", alegado por Ventura e pelo partido Chega para justificar o recurso, o acórdão contrapõe que da argumentação "apenas resulta o seu inconformismo com as decisões [condenatórias] anteriormente proferidas e conformes".

Entendeu também o STJ que os recorrentes André Ventura e Chega não conseguiram provar que a apreciação da questão levantada fosse necessária para "uma melhor aplicação do direito, bem como as razões pelas quais os interesses em jogo são de particular relevância social".

Portugal | Era uma vez... uma "senhora" racista e muito ordinária - da "outra banda"

Joana Mortágua e Jessica Athayde são apenas algumas das pessoas que já reagiram às imagens.

Um vídeo alegadamente filmado no passado domingo, dia 5 de dezembro, em Cacilhas, Almada, tornou-se viral nas últimas horas, nas redes sociais. Nas imagens vê-se uma mulher a insultar um motorista dos TST com ofensas racistas.

“Preto! Vai para a tua terra [...].Vai para a tua terra! Vai para a tua terra! Vou já fazer queixa de ti à polícia. Preto!” grita a mulher enquanto uma outra utente que esperava pelo autocarro a tenta acalmar.

Nas imagens, supostamente filmadas por outro passageiro, não se vê mais ninguém a interferir, mesmo quando a mulher que insulta o condutor começa a bater no vidro do veículo pesado.

Entretanto, o vídeo do ataque racista já se tornou viral. Jessica Athayde é uma caras conhecidas que já reagiu.

Já Mariana Mortágua revelou que levou o caso a uma reunião da Câmara de Almada em “solidariedade com as vítimas de racismo”.

"Não conheço o contexto, a data nem as pessoas envolvidas neste vídeo. Mas reconheço claramente três coisas: Almada, um motorista dos TST e insultos racistas. Isso bastou-me para falar deste episódio hoje na reunião de Câmara: solidariedade com as vítimas de racismo", escreveu a deputada bloquista que é também vereadora desta autarquia.

Não conheço o contexto, a data nem as pessoas envolvidas neste vídeo. Mas reconheço claramente três coisas: Almada, um motorista dos TST e insultos racistas. Isso bastou-me para falar deste episódio hoje na reunião de Câmara: solidariedade com as vítimas de racismo https://t.co/CnOFb4a9Ef

Até ao momento, os TST ainda não reagiram ao ataque.

Notícias ao Minuto

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Biden é responsavel por acabar com crise dos mísseis não declarados com a Rússia

# Publicado em português do Brasil

Andrew Korybko* | One World

Essa crise não declarada de mísseis pode em breve se tornar oficial se a reunião de amanhã não resultar em um acordo entre os EUA e a Rússia.

A reunião mais importante das décadas

O encontro virtual de terça-feira entre o presidente russo Vladimir Putin e seu homólogo americano Joe Biden, que é o segundo desde o encontro presencial em junho passado em Genebra, será sem dúvida uma das discussões mais importantes entre os líderes desses dois países em décadas. A última crise ucraniana deve ser resolvida com urgência, a fim de pôr fim à crise não declarada dos mísseis. Biden é o único que pode fazer isso, mas para que isso aconteça, ele deve realmente entender sua responsabilidade global e ter a vontade política para desafiar a poderosa facção anti-russa de suas burocracias militares, de inteligência e diplomáticas permanentes (“ estado profundo ”) que trouxe as relações entre essas grandes potências à beira da guerra.

Rumo a uma segunda crise de mísseis

A Mainstream Media Ocidental retratou erroneamente as últimas tensões como resultado dos supostos planos da Rússia de inexplicavelmente “invadir” a Ucrânia, apesar de nunca ter se materializado uma disseminação de medo semelhante nos últimos sete anos e meio . Observadores um pouco mais astutos especulam que, na verdade, é tudo sobre o status político não resolvido do Donbass, que a Ucrânia se recusou a conceder status político especial (autonomia) em desafio a Minsk II. Aqueles cuja experiência é um pouco mais avançada entendem que a verdadeira causa das tensões é a expansão contínua da OTAN para o leste, enquanto os mais bem informados entre eles sabem que tudo isso é na verdade parte de uma crise de mísseis não declarados que está se intensificando rapidamente para se tornar tão perigosa quanto sua infame de 1962.

A Rússia está preparada para "transformar" a segurança no Golfo Pérsico

– É o único Estado com o poder, as ferramentas, a suavidade e as relações necessárias para conduzir o Golfo Pérsico a um novo paradigma de segurança

Pepe Escobar [*]

É impossível compreender a retomadas das conversações nucleares da JCPOA em Viena sem considerar a grave turbulência interna da administração Biden.

Toda a gente e a sua vizinhança está consciente das expectativas directas de Teerão:   todas as sanções – sem excepções – devem ser eliminadas de forma verificável. Só então a República Islâmica reverterá o que é chamado de "medidas correctivas", ou seja, a intensificação do seu programa nuclear para responder a cada nova "punição" americana.

A razão pela qual Washington não está a apresentar uma posição igualmente transparente é porque, bizarramente, as suas circunstâncias económicas estão muito mais convulsionadas do que as do Irão sob sanções. Joe Biden enfrenta agora uma dura realidade interna: se a sua equipa financeira elevar as taxas de juro, a bolsa de valores entrará em crash e os EUA serão mergulhados em profunda aflição económica.

Democratas em pânico estão mesmo a considerar a possibilidade de permitir o impeachment de Biden por uma maioria republicana no próximo Congresso devido ao escândalo Hunter Biden (ver aqui e aqui).

De acordo com uma alta fonte de segurança nacional dos EUA, não partidária, há três coisas que os democratas pensam poder fazer para atrasar o acerto de contas final:

Primeiro, vender parte do stock da Reserva Estratégica de Petróleo em coordenação com os seus aliados para fazer baixar os preços do petróleo e reduzir a inflação.

Segundo, "encorajar" Pequim a desvalorizar o yuan, tornando assim as importações chinesas mais baratas nos EUA, "mesmo que isso aumente materialmente o défice comercial dos EUA. Estão em troca oferecem as tarifas impostas por Trump". Supondo que isto acontecesse, e é um “se” importante, isto teria um duplo efeito prático, baixar os preços em 25 por cento nas importações chinesas em paralelo com a depreciação da moeda.

Em terceiro lugar, "planeiam fazer um acordo com o Irão, não importa qual, para permitir que o seu petróleo volte a entrar no mercado, fazendo baixar o preço do petróleo". Isto implicaria que as actuais negociações em Viena chegassem a uma conclusão rápida, porque "eles precisam de um acordo rapidamente". Estão desesperados".

Não há qualquer evidência de que a equipa que realmente dirige a administração Biden será capaz de obter os pontos dois e três; pelo menos quando as realidades da Guerra Fria 2.0 contra a China e a Iranofobia bipartidária são consideradas.

Ainda assim, a única questão que realmente preocupa a liderança democrata, de acordo com a fonte de inteligência, é ter as três estratégias para passar pelas eleições a médio prazo. Posteriormente, poderão ser capazes de aumentar as taxas de juro e darem-se tempo para alguma estabilização antes da eleição presidencial de 2024.

Então, como os aliados dos EUA reagem a isso? Movimentos bastante intrigantes estão prestes a acontecer.

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