sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Para Macron, liberalismo significa deixar a polícia armada fazer o que quiser

# Publicado em português do Brasil

Harrison Stetler | Jacobin

O policiamento dos protestos na França se tornou tão abertamente repressivo que até mesmo as Nações Unidas denunciaram seus excessos. Mas um novo protocolo mostra que o governo de Emmanuel Macron decidiu transformar as táticas policiais violentas em norma.

É qualquer sábado do final de 2010 e a multidão de várias centenas de pessoas parou ao longo da avenida. Oficiais totalmente vestidos da gendarmerie mobile ou do infame grupo CRS controlam a força para bloquear os escudos para engolfar os manifestantes, cujos gritos de "Macron, renuncie!" desvanece-se para "Todo mundo odeia a polícia". Sem aviso - apesar da exigência oficial de que a tropa de choque anuncie o uso iminente da força - uma chuva de granadas de gás lacrimogêneo aterrissa em meio à multidão de manifestantes. A multidão se espalha, procurando um ponto de saída potencial em meio à teia de escudos de choque, enquanto alguns retardatários encorajados enfrentam os vapores pungentes.

Para críticos e admiradores, cenas como essas são exemplos do modelo francês de "preservação da ordem". Pode parecer um exagero identificar qualquer lógica particularmente gaulesa no uso da força do Estado para interromper uma manifestação popular. No entanto, o governo ostensivamente liberal de Emmanuel Macron recebeu fortes críticas de uma série de organizações internacionais pela forma como reprimiu os movimentos de protesto que pontuaram o calendário político nos últimos anos.

No auge do movimento gilets jaunes no final de 2018 e 2019, o Conselho Europeu alertou o governo sobre o perigo - e potencial ilegalidade - das balas de borracha implantadas, que mutilaram dezenas de manifestantes. Em uma rara denúncia de uma democracia ocidental, Michelle Bachelet , a alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, fez um apelo direto ao governo francês para que recorresse ao diálogo social em vez de balas de borracha e gás lacrimogêneo.

Desde então, as grandes manifestações têm sido menos intensas no terreno - um sintoma tanto dos efeitos políticos da pandemia quanto da memória dos reais riscos de tomar as ruas. Mas o próprio cão de guarda do governo francês ainda está soando o alarme. Em 29 de novembro, o Défenseur des droits (DDD), uma autoridade de liberdades civis cujo diretor é nomeado pelo presidente, publicou um relatório sobre as táticas da polícia para controlar grandes multidões e protestos. “A maneira dos atores [institucionais] franceses de encarar os manifestantes parece ser fortemente marcada por um quadro de confronto”, lamentou o DDD, na linguagem caracteristicamente temperada de um ombudsman público.

Este último relatório desenvolveu e resumiu as conclusões de uma comissão independente que publicou suas descobertas em julho de 2021. Comparando as táticas francesas de controle de multidões com aquelas implantadas por outros estados europeus, os sociólogos e cientistas políticos que produziram o dossiê observaram que, nos últimos anos, tornou-se prática comum para as forças policiais francesas "considerar a multidão um elemento violento por natureza".

A elaboração de um “Schéma national de maintien de l'ordre” (Protocolo Nacional para a Manutenção da Ordem, SNMO), a codificação do Ministério do Interior do protocolo para o policiamento de grandes multidões, teve como objetivo responder a este coro de críticas. O processo foi iniciado por Christophe Castaner, ministro do Interior entre 2018 e 2020, período que marcou o auge dos movimentos populares que caracterizaram a fase pré-pandêmica da presidência de Macron.

No entanto, se isso foi, sem dúvida, um aceno fingido para os pedidos de redução da escalada, os resultados do SNMO têm sido enganosos. Publicada em setembro de 2020, a versão inicial ficou muito aquém das esperanças dos defensores das liberdades civis e da liberdade de expressão. Formulado inteiramente dentro da hierarquia do Ministério do Interior, o SNMO foi, portanto, isolado do debate público iniciado quando cenas de força policial excessiva contra os manifestantes definiram momentaneamente o ciclo de notícias. Mas, embora o documento tenha enfrentado resistência, uma nova versão lançada em 16 de dezembro não é muito melhor - normalizando as medidas cada vez mais repressivas que a polícia já tomou na prática.

O VERDADEIRO PROBLEMA DE CREDIBILIDADE DE WASHINGTON

# Publicado em português do Brasil

Daniel Larison | Responsible Statecraft | opinião

Os EUA têm uma tendência cada vez maior de voltar atrás em sua palavra e romper acordos em um acesso de raiva ou com mudanças no poder político.

Os Estados Unidos não são bons em assumir compromissos diplomáticos duradouros. Outros estados não têm dificuldade em acreditar nas ameaças dos EUA de usar a força e impor sanções amplas, mas é muito mais difícil convencê-los de que os EUA podem ser confiáveis ​​para honrar suas promessas em acordos negociados.

Nosso governo tem um problema real de credibilidade, pois as promessas de nosso governo de suspender as sanções e fazer outras concessões não são verossímeis. Isso complica enormemente a capacidade de nossos negociadores de negociar com outros governos para resolver disputas pendentes, porque os EUA têm uma tendência cada vez maior de voltar atrás em sua palavra ou de romper acordos em um acesso de ressentimento.

Mesmo quando alguns outros governos chegam a um acordo com os Estados Unidos e cumprem seus termos, isso não é garantia de que os Estados Unidos não se voltarão em alguns anos e tentarão atacá-los ou depô-los. O governo líbio encerrou seu status de pária internacional em troca de encerrar seus programas de armas não convencionais e interromper seu apoio ao terrorismo em 2003, mas os EUA intervieram para apoiar a mudança de regime na Líbia em 2011 e ajudaram a destruir o governo. O Irã estava cumprindo totalmente com o acordo nuclear por anos, apenas para ser recompensado com uma severa guerra econômica dos EUA depois que Trump renegou o acordo.

O ÚLTIMO DIA DE ONTEM

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

Perdidos no tempo, sensação intruja de que as coisas se sucedem com sentido, que estamos em controlo, que somos poder. Que mandamos no devir, que ele se submete, faz figas e nós desatamos, dá nós mas nós desfiamos. Omnipotentes seguimos, sempre a lembrar-nos, queridos, da nossa pequenez. De como somos formigas no universo, vírgulas no tempo, lapsos que preenchem frestas. Nunca desarmamos de tão humildes. Passou o dia em que nos despedimos de um ano marcante e anónimo, repleto de coisas que não foram feitas e outras que se perderão para sempre. Hoje são só despedidas e votos. O último dia foi ontem.

Tenderemos a sair da nossa vida aos fascículos para viver uma vida inteira? Acumular memórias pode ajudar na tomada de decisões. 2022 será um ano resolutivo, estupendo para falhanços, milagres e júbilos oriundos das mais diversas proveniências. Família, emprego, sociedade, eleições, normalidade ou o que resta dela, a crise. As respostas que temos à mão são, curiosamente, eternas e insatisfatórias. Produtos de suposições, das variantes e da fé, dos imbecis e dos enganados, soluções gratas pela demarcação das conspirações e dos conspiradores e teólogos da destruição pelos "chips", o que vamos dizer e contrapor no ano novo é um refugo velhinho e acabado, reciclado das piores espécies destes últimos meses. Ou a natureza nos livra do mal ou continuaremos a repartir o mundo entre os bons e os maus, dividindo-o entre a espécie humana e uma subespécie de gente que focinha entre teorias. Que bondoso seria deixar as trincheiras e sair disto melhor. Lamentavelmente, se isto acabar, a que nos vamos agarrar para continuar a negar que somos todos da mesma gente? A nova divisão será pior, ensandecida, ainda mais viral e pesará com mais gravidade. E continuaremos convencidos, à partida, que o amor vence.

"E como foi o teste?", a interrogação apressa-se a substituir o já longínquo "como tens estado?". De certa forma, a nova tomada de perspectiva sobre o bem do outro é mais abrangente porque, derivando igualmente do interior, apresenta chancela médica. Gravamos hoje os derradeiros minutos, celebramos, apertamos as mãos entre a indecisão de como se faz, como se só soubéssemos o que fazer depois do outro nos mostrar como. Uma miríade de sinais para garantir que estamos juntos, que vamos ficar bem, que o pior já passou, derivações sobre a falta que faz o abraço. Estamos entregues ao requinte de não termos de escolher senão entre os próximos. Os que estão mais perto. Igualmente bem de saúde, obrigado. Agradecemos sempre. Sempre.

-- O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

RECEBER O NOVO ANO EM FESTA? PARA FESTEJAR O QUÊ? DESGRAÇAS?

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

2022. O ANO DE TODOS OS PERIGOS

Margarida Cardoso | Expresso

Bem-vindo a mais um Expresso Curto 142 anos depois de Thomas Edison apresentar a lâmpada elétrica

Do outro lado do mundo já está tudo a postos para brindar ao Novo Ano com os votos de sempre, mas em Portugal ainda temos 16 horas para preparar a entrada sem cinto de segurança em 2022.

Fazer previsões para o ano que está a chegar é uma missão impossível. É que “desta vez, não basta ter uma bola de cristal. Precisaríamos de juntar muitas bolas de cristal e, mesmo assim, seria difícil avançar prognósticos”, diz ao Expresso Adão Ferreira, secretário-geral da AFIA - Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, para explicar a dificuldade em traçar cenários sobre o futuro.

Quarenta anos depois de Peter Weir realizar “O Ano de Todos os Perigos”, uma adaptação ao cinema do romance de C. J. Koch sobre os dias sanguinários que acompanharam a subida ao poder de Suharto na Indonésia, 2022 entra também em cena como ano de todos os perigos, agora à escala global.

Inflação, infeção, vacinação, disrupção, contestação, eleição, coligação serão palavras para usarmos e abusarmos nos próximos meses, sempre sob o manto da incerteza. “É a palavra que temos de ter na mente quando pensamos em 2022. Não fazemos ideia do que vai acontecer. Isso é terrível do ponto de vista da economia e do investimento e é agravado pelo cenário geopolítico, da Ucrânia a Taiwan, e por tudo o que ainda vamos ter de aprender sobre a covid-19 e as mutações do vírus”, comenta Alberto Castro, diretor do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica Portuguesa.

“A inflação vai ou não disparar? A procura explode ou retrai? o bloqueio no transporte de mercadorias continua ou desaparece subitamente como alguns engarrafamentos na autoestrada? Tudo isto são perguntas para as quais não há resposta certa, o que é brutal para quem tem de tomar decisões”, sublinha o economista preparado para entrar no novo ano apenas com uma certeza: “a incerteza declina-se em riscos e problemas económicos”.

No que respeita à política nacional, o politólogo António Costa Pinto escolhe também “incerteza” como palavra-chave para 2022. Fala mesmo numa “enorme incerteza no que respeita aos resultados das eleições legislativas, no final de janeiro”. Arrisca, no entanto, quatro previsões: “se no passado uma coligação à direita permitia sempre ter uma opção de governo estável, esse cenário é, agora, improvável”, “não é expectável que o país tenha pela frente muitos meses sem uma solução de governo”, “a curto prazo não existe correlação significativa entre a dificuldade em formar governo e o seu impacto na economia” e partindo do princípio de que nenhum partido sairá das eleições com maioria absoluta, “Portugal vai continuar a ter uma democracia marcada pela centralidade do Presidente da República”.

Lá fora, a tensão também está a aumentar, a elevar a incerteza a um novo patamar. As incógnitas são muitas. As potenciais frentes de conflito multiplicam-se. Na Europa, António Costa Pinto dá protagonismo “à consolidação das estruturas políticas da União Europeia e à resposta a desafios como os que estão a ser colocados pela Hungria e pela Polónia”, sem esquecer o drama dos refugiados ou a Ucrânia. A nível global, “a forma como evolui a relação entre os EUA e a China continua a ser determinante”, diz. No seu barómetro, o grau de risco de Portugal “está no nível 6, mas na frente externa sobe para o nível 7”.

Na MDS, multinacional portuguesa líder na consultoria de riscos e seguros, presente em 122 países, o presidente José Manuel Dias da Fonseca antecipa para 2022 “grandes riscos” de diferentes tipos, desde as alterações climáticas e catástrofes naturais, “a aumentar em intensidade e frequência”, aos riscos tecnológicos, em especial no que respeita à cibersegurança, manipulação da informação incluída. Na economia, “continua a falar-se muito de pandemia e das suas consequências, da disrupção das cadeias de abastecimento, da inflação”, destaca o gestor sem esquecer referências aos sismos, à contestação social, à violência urbana.

Se tivesse um barómetro, o grau de risco para 2022 “seria 7 numa escala de 1 a 10”. E o que teria respondido sobre 2021 no final do ano passado? “Grau seis, o que significa que o risco está a aumentar”, admite sem hesitar.

2022 - VEM AÍ NOVO ANO. MAIS DO MESMO!


Rodrigo Cartoon – Corruptugal | Expresso – em Facebook

Na verdade, um dos grandes grandes problemas de Portugal é a corrupção, mas os portugueses continuam a indignar-se inconsequentemente e a não exigir medidas efetivas e adequadas contra a corrupção e os criminosos que a praticam em larga escala. 

Nos poderes mantêm-se desde há décadas, quase sempre, os mesmos defensores de interesses corporativos-político-partidários que mais se assemelham a máfias, a sindicatos do crime recheados de alguns da política e, principalmente, do grande capital. São milhares de milhões as quantias referidas na comunicação social, são roubos de cérebros propensos a locupletarem-se com fortunas por forma ilegal - protegidas por "furos" nas leis deficientes saídas da lavra de legisladores que "parecem" não saber o que andam a fazer...

E assim vai Portugal. E assim continuará em 2022 e anos seguintes. Sempre, porque a esperança é sempre a última a morrer, como se diz. A esperança que serve de travão à punição devida de ladrões, de vigaristas, de oportunistas. Certo é que morremos sempre antes da esperança de obter algo que desejamos com todo o direito: uma sociedade justa, livre de exploração e falsidades. Que não seja falsamente democrática e absolutamente desumana - mais para uns que para outros e que vitima sempre a maioria dos povos.

Vem aí novo ano, 2022. Mais do mesmo.

Assim vai o mundo.

Até quando?

Redação PG

QUAL FOI O FAMOSO MAIS IGNORADO DO ANO?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Nos balanços do ano que se sucedem na comunicação social em todo o mundo elegem-se as personalidades internacionais e nacionais que cada marca considera terem sido as mais importantes ou influentes de 2021.

Não é tradição os media elegerem a personalidade relevante que ao longo do ano tenha sido a mais esquecida, a mais ignorada ou a mais secundarizada no fluxo noticioso dominante.

Seria um escrutínio interessante, seria um belo exercício de autocrítica mas, como não vai acontecer, avanço eu com uma proposta para 2021: Julian Assange.

O australiano, que fundou o WikiLeaks, está acusado pelo governo dos Estados Unidos da América de 17 crimes de espionagem e um de utilização indevida de técnicas informáticas para divulgar milhares de documentos militares e diplomáticos. A pena, em caso de condenação, pode ir até aos 175 anos de prisão.

Esses documentos revelaram em 2010 que as forças militares norte-americanas, em ação no Afeganistão e no Iraque, cometeram, de forma organizada, planeada e sistemática, vários crimes de guerra, à luz do direito internacional, incluindo o de tortura sobre prisioneiros ou o de execução arbitrária de bombardeamentos injustificados de alvos civis, com consequências letais em grande escala.

Ficou famoso o exemplo de um vídeo de um helicóptero a matar 12 pessoas indefesas - incluindo dois jornalistas - numa rua em Bagdade, com o som da tripulação a comentar descontraidamente o morticínio.

Grandes jornais de Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, que agora o ignoram, ajudaram há 11 anos Julian Assange a publicar essas informações: El País, Le Monde, Der Spiegel, The Guardian e The New York Times sugaram a teta do WikiLeaks enquanto puderam e agora pouco falam do abandono a que ele foi votado.

Alemanha desliga hoje três centrais nucleares e últimas três no final de 2022

Esta sexta-feira, as centrais de Brockdorf, Emsland e Gröhnde, todas no Norte da Alemanha, cessarão as suas operações.

A Alemanha vai encerrar na sexta-feira três das seis centrais nucleares ainda em funcionamento no país, no âmbito de um plano de abandono deste tipo de energia na principal potência económica europeia até 2022.

As centrais de Brockdorf, Emsland e Gröhnde, todas no Norte do país, cessarão as suas operações no último dia de 2021, e as centrais Neckarshaim 2, Isar 2 e Gundremingen C, no Sul, seguirão o exemplo no final de 2022, tornando a Alemanha um país sem energia nuclear, segundo a agência de notícias espanhola EFE.

O plano está a ser aplicado com um consenso generalizado, dado que apenas tem sido contestado pelo partido da extrema-direita AfD, mas gerou controvérsia quando se iniciou o debate, em 1998.

Biden alerta Putin para resposta "determinada" dos EUA caso Rússia invada Ucrânia

Conversa telefónica entre os dois chefes de Estado teve a duração de sensivelmente 50 minutos.

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou na quinta-feira o homólogo russo, durante uma conversa telefónica, que Washington responderá "determinadamente" a qualquer invasão da Ucrânia pela Rússia, enquanto Vladimir Putin frisou que sanções contra Moscovo serão um "erro colossal".

A conversa telefónica entre os dois chefes de Estado teve a duração de sensivelmente 50 minutos e o Presidente norte-americano alertou Putin que Washington responderá "determinadamente" a qualquer invasão da Rússia à Ucrânia, revelou a porta-voz da Casa BrancaJen Psaki.

Joe Biden defendeu ainda, perante o homólogo russo, que qualquer progresso diplomático implica uma "desescalada" de Moscovo na Ucrânia.

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