Bom dia, este é o seu Expresso Curto
2022. O ANO DE TODOS OS PERIGOS
Margarida Cardoso | Expresso
Bem-vindo a mais um Expresso
Curto 142 anos depois de Thomas Edison apresentar a lâmpada elétrica
Do outro lado do mundo já está tudo a postos para brindar ao Novo Ano com os
votos de sempre, mas em Portugal ainda temos 16 horas para preparar a entrada
sem cinto de segurança em 2022.
Fazer previsões para o ano que está a chegar é uma missão impossível. É que “desta
vez, não basta ter uma bola de cristal. Precisaríamos de juntar muitas bolas de
cristal e, mesmo assim, seria difícil avançar prognósticos”, diz ao Expresso
Adão Ferreira, secretário-geral da AFIA - Associação de Fabricantes para a
Indústria Automóvel, para explicar a dificuldade em traçar cenários sobre o
futuro.
Quarenta anos depois de Peter Weir realizar “O Ano de Todos os Perigos”, uma
adaptação ao cinema do romance de C. J. Koch sobre os dias sanguinários que
acompanharam a subida ao poder de Suharto na Indonésia, 2022 entra também em
cena como ano de todos os perigos, agora à escala global.
Inflação, infeção, vacinação, disrupção, contestação, eleição, coligação serão
palavras para usarmos e abusarmos nos próximos meses, sempre sob o manto da
incerteza. “É a palavra que temos de ter na mente quando pensamos em 2022.
Não fazemos ideia do que vai acontecer. Isso é terrível do ponto de vista da
economia e do investimento e é agravado pelo cenário geopolítico, da Ucrânia a
Taiwan, e por tudo o que ainda vamos ter de aprender sobre a covid-19 e as
mutações do vírus”, comenta Alberto Castro, diretor do Centro de Estudos
de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica Portuguesa.
“A inflação vai ou não disparar? A procura explode ou retrai? o bloqueio no
transporte de mercadorias continua ou desaparece subitamente como alguns
engarrafamentos na autoestrada? Tudo isto são perguntas para as quais não há
resposta certa, o que é brutal para quem tem de tomar decisões”, sublinha o
economista preparado para entrar no novo ano apenas com uma certeza: “a
incerteza declina-se em riscos e problemas económicos”.
No que respeita à política nacional, o politólogo António Costa Pinto escolhe
também “incerteza” como palavra-chave para 2022. Fala mesmo numa “enorme
incerteza no que respeita aos resultados das eleições legislativas, no final de
janeiro”. Arrisca, no entanto, quatro previsões: “se no passado uma
coligação à direita permitia sempre ter uma opção de governo estável, esse
cenário é, agora, improvável”, “não é expectável que o país tenha pela frente
muitos meses sem uma solução de governo”, “a curto prazo não existe correlação
significativa entre a dificuldade em formar governo e o seu impacto na
economia” e partindo do princípio de que nenhum partido sairá das eleições com
maioria absoluta, “Portugal vai continuar a ter uma democracia marcada
pela centralidade do Presidente da República”.
Lá fora, a tensão também está a aumentar, a elevar a incerteza a um novo
patamar. As incógnitas são muitas. As potenciais frentes de conflito
multiplicam-se. Na Europa, António Costa Pinto dá protagonismo “à consolidação
das estruturas políticas da União Europeia e à resposta a desafios como os que
estão a ser colocados pela Hungria e pela Polónia”, sem esquecer o drama dos
refugiados ou a Ucrânia. A nível global, “a forma como evolui a relação entre
os EUA e a China continua a ser determinante”, diz. No seu barómetro, o
grau de risco de Portugal “está no nível 6, mas na frente externa sobe para o
nível
Na MDS, multinacional portuguesa líder na consultoria de riscos e seguros,
presente em 122 países, o presidente José Manuel Dias da Fonseca antecipa
para 2022 “grandes riscos” de diferentes tipos, desde as alterações climáticas
e catástrofes naturais, “a aumentar em intensidade e frequência”, aos riscos
tecnológicos, em especial no que respeita à cibersegurança, manipulação da
informação incluída. Na economia, “continua a falar-se muito de pandemia e das
suas consequências, da disrupção das cadeias de abastecimento, da inflação”,
destaca o gestor sem esquecer referências aos sismos, à contestação social, à
violência urbana.
Se tivesse um barómetro, o grau de risco para 2022 “seria 7 numa escala de
OUTRAS NOTÍCIAS
Covid Sob
a pressão do aumento de novos casos da variante ómicron, no dia em que o número
de infetados em Portugal bateu o terceiro recorde consecutivo e o país
voltou a receber a classificação
de risco muito elevado, a Direção Geral de Saúde anunciou, quinta-feira, o
início de uma nova abordagem no combate à covid: O
período de isolamento de infetados assintomáticos e contactos de alto
risco reduz para sete dias, mas as
crianças não podem ser dispensadas de isolamento enquanto não tiverem uma
segunda dose. Ao mesmo tempo, entraram
em vigor as restrições impostas para a passagem de ano e temos oito
perguntas e respostas para perceber o que pode ou não fazer. Entre a
afluência às urgências hospitalares e as filas para os testes, ficamos a saber
que os
laboratórios científicos de instituições académicas não estão a ser utilizados
pelo Serviço Nacional de Saúde no diagnóstico à covid-19. Entretanto, as
doses de reforço para quem tem mais de 50 anos ficaram disponíveis, assim
como o autoagendamento
para a vacinação de crianças entre os 5 e os 11 anos. A economia lusa
continua a não ser imune ao contágio e recuou
na semana do Natal. Quanto às eleições, já
há regras sobre o voto dos eleitores confinados. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) fala num tsunami: A
contaminação mundial atingiu pela primeira vez o número simbólico de um milhão
de contágios diário.
Futebol Uma semana depois da derrota por 3-0 para a Taça, o
Benfica voltou ao recinto do Porto, agora sem Jorge Jesus, e perdeu por
3-1. No jogo de estreia ao comando dos encarnados, Nélson
Veríssimo admite que “a situação está complicada e difícil”. Do lado do
Porto, Sérgio Conceição reconheceu que a
preparação do clássico "não foi fácil" devido aos "pontos de
interrogação" sobre o adversário.
TAP Estado
injeta mais 536 milhões de euros e volta a ser dono de 100% do capital da
empresa.
Ex-banqueiros Ricardo Salgado foi acusado
de corrupção em mais um processo relacionado com o BES. O Ministério
Público deduziu acusação contra oito arguidos por crimes
que representaram vantagens num valor superior a 12,2 milhões euros. No
caso de João Rendeiro, o
prazo para o pedido de extradição da África do Sul foi prorrogado e a
sua advogada apresenta
recurso sobre a prisão preventiva.
IVAucher O Governo esperava devolver 200 milhões de euros aos
contribuintes. Afinal,
só devolve 37 milhões .
Ciência Que
inovações vai trazer a ciência em 2022? A luta contra a covid-
Energia Afinal,
o abastecimento dos carros elétricos não fica mais caro porque o Fundo
Ambiental paga a subida das tarifas. A
EDP renováveis encaixa 650 milhões de euros com a venda de projetos de
energia eólica e solar nos EUA. A Alemanha
desliga três centrais nucleares esta sexta-feira.
União Europeia A presidência francesa da UE arranca a 1 de janeiro. É
a oportunidade para o Presidente francês mostrar que França não perdeu peso no
seio da União Europeia.
EUA - Rússia Numa conversa telefónica de 50 minutos, os
presidentes dos EUA e da Rússia falaram da Ucrânia e fizeram alertas mútuos .
Cheias São
Tomé enfrenta as maiores cheias dos últimos 30 anos e pede ajuda
internacional.
Ainda se lembra do escudo? Sabe dizer quanto custava um café há 20 anos,
antes do euro entrar em cena? Esta
sexta-feira, se for clicando no site do Expresso, vai ter vários
textos e indicadores gráficos sobre a moeda que resistiu a quatro
crises, mas não pôs Portugal a crescer, o dia em que o multibanco começou a dar
euros, ou a farmácia funcionou como escola do euro. Vai ter, também, uma
fotogaleria com contos, escudos, centavos e tudo o que o euro levou. E se
preferir olhar para o futuro, será que vai dizer olá ao euro digital?
FRASES
Vai custar à volta de 12 milhões de euros à Câmara (de Lisboa), mas num
orçamento de mil milhões de euros é realmente muito pouco
Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, em
declarações à SIC sobre a decisão de ter transportes
gratuitos para jovens até aos 23 anos e maiores de 65 anos, em 2022.
Todos cometemos erros quando somos adolescentes: uns metem-se na droga, outros
juntam-se aos liberais-democratas
Elizabeth Truss, conservadora
e apontada como potencial concorrente ao lugar de Boris Johnson.
Um par de milhares de satélites não é nada. É como dizer aqui estão um par de
milhares de carros na terra - é nada
Elon Musk, presidente executivo da Tesla, sobre
as acusações de que os dispositivos da sua empresa de satélites deixam pouco
espaço para a instalação de outros satélites.
O QUE ANDO A LER
Este mês tenho andado à volta do Douro. Sob o pretexto da celebração dos 20
anos do Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade, recuperei “Porto
Manso” (1946), de Alves Redol, escritor do neorrealismo português,
talvez mais conhecido pelas paisagens rurais e humanas que criou no seu
Ribatejo natal. Este romance tem o nome de uma aldeia do Douro, mas aqui é “uma
aldeia imaginária”, avisa o autor, apesar da vida de António e de todos os que
como ele conduziram barcos rabelos rio abaixo, rio acima, entre naufrágios e
pobreza, serem dramas da vida real de um “porto bravo” que Redol conheceu in
loco, num longo estágio no Pinhão, para impregnar a alma com a luta e o
sofrimento das gentes do Douro.
Ainda no Douro, agora em 2021, há três trabalhos publicados recentemente no
Expresso que vale a pena ler, ouvir e ver. Num 2:59
focado na efeméride, a Margarida Mota lança um convite irrecusável: “Aceita
um vinho do Porto? O brinde é pelo Douro, que é património da humanidade há 20
anos”. Numa
conversa com Isabel Paulo, Fernando Bianchi de Aguiar, o homem que coordenou a
candidatura da paisagem cultural evolutiva e viva do Alto Douro Vinhateiro ao
selo da Unesco, conta como foi essa aventura, sem esquecer os problemas do
presente, com a fuga da população à cabeça. Joana
Ascensão e José Cedovim Pinto acompanharam o projeto Mátria, a primeira ópera
transmontana, “uma ode às montanhas e ao povo do Douro”, inspirada nas
palavras e nas personagens de ‘“Contos” e “Novos Contos da Montanha” de Miguel
Torga.
Noutro registo, partilho a sugestão da Mara Tribuna, minha colega na
Delegação Norte do Expresso, com um título que encaixa na perfeição nas
recomendações para o último dia do ano: Reset. Da autoria da humorista
Mariana Cabral, mais conhecida como Bumba na Fofinha,“é um podcast sobre
o outro lado: os falhanços, os defeitos e os fracassos. Numa abordagem
refrescante, onde se fala de tudo menos de sucessos e vitórias, ouvimos os
entrevistados a confessar muitos fiascos e flops pessoais, numa
conversa longa e informal com a apresentadora. O podcast tem duas
temporadas e 16 episódios. Por lá passaram personalidades como Ricardo Araújo
Pereira, Valter Hugo Mãe, Clara de Sousa, Salvador Sobral ou até José Avillez.
Em todos os episódios temos o lado mais íntimo e sincero de uma cara conhecida,
que não estamos habituados a ouvir. É um podcast que
mostra que errar é mesmo humano e que todos podemos fazer reset”.
Já em modo de despedida, deixo uma proposta musical: A cantora
norte-americana Natalie Cole morreu há precisamente seis anos (1950 - 2015), um
bom pretexto para recuperar
o dueto virtual que gravou com o pai, Nat King Cole: Unforgettable,
tal como este 2021 que hoje termina.
E como a noite promete ser longa, deixo ainda uma citação de Fernando
Pessoa que merece reflexão e pode ser tema de conversa mais logo: Nada
há de menos latino que um português. Somos muito mais helénicos — capazes, como
os Gregos, só de obter a proporção fora da lei, na liberdade, na ânsia, livres
da pressão do Estado e da Sociedade. Não é uma blague geográfica o ficarem
Lisboa e Atenas quase na mesma latitude. (Sobre Portugal - Introdução ao
Problema Nacional. Fernando Pessoa. Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e
Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão)
Continue na nossa companhia no Expresso,
na Sic, na Tribuna e na Blitz.
Boas Leituras para 2022
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