Era uma vez três amigos, Tshipampa, Mbua e Vumbama, que viviam na aldeia de Tshimpindi. Eram jovens, muito fortes e trabalhadores. Mas como na sua terra não existiam meninas em idade de casar, eles resolveram ir a uma buala distante à procura de noivas. Passaram rios e florestas, enfrentaram mil perigos e um dia chegaram à aldeia onde habitavam as mais belas meninas do Maiombe. Foram ter com o soba e explicaram que eram fortes e trabalhadores, mas não tinham posses para pagar o alambamento. Para compensar o soberano, ficavam a trabalhar nas suas terras o tempo que fosse preciso.
O soba disse aos três amigos que nos seus domínios ninguém pagava alambamento. Os homens que queriam casar apenas tinham que cumprir as condições que ele impunha.
- Se quiserem levar noivas para a vossa aldeia têm de passar aqui a noite. Amanhã, quando o Sol nascer, cada qual recebe um saco e leva-o às costas até ao destino. Mas só podem abrir o saco dentro de vossas casas! Quem cumprir tem direito a uma noiva.
Tshipampa, que era muito voluntarioso, disse logo que sim. Mbua e Vumbama acompanharam o amigo, mas ficaram preocupados porque o saco que tinham de carregar às costas podia ser demasiado pesado para as suas forças.
Os três amigos naquela noite quase não dormiram, estavam muito emocionados com a possibilidade de terem mulher e constituírem família. Mal o dia começou a clarear, o soba foi acordá-los:
- A primeira condição está cumprida. Agora peguem nos sacos e vão-se. Quando os abrirem dentro de vossas casas vão ver que fui muito generoso!
Os três amigos pegaram nos sacos e partiram de regresso a casa com eles às costas. Ao fim de um dia de viagem Tshipampa propôs aos dois amigos uma pausa para descansarem. Mas Mbua e Vumbama recusaram. Eles queriam chegar rapidamente a casa para abrirem os sacos que tanto pesavam.
Tshipampa acompanhou os amigos, fazendo um grande esforço, pois o seu saco era mesmo muito pesado. Quando surgiu no caminho um rio de águas mansas, ele propôs aos amigos que parassem um pouco para descansar e tomar banho. Os dois amigos recusaram.
O jovem estava extenuado e disse aos amigos para seguirem que ele ficava a descansar um pouco na margem do rio. Mbua e Vumbama aconselharam-no a prosseguir, mas ele não lhes deu ouvidos. Estava em repouso na margem do rio quando teve uma ideia:
- Como ninguém está a ver, vou abrir o meu saco. Preciso de saber o que tem dentro e que tanto pesa!
- Se assim pensou, mais depressa
fez. Tshipampa abriu o saco e de lá saiu a mais bela jovem que alguma vez tinha
visto. Quando ia perguntar-lhe o nome, ela correu para as águas do rio,
mergulhou e nunca mais apareceu. O jovem passou dias e noites chamando por ela,
procurando o seu rasto nas margens. Mas
Tshipampa regressou à cidadela real, chorando tanto que atrás de si ficava um rio de lágrimas. Quando chegou ao destino foi falar com o soba e contou-lhe a sua desgraça. O soberano não o censurou mas disse que se queria outra noiva tinha de pagar o alambamento.
Tshipampa propôs trabalhar eternamente para o soba, mas a proposta foi recusada. Olhou para o céu, à espera de uma resposta, mas obteve apenas silêncio. Tshipampa estava sozinho, seus amigos já deviam estar na aldeia e abriram os sacos nas suas casas. Devem ter ficado maravilhados com as noivas que carregaram com tanto sacrifício. Ele estava com as mãos atadas. Porque também não queria regressar a casa sem a sua noiva.
Alguns dias depois Tshipampa foi empurrado para fora da cidadela real e entregue aos bichos do Maiombe. Por lá ficou a penar, por ter rompido um contrato de honra. Ninguém pode faltar à palavra dada.
Moral da história: I”mbua kupodiku nata nivesse wali ku bika bundola uncica ezifumo. O cão e o bode não pagam alambamento.
*Esta história foi-me contada por José Casimiro em Cabinda
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