A declaração da UE de guerra económica e financeira contra a Rússia pode sair pela culatra
# Publicado em português do Brasil
Isso deve aterrorizar os países que estão resistindo à reimposição contínua dos EUA de sua hegemonia unipolar em declínio, mas também pode sair pela culatra se eles cooperarem mais de perto na aceleração da transição sistêmica global em andamento para a multipolaridade, desde que seus líderes continuem resistindo com sucesso à pressão dos EUA.
Não deve haver ilusões sobre o armamento de instrumentos econômicos e financeiros do Ocidente liderado pelos EUA depois que o Ministro das Finanças francês acabou de declarar que a UE travará “guerra econômica e financeira total” contra a Rússia. Isso deve aterrorizar o mundo porque significa que países comparativamente menos fortes do que a Grande Potência da Eurásia inevitavelmente acabarão na mira também com o tempo. Eles serão alvos como a Rússia se ousar desafiar as demandas hegemônicas do Ocidente liderado pelos EUA.
O presidente Putin anunciou a operação especial de seu país na Ucrânia no final da semana passada com o pretexto imediato de proteger o povo russo indígena das Repúblicas Donbass que Moscou reconheceu dias antes, embora o grande objetivo estratégico seja garantir a integridade de suas linhas vermelhas de segurança nacional que a OTAN atravessado naquele país. A falha em agir quando o fez acabaria levando à neutralização das capacidades de segundo ataque nuclear da Rússia e a um próximo ataque convencional contra ela pela OTAN.
A Rússia não é o único país ameaçado pelo Ocidente, já que a China e o Irã também estão entre seus principais alvos. Esses países, no entanto, há muito são considerados como um desafio à hegemonia em declínio dos Estados Unidos, e é por isso que surpreendeu muitos quando a Etiópia de todos os estados também acabou recentemente na mira. Esse país costumava ser um forte aliado ocidental, mas foi punido pelo equilíbrio pragmático de seu governo entre as superpotências americana e chinesa.
A tentativa dos EUA de reimpor sua hegemonia unipolar em declínio a todos os outros significa que a Etiópia não será o último país do Sul Global a ser alvo dela, para não mencionar o último aliado americano até então existente. Qualquer país que resista às tentativas de Washington de dividir o mundo em blocos chamados “autoritários liderados por chineses” e “democráticos liderados por americanos” sofrerá o impacto das guerras híbridas multidimensionais do Ocidente liderados pelos EUA contra eles, especialmente econômicos, financeiros, e guerra de informação.
A UE já se alinhou completamente com seu patrono americano quando se trata da Rússia, o que implica que em breve também poderá fazer o mesmo em relação à China sob demanda. Os Estados do Golfo que recentemente se aproximaram muito dessas duas Grandes Potências da Eurásia podem em breve se tornar os próximos alvos do Ocidente liderado pelos EUA, embora a alavancagem central que eles exercem sobre o mercado global de energia possa fazer Washington duvidar da sabedoria de provocando-os demais.
A ASEAN terá que seguir uma linha cuidadosa entre os EUA e a China no futuro próximo, já que não pode se dar ao luxo de cortar a República Popular com quem seus países negociam tanto. Esse bloco do Sudeste Asiático também faz parte da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) ao lado da China e vários outros países, portanto, resta ver qual efeito a pressão americana poderia ter nessa plataforma. Se esses países não se submeterem aos EUA, eles poderão em breve ser alvo de guerras de informação, no mínimo.
Toda a África já viu o que aconteceu com a Etiópia, então alguns dos países mais fracos que estão em relações neocoloniais com o Ocidente obviamente não ousarão desafiar seus patronos, mas aqueles que estão mais confiantes em flexionar sua autonomia estratégica podem apostar que é melhor a chance de replicar esse ato de equilíbrio de Adis Abeba em busca de seus interesses nacionais. Afinal, a Etiópia também deu um exemplo brilhante de que os países africanos podem de fato resistir a essa pressão da Guerra Híbrida Ocidental liderada pelos EUA.
A neutralidade de princípios da Índia e do Brasil em meio às tensões Rússia-OTAN pode fazer com que essas duas grandes potências multipolares e colegas membros do BRICS se tornem os próximos alvos das campanhas de pressão ocidentais lideradas pelos EUA. Isso já está acontecendo, embora mesmo antes disso, quando a mídia americana começou a relatar de forma muito crítica sobre questões dentro desses países que seus governos consideram seus assuntos puramente internos que os estrangeiros nem deveriam comentar.
Sempre esteve entre as grandes prioridades estratégicas dos Estados Unidos quebrar o BRICS, que se tornou moribundo nos últimos anos, mas mostrou alguns sinais de renascimento no ano passado, então esses cenários são esperados. As consequências de seu sucesso, que parecem mais prováveis no caso brasileiro do que no indiano, podem ser de longo alcance, por isso é importante para eles se manterem firmes diante de tamanha pressão.
Isso não quer dizer que Bolsonaro seja o melhor líder para o Brasil, mas apenas para apontar que os formuladores de políticas por trás dele que são os verdadeiros responsáveis pela neutralidade de princípios de seu governo nessas circunstâncias devem garantir que não sejam substituídos se ele for deposto por democracia. (embora provavelmente apoiado indiretamente pelos EUA) significa após a próxima eleição. O cenário ideal é que Lula, quem quer que venha a assumir o cargo depois dele, retenha esses especialistas a todo custo.
Voltando ao tema principal desta análise, no entanto, a declaração da UE de guerra econômica e financeira total contra a Rússia é também uma declaração do mesmo contra o mundo inteiro. Deveria aterrorizar os países que estão resistindo à reimposição em curso dos EUA de sua hegemonia unipolar em declínio, mas também pode sair pela culatra se eles cooperarem mais de perto na aceleração da transição sistêmica global em andamento para a multipolaridade, desde que seus líderes continuem resistindo com sucesso à pressão dos EUA.
* Andrew Korybko -- analista político americano
Ler
The Guardian está errado: não é antissemita descrever a Ucrânia como fascista --- The Guardian Is Wrong: It’s Not Anti-Semitic To Describe Ukraine As Fascist
A restrição do Facebook à mídia russa na UE revela a hipocrisia do Ocidente --- Facebook’s Restriction Of Russian Media In The EU Reveals The West’s Hypocrisy
China, Índia, Irã e Paquistão se tornaram muito mais importantes para a Rússia --- China, India, Iran, And Pakistan Just Became So Much More Important To Russia
Sem comentários:
Enviar um comentário