sábado, 7 de maio de 2022

O JORNALISMO QUE FAZ FALTA PARA ANIMAR A MALTA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje peço a palavra para falar com os meus colegas de profissão. Todos, desde o Luís Alberto Ferreira, meu camarada de Redacção no Jornal de Notícias e o jornalista angolano mais antigo ainda em actividade, até às e aos jovens que começaram comigo, a dar os primeiros passos na profissão. Imaginem que são enviados para a Ucrânia para fazerem a cobertura dos acontecimentos. O que faziam? Claro, a primeira coisa é estudar pormenorizadamente o teatro dos acontecimentos. Muito bem, camaradas.

Feito o estudo, isolamos os temas mais importantes que vamos tratar nas nossas reportagens. A Ucrânia fez parte da União Soviética. Os mais altos dirigentes do país eram oriundos daquela República Socialista. Em sete presidentes da URSSS (líderes do país e do Partido Comunista) dois eram ucranianos, Nikita Kruschev, que nasceu em Kalinovka, e Leonid Brejnev, nascido em Kamianske. Dos restantes, cinco nasceram na Rússia e um (Staline) na Geórgia.   

Ucrânia é o acontecimento que vamos cobrir. Estão lá milhares de informações. Temos que isolar as que nos vão permitir apresentar o bilhete de identidade da notícia. Kiev, a capital, tem de fazer parte do nosso trabalho. Antes de chegarmos ao objectivo, estudámos que é uma das cidades mais antigas da Europa de Leste. Entre os séculos X e XII foi um símbolo cultural e político na região e capital do Principado de Kiev ou Rússia Kievana. No dealbar do século XIII foi invadida, ocupada, destruída e perdeu o seu fulgor.

A Revolução Industrial da Rússia deu a Kiev um novo e decisivo impulso (finais do século XIX). Depois da Revolução de Outubro (1917) Kiev tornou-se uma importantíssima cidade da República Socialista Soviética da Ucrânia, mas só em 1934 foi a capital. Depois da II Guerra Mundial registou tal crescimento que se tornou a terceira maior cidade soviética, depois de Moscovo e Leninegrado.

O Príncipe Potemkine, marido favorito da czarina Catarina, depois de muitas peripécias pícaras e vigarices hilariantes decidiu fazer da Crimeia e da Ucrânia o paraíso. Não conseguiu. Mas fez muito. Foi ele o fundador da cidade de Denipro, hoje a quinta maior da Ucrânia. O governante, mais tarde marechal de todas as Rússias, centrou os seus projectos no grande rio Dniepre, que vem da Rússia, passa pela Bielorrússia, entra na Ucrânia e mergulha tranquilamente no Mar Negro. O túmulo de Potemkine está na cidade de Denipro, numa das mais belas igrejas do mundo. Vamos fazer lá uma reportagem. Nem só de guerra vive o Homem.

No início de 2014, Kiev foi palco de um sangrento golpe de estado. As tropas de choque eram hordas nazis, armadas e apoiadas pela União Europeia (Alemanha), os EUA e seu braço armado, a OTAN (ou NATO). O presidente eleito democraticamente, Viktor Yanukovych, em eleições livres e justas, foi derrubado pelos golpistas “Euromaidan” assim chamados porque defendem o corte com a Federação Russa e alianças com a União Europeia e a OTAN (ou NATO). O presidente golpista, Petro Poroshenko, um oligarca em estado puro e no ponto do chocolate, fez publicar um pacote legislativo, as famosas “leis anticomunistas”, que levou à ilegalização de vários partidos defensores da ideologia comunista (abolição da propriedade privada, entre outras maravilhas do Pensamento Humano). 

O golpe de estado foi ponto de partida para uma guerra civil sangrenta no Leste da Ucrânia, cujas populações recusaram o poder de Kiev. Milícias nazis (Bandera, Sector Direita e Batalhão de Azov) desencadearam na região um genocídio, como afirmam os relatórios do alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Tão assassinos como as milícias dos colonos em Luanda, no 4 de Fevereiro, e no 15 de Março, em todo o Norte de Angola.

Vamos cobrir a guerra na Ucrânia. Bombas, mísseis, assassinatos selectivos, violações, tortura e outras desumanidades são factos obrigatórios da nossa cobertura jornalística. Mas à boleia da guerra, o presidente Zelensky decretou a Lei Marcial e proibiu 11 partidos políticos entre os quais o maior partido da Oposição. O seu líder está preso. A Amnistia Internacional e os democratas ocidentais fingem que não sabem de nada.

As nossas equipas de reportagem vão incluir, obrigatoriamente, entrevistas com os dirigentes dos partidos ilegalizados durante as operações militares, mas também os que foram vítimas das “leis anticomunistas”. O que pensam os ucranianos do presidente Zelensky, que prometeu uma Ucrânia próspera e sem pobreza, mas arrastou o país para a guerra e a destruição? Claro que temos de tapar o rosto dos que derem as suas opiniões. Distorcer as vozes. Esconder as suas identidades. Garantir absoluto sigilo. Os agentes da PIDE da Ucrânia são particularmente violentos e cruéis. Iguais aos pides e bufos que mataram milhares de angolanas e angolanos que se batiam pela Independência Nacional.

Os dirigentes, militantes, simpatizantes e votantes dos partidos ilegalizados têm uma palavra a dizer. Os falantes de russo, que têm sido perseguidos e violentamente reprimidos, têm uma palavra a dizer. Os militantes das milícias Bandera, Sector Direita e Batalhão de Azov têm voz para explicarem ao mundo por que fizeram ressuscitar a ideologia nazi na Ucrânia. 

Os membros do governo também são ouvidos. Por que proíbem as comemorações do Primeiro de Maio? Por que proíbem as comemorações do 9 de Maio, Dia da Vitória, que marca a capitulação do III Reich ante o Exército Vermelho, quando tomou Berlim? Que democracia é essa que silencia todos os partidos da Oposição?

Já fiz o levantamento dos noticiários de todos os Media Ocidentais, Rádio, Imprensa, Televisão. Nem uma ou um “enviado especial” cumpriu o dever de cuidado. Todas e todos violaram os mais elementares deveres do Jornalismo. Todas e todos se limitaram à propaganda mais rasteira. Um rapaz do canal português RTP, que se destacou como criadito do “presidente Guaidó” da Venezuela, leva a vigarice a tais níveis que até dói. Ele reporta acontecimentos a 600 quilómetros do local onde está. E conta pormenores! Isto só em Portugal é Jornalismo. 

Vamos fazer reportagens para a Ucrânia mas sem obedecer às ordens da CIA, do Pentágono e da Internacional Nazi que domina os países do Ocidente. Sabemos como se faz. 

Vou dar uma saltada à Palestina. Um tribunal israelita decidiu expulsar 1200 palestinos das suas terras na Cisjordânia, para ali nascer mais um colonato judeu. O outro é que tem razão. Os piores antissemitas são os judeus. E Lavrov sabe o que diz. Aquele tribunal fez o mesmo que faziam os tribunais de Hitler, quando roubavam os judeus ricos. Este tribunal israelita roubou palestinos paupérrimos. Utra nazis da cabeça ao tronco, ao membro e aos pés. 

Em Portugal a festa anticomunista continua, animada pelo PSD. O partido agora quer rever a Constituição da República. Onde está a proibição de organizações fascistas, eles querem emendar para “organizações totalitárias”. Percebem? Aí cabe tudo. Podem ilegalizar quem quiserem, até o Partido Socialista se o poder de turno entender que defender o socialismo é próprio de organizações totalitárias. Otelo, tens de fazer o 50 de Abril, o 25 ficou curto! Aí estão os fascistas, em chusmas, prontos para a vingança.

O mundo ocidental está de cócoras ante o presidente Zelensky. Presidentes, ministros, ministras, chulos, prostitutas, oligarcas, monarcas, todos se acotovelam para ir ao beija-mão do nazi chefe de Kiev. E ele dá-lhes ordens. Senhor Papa, venha cá! O Papa, cheio de medo, mandou dizer que não vai porque está à rasca do joelho. Presidente Frank-Walter Steinmeier, você não vem a Kiev! Nunca se viu um alemão afastar-se do nazismo de uma forma tão chocante! Chanceler Olaf Scholz, pode vir a Kiev. Mas não aparece com essa careca. Os russos podem pensar que é uma pista de aviação e bombardeiam-nos. Heil, Hitler! 

Senhor primeiro ministro António Costa, pode vir a Kiev! Mas comece a usar aquele creme do Michael Jackson para ficar mais clarinho. Os meus SS não gostam de escurinhos. Quando estiver clarinho pode vir. Traga o seu SS Santos Silva. Os cus da Assembleia da República passam bem sem ele. Mas tem que usar chinó. Não quero cá carecas mentais.

Biden, Biden! Acorda. Já podes vir a Kiev. Mas não tragas o teu filho.  Ele faz-me cócegas. 

Johnson, Johnson vem a Kiev outra vez, para copiar o teu penteado. Antes de saíres de primeiro-ministro do império colonial britânico, vem dar-me um abraço. Beijinhos na tola.

O Conselho de Segurança da ONU, pela primeira vez desde 24 de Fevereiro, aprovou um documento onde se fala de paz na Ucrânia. O Biden vai mandar a última sucata para a Ucrânia com o rótulo armas, armas, armas. O Macron vai rezar a Notre Dame para que os oficiais franceses encurralados em Mariupol sejam devolvidos sem dizerem a ninguém o que estavam a fazer na Ucrânia antes de 24 de Fevereiro. O Batalhão de Azov acabou. Pelo menos uma parte da desnazificação da Ucrânia está concluída. Dou a notícia em primeira mão. 

Grande reportagem!

 *Jornalista

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