sábado, 18 de junho de 2022

Moçambique | Ataques terroristas causam nova onda de refugiados

A Organização Internacional das Migrações estima o número de deslocados da nova vaga de ataques em Cabo Delgado em 12.000. As autoridades de Nampula dizem carecer de meios para prestar uma assistência adequada.

Nos últimos dias, a província de Nampula tem vindo a registar um aumento de cidadãos chegados de Cabo Delgado, em fuga dos ataques terroristas. Os distritos de Eráti, Memba, Nacaroa, Meconta e Nampula-cidade são os que mais pessoas deslocadas recebem.

O delegado provincial do Instituto Nacional de Gestão e Redução de Desastres (INGD), Alberto Armando, disse à DW África que não dispõe ainda do número exato dos refugiados novos em Nampula, apesar da monitorização nos locais de entrada.

A preocupação prioritária é velar para que os refugiados tenham abrigo, diz o delegado. À chegada é constatado se têm familiares na região, para os quais, e caso positivos, são depois encaminhados.

Dias de medo no mato

Alberto Armando diz que, para já, não há necessidade da criação de um centro transitório para acolher os deslocados. Além de que "em Corane [o primeiro e maior centro de deslocados internos] temos espaço para quem estiver interessado", disse. Alguns deslocados contaram à DW África que não têm abrigo e passam fome.

Outros ainda estão marcados pelas experiências que passaram. Rosa Bernardo fugiu de uma aldeia do distrito de Ancuabe, depois dos ataques terroristas na região que fizeram vários mortos na semana passada.

"Eu [na altura] estava a cartar água e ouvi que [os terroristas] já entraram na nossa aldeia. Fugimos para o mato” conta, onde teve que permanecer os quatro dias em que os terroristas não saíram da sua aldeia. "Comíamos mandioca no mato", diz.

Enquanto se procura apurar o número de deslocados, foram enviadas para o distrito de Erati, porta de entrada dos refugiados na província de Nampula, cerca de cinco toneladas de arroz e farinha de milho, revela o delegado do INGD.

680 mil pessoas precisam de ajuda em Nampula

Alberto Armando diz ainda que, neste momento, o governo não tem muitas condições para prestar assistência humanitária.

Em Nampula, além dos deslocados de ataques terroristas, as autoridades governamentais e parceiros também assistem mais de 680 mil pessoas afetadas pelas calamidades e pelos ciclones Ana e Gombe.

Enquanto isso, a embaixada dos Estados Unidos de América em Moçambique promete doar, no próximo ano, mais de 100 milhões de dólares para assistência humanitária aos deslocados e vítimas dos desastres, segundo o embaixador Peter Vrooman.

"[Este apoio] não é só para Nampula, mas para o povo deslocado de Cabo Delgado nessa província e em Nampula. A assistência é para o povo que está deslocado e para impulsionar a reconstrução", disse.

Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle

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