quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Portugal | FARINHA PARA ENGORDA

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Mal nasceu e o Banco de Fomento já soma e multiplica escândalos, confirmando que foi nado e criado para ração de tachos e panelas.

Não é um novo banco, mas também não é um banco novo. A história repete-se, é a mais antiga do mundo, é a de sempre, a receita é velha, velha é a receita. Este Banco de Fomento é mais um Banco Bolorento, Bafiento, com o propósito de sempre - dar cobertura a um punhado que se julga muito empreendedor, mas não faz nada sem o doce amparo do Estado. Enfim, mais uma cantina de gamelas e marmitas para os tudo bons rapazes e raparigas. Como era evidente desde o seu anúncio, o seu propósito nunca foi estimular a economia e apoiar as empresas - até porque para isso já existe, supostamente, a Caixa Geral de Depósitos, o maior banco nacional, com recursos e mecanismos de compliance bastantes para responder ao PRR.

A coisa nasceu torta, selando-lhe a já aberrante sina: ainda em 2020 escolheram Vítor Fernandes para essa instituição bancária que vai gerir a Bazuka. Sucede que se esse nome já levantava orelhas em virtude da sua passagem pela Caixa, confirmou-se depois que terá sido um dos banqueiros no ex-BES a favorecer os esquemas de Luís Filipe Vieira na dívida de 54 milhões da Imosteps. O Banco de Portugal lá teve de reavaliar a sua idoneidade... sendo que foi Mário Centeno quem, enquanto ministro das Finanças, vendeu o Novo Banco... claro que inicialmente passou pelo crivo sem resistência. Que bar aberto!

Este Banco de Fomento é mais um Banco Bolorento, Bafiento, com o propósito de sempre - dar cobertura a um punhado que se julga muito empreendedor, mas não faz nada sem o doce amparo do Estado.

Mas não foi caso único. Também já se verificou a entrada em via verde de um secretário de Estado para o dito banco, Alberto Souto Miranda ou a história de Mário Ferreira. A ainda CEO, Beatriz Freitas, que também acumula as funções de chairman, ainda não aprovou as contas de 2021 (e as de 2020 só foram aprovadas este ano), gerando uma opacidade inaceitável, quando já está no Tribunal de Contas a transferência de 250 milhões de euros dos fundos para capitalizar o banco. Ora, capitalizar um banco público que nunca prestou contas só pode ser crime. A este regabofe soma-se a saída do director de compliance. Porquê? Nunca se apurou, da mesma forma que não se entende quem pode receber, os critérios de elegibilidade das candidaturas, a publicitação dos concursos, a fiscalização da tesouraria das empresas beneficiadas, a imparcialidade do júri, limites de verbas, etc... Sobretudo, não se percebe a estratégia para o país. Muito menos neste lamaçal de obscurantismo. Ou será esse mesmo o interesse nacional?

Em 23 meses, o Banco Bolorento contratou externamente o fornecimento de 8,8 milhões de euros em bens e serviços, sendo que celebrou 73 contratos de ajuste direto, no valor de seis milhões de euros. Já a sua Comissão de Auditoria avisou que os objetivos estratégicos estão condicionados. Controlo interno é área que preocupa - e é aquela que está a ser auditada pelo Banco de Portugal. Isto já para não falar no escorbuto de independência deste banco, visto que Diogo Lacerda Machado, o melhor amigo de António Costa, depois de entrar pela saída de emergência na TAP, e após vários loops, é administrador da holding beneficiária de tais fundos.

É preciso dizer mais? O Bafiento é um compacto de esquemas, trocas de favores, saques e esbulhos do dinheiro dos portugueses e dos europeus. Já Marcelo prometeu ao país um controlo férreo destes fundos, lembram-se? O Presidente da República também não.

*Psicóloga clínica -- Escreve de acordo com a antiga ortografia

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