< Artur Queiroz*, Luanda >
Uma manifestação de estudantes levou à identificação de manifestantes e jornalistas que cobriam o acontecimento. Em Portugal a notícia correu célere, nestes termos: “Polícia Angolana Prendeu Quatro Jornalistas”. Um deles foi “libertado” 15 minutos depois. Os outros mais ou menos. Ninguém foi preso. Os cristãos novos da democracia acham que o direito de manifestação é absoluto. Os manifestantes até podem atacar agentes da polícia e violar espaços interditos.
O repórter da DW África, Borralho
Ndomba, foi abordado por agentes da polícia, que lhe disseram: "O senhor
jornalista não pode permanecer dentro do perímetro de segurança. Tem de sair
daqui”. Desobedeceu. Vai daí foi identificado. O mundo entrou
O mesmo se passa com a sacrossanta liberdade de imprensa. Na Jamba não tinha qualquer travão. Ilimitada. A Vorgan todos os dias apontava o dedo ao assassino e criminoso de guerra Jonas Savimbi. O Abílio Camalata Numa e as suas pauladas eram tema de notícias diárias.
Os jornalistas cobriam todos os dias manifestações contra os traficantes de droga e os kamangistas que se abasteciam no supermercado da Jamba. Ficou famosa a manifestação contra Savimbi e PW Botha quando o chefe do regime racista de Pretória foi dizimar elefantes no Cuando Cubango. Amplíssimas liberdades de manifestação, de expressão, de imprensa. Não sei o que seria do Jornalismo Angolano sem o exemplo da Jamba. E sem a lições democráticas do regime de apartheid.
UNITA e seus sócios querem a mesma liberdade no resto de Angola. O problema é que na democracia representativas todas as liberdades têm limites. E os direitos de cada um acabam onde começam o direito dos outros. Acreditem em mim que passei a vida lutando pela Liberdade de Imprensa. A sério. Nem imaginam as vezes que o meu trabalho foi para o lixo, cortado pela comissão de censura. Os patrões não davam trabalho a quem só sabia escrever em liberdade, ignorando os censores.
Em Angola temos um Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Os seus membros estão em estado de choque porque um repórter foi identificado pela polícia durante oito minutos! Não pode. Jornalista é igual a João Lourenço. Intocável como deus. A sua carteira profissional é uma espécie de licença de caça grossa que dá para matar tudo, desde pacaças às honras alheias.
O Comité de Proteção dos Jornalistas (CPJ) tem um objectivo existencial que é descriminalizar em Angola o gravíssimo crime de difamação, ainda que seja punido com uma bagatela penal. Na Europa, Ucrânia (em 2001), Bósnia y Herzegovina (em 2002) e Geórgia (em 2004) já descriminalizaram. O Sri Lanka (em 2002) também. Em África, o Gana retirou à difamação a carga criminosa. Tudo democracias exemplares.
Na União Europeia difamação continua a ser crime. Isto quer dizer que os membros do cartel ainda não perderam totalmente a vergonha. Os cidadãos, por enquanto, não são meros contribuintes e depositantes de votos nas eleições. A difamação ocorre quando alguém, publicamente, por viva voz, escrito ou desenho, imputa a outro um facto ofensivo da sua honra e consideração, ou reproduz essa imputação. Difamação é um dos três crimes contra a honra. É punida pelo Artigo 409.° do Código Penal Angolano.
Nos países onde deixou de ser crime, os difamadores pagam uma indemnização! Que se lixe a honra. Abaixo o bom-nome e a consideração social. Atacar a honra é o mesmo que estacionamento proibido. E mais suave do que beber muito e conduzir. Porque se a taxa de álcool no sangue for elevada, é crime. Difamar não. É isto que quer o tal Comité de Protecção dos Jornalistas. Está criminosamente contra o Jornalismo.
No princípio era o clero, a
nobreza, os servos da gleba e os escravos. Os clérigos e nobres eram personalidades.
Os do povinho não eram nada. Não tinham direitos nem liberdades. Até que entrou
Quando difamar deixar de ser um crime contra a Honra, os seres humanos ficam ocos. Uma mulher ou um homem sem honra valem menos do que frangos de aviário que não têm mãe e pai. Nem para churrasco servem.
Sem cidadãos com Direitos de Personalidade, os jornalistas estão a trabalhar para o boneco. Produzem notícias, reportagens, entrevistas e crónicas para ninguém. Se é isso que querem, então acabem com o Jornalismo. Acabem com o Poder Judicial. Fechem os Tribunais e os Media. Todo o o poder ao ditador de serviço e bombardeiem os consumidores com lixo mediático. Venham daí as falsas notícias.
* Jornalista
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