Artur Queiroz*, Luanda
A História Universal tem milhares de páginas que nos mostram reacções humanas, no mínimo, absurdas. Escravos que se revoltaram contra os seus libertadores, servos da gleba que beijavam os pés dos senhores implorando mais chicotadas, mulheres que louvavam os seus violadores e agressores, povos inteiros que suplicavam aos ocupantes a botifarra no pescoço.
Em Angola temos inúmeros exemplos que cobrem todos estes episódios. Filhas e filhos que endeusam Savimbi apesar de ser o assassino das suas mães. Pais, irmãos e irmãs são savimbistas, apesar de terem visto suas filhas e filhos atirados para as fogueiras da Jamba. Quadros políticos de alto nível da UNITA que foram libertados pelo Governo, hoje glorificam Savimbi e caluniam os libertadores. Temos uma situação particular que deve ser única no mundo.
A gravíssima crise económica, financeira e social em que estamos mergulhados tem uma causa, a guerra, há muitos anos identificada mas absolutamente ignorada quando responsáveis políticos analisam a conjuntura. E ao atirarmos este facto indesmentível para baixo do tapete ou para a lixeira, estamos a exonerar a UNITA das suas responsabilidades, apesar de ter estado presente nas guerras de agressão contra Angola e o Povo Angolano, desde 1966,. Não é preciso recuar tanto, basta irmos a Novembro de 1994.
No momento em que estava a ser assinado o Protocolo de Lusaka, Jonas Savimbi recebia no Bailundo, Andulo e outras plataformas logísticas mais ou menos fronteiriças, toneladas de armamento para fazer a guerra em nome dos restos do colonialismo português e da Irmandade Africâner. A UNITA impôs a Angola mais oito anos de guerra sem quartel. Lamentavelmente, temos angolanas e angolanos com altas responsabilidades em todos os sectores da vida nacional que não percebem o que isto significa.