Tchizé dos Santos afirma que José
Eduardo dos Santos "está vivo", com "todos os órgãos a
funcionar" e o seu estado de saúde é estável.
A filha do antigo presidente
angolano, Tchizé dos Santos, afirmou esta terça-feira (28) que "não vai
permitir que desliguem as máquinas" a José Eduardo dos Santos e acusou o
atual chefe do executivo, João Lourenço, de estar a fazer uma gestão política
do caso.
Num áudio posto a circular nas
redes sociais, sob a forma de recado "para quem anda a fazer os
preparativos para o funeral do presidente emérito do MPLA", Tchizé
dos Santos afirma que José Eduardo dos Santos "está vivo", com
"todos os órgãos a funcionar" e o seu estado de saúde é estável.
Acusou ainda o médico João
Afonso, que acompanha o ex-presidente há vários anos e com quem entrou em rota
de colisão, de "andar a plantar" informações na comunicação social
para preparar a opinião pública para a morte do antigo presidente, que governou
Angola durante 38 anos, enquanto "tentam convencer a família" que
deve autorizar os médicos a desligar as máquinas.
"Eu, como filha, nunca irei
permitir que desliguem as máquinas de um pai vivo, que tem o coração a bater
normalmente, um coração que está bom, não teve ataque cardíaco, não teve
AVC", afirma a empresária e antiga deputada do MPLA, partido no poder em
Angola desde a independência, em 1975.
Tchizé dos Santos reforça que
visitou o pai e que este, apesar de internado há quatro dias, "está
vivo".
Dirigindo-se a João Lourenço, que
orientou o ministro angolano das Relações Exteriores para viajar até Barcelona
para acompanhar o estado de saúde do ex-chefe de Estado, aconselhou o
Presidente angolano a preparar o seu próprio funeral e avisou que "ninguém
vai permitir que se desliguem as máquinas".
Acusou ainda João Lourenço de
querer retirar dividendos políticos, "para aparecer em grande e meterem
bandeiras do MPLA em cima do caixão" de José Eduardo dos Santos.
Alguém "que está
extremamente dececionado consigo e com o MPLA, está extremamente triste e não
ia fazer campanha para vocês", prosseguiu Tchizé dos Santos, aludindo às
eleições gerais marcadas para 24 de agosto.
"Provavelmente iria mesmo
querer ver alternância política", rematou.
O conflito entre João Lourenço e
alguns dos filhos do seu antecessor teve início quase após a tomada de posse,
em setembro de 2017, agravando-se com os processos em tribunal que contra a
empresária Isabel do Santos, ainda em curso, e Filomeno dos Santos, já julgado
e condenado mas aguardando recurso depois de ser condenado a uma pena de prisão
no âmbito do caso que ficou conhecido como "500 milhões"
Por seu lado, Tchizé dos Santos
saiu do país em 2019 por, alegadamente, correr risco de vida, foi suspensa do
comité central e acabou por perder também o seu mandato de deputada na bancada
do partido do poder, MPLA.
As duas filhas de José Eduardo
dos Santos têm manifestado publicamente as suas divergências com o regime,
afirmando ser vítimas de perseguição e acusando o governo angolano de usar a
justiça de forma seletiva para atingir familiares e outras pessoas próximas do
seu antecessor.
O ministro das Relações
Exteriores de Angola viaja quarta-feira de manhã para Barcelona para acompanhar
o estado de saúde do ex-presidente José Eduardo dos Santos, cuja situação de
saúde se deteriorou nas últimas horas, disse fonte oficial à Lusa.
José Eduardo dos Santos está
internado numa clínica em Barcelona e encontra-se em coma depois de ter sofrido
uma queda e já depois de ter recuperado de uma infeção de covid-19.
"A situação está a ser
acompanhada de perto por Angola ao mais alto nível", acrescentou a mesma
fonte.
O antigo Presidente encontra-se
há alguns dias nos cuidados intensivos, no Centro Médico Teknon, em Barcelona,
Espanha, em coma induzido.
Ao longo dos últimos meses, tem
estado acompanhado por alguns dos seus filhos. O ex-presidente, de 79 anos, tem
problemas de saúde há vários anos e tem sido acompanhado em Barcelona desde
2006.
Eduardo dos Santos governou
Angola entre 1979 e 2017, tendo sido um dos Presidentes a ocupar por mais tempo
o poder no mundo e era regularmente acusado por organizações internacionais de
corrupção e nepotismo.
Em 2017, renunciou a
recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo,
tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA),
que governa no país desde a independência de Portugal, em 1975.
Diário de Notícias | Lusa