sábado, 27 de agosto de 2022

"ATÉ SEMPRE COMANDANTE" - Angolanos despedem-se de Eduardo dos Santos

As cerimónias fúnebres do homem que governou Angola de 1979 a 2017 terminam no domingo

Angola despede-se este fim de semana do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos. As cerimónias arrancaram este sábado com um cortejo fúnebre que culminou na Praça da República.

As cerimónias fúnebres do homem que governou o país de 1979 a 2017 concluem-se no domingo, dia em que completaria 80 anos.

O corpo do antigo chefe de Estado, que morreu em 8 de julho em Barcelona, Espanha, chegou a Angola há uma semana, em 20 de agosto, após um litígio judicial entre duas fações da família Dos Santos.

A cerimónia oficial de Estado começou na sexta-feira, dois dias após as eleições gerais. Segundo os resultados provisórios, ganhou o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), mas a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), na oposição, não reconhece a vitória.

Pelas 8h30 da manhã deste sábado, o corpo saiu da antiga residência oficial de José Eduardo dos Santos (Miramar) em cortejo fúnebre com honras militares. Um cortejo que começou tímido e até alguma indiferença, mas que mudou ligeiramente de tom à medida que a urna chegava ao memorial na Praça da República, como testemunhou a TSF no local.

"Zedu, Zedu, Zedu", ouviu-se na chegada da urna à Praça da República. Pelo meio, entoaram alguns insultos. Quem ali se dirigiu, foi por motivos fortes, como ex-combatentes na guerra pela independência ou militantes de sempre do MPLA.

"Quando nos tornámos independentes, éramos apenas quatro a cinco milhões de habitantes. Veja bem a diferença (...) Temos saudades dele para sempre", diz um dos presentes, vestido a rigor com a bandeira da República na lapela. "Simboliza muito para um cidadão que ama a sua pátria e que também ama o seu partido".

O primeiro dia de cerimónias ficou marcado pela fraca afluência do povo. "Está muito pouca gente, esse povo também é ingrato. Ele fez muito por esse país, ele é que nos trouxe a paz. (...) E agora... Ninguém, está vazio. Acho que o povo está chateado com o MPLA (...) O povo está chateado, há muita fome. Não vai melhorar", atira uma angolana escutada pela TSF.

No domingo, haverá honras militares num programa que inclui música lírica, leitura de mensagens do Estado angolano e da família, do MPLA, da Fundação José Eduardo Santos e leitura do elogio fúnebre, bem como um culto ecuménico, acompanhado de grupos corais.

TSF | Dora Pires, enviada especial a Luanda

Angola | DO LADO DA CAPOEIRRA NADA DE NOVO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O jogo começou à hora marcada em 18 regiões e milhares de mesas. No fim, o placard indicava que um dos jogadores, o MPLA, ganhou em 15 campos. Outro jogador venceu em três. Todos os outros ficaram longe de eleger representantes. Mas também marcaram os seus golos. Nessa disputa, todos ganham. Resultado final geral dos dois que ficaram à frente foi de 51-44. Esta disputa é supervisionada por uma instituição chamada Comissão Nacional Eleitoral, constituída por representantes de todos os jogadores. É um árbitro fiável e as suas decisões podem ser contestadas no Tribunal Eleitoral e no Tribunal Supremo. São estas as regras do jogo democrático em Angola.

Nas primeiras eleições multipartidárias, em 1992, também existia uma comissão eleitoral onde estavam representados todos os jogadores. Mas para ninguém ter dúvidas, o árbitro tinha o apoio da comunidade internacional representada pela ONU que, em Angola, tinha o nome de UNAVEM. 

Para a blindagem ao erro ou à fraude ser total, existia a Troika de Observadores constituída por Portugal, Rússia e EUA. Apurados os resultados, o MPLA ganhou com 50 por cento dos votos. A UNITA perdeu mas teve um bom desempenho, se tivermos em conta que até às eleições só sabia matar angolanas e angolanos, destruir tudo, partir tudo. E especializou-se a queimar mulheres vivas nas figueiras da Jamba. Parece que os jovens não têm memória destes factos. Gravíssimo. As gerações passadas têm o dever de passar à Juventude todos os factos que podem pôr em causa o seu presente e o futuro. Sem memória estamos perdidos.

A UNITA não aceitou os resultados eleitorais. A ONU, para evitar males maiores, até mandatou uma comissão internacional que não só confirmou os resultados eleitorais mas também concluiu que as provas apresentadas pelo Galo Negro nada valiam. Tudo falso! Os resultados eleitorais estavam correctos. Parece que os jovens de hoje não sabem que face à derrota eleitoral, Jonas Savimbi partiu para a rebelião armada. Matou milhares de angolanas e angolanos. Causou milhões de deslocados e refugiados. Partiu tudo. Ocupou militarmente quase todas as províncias. A paz só regressou em 2002!

A Comissão Nacional Eleitoral divulgou os resultados provisórios ontem à noite. Que foram aprovados por unanimidade, em plenário da instituição! Isto quer dizer que os representantes da UNITA na CNE também consideraram os números reais e válidos. 

Os observadores da CPLP anunciaram publicamente que as eleições foram livres e justas. Os observadores da União Africana tomaram a mesma posição. Todos os observadores internacionais declararam que não detectaram qualquer irregularidade. 

A Missão de Observadores de Organizações da Sociedade Civil manifestou a sua satisfação pela forma como decorreram as eleições de 24 de Agosto: “Acompanhámos com satisfação que até ao último dia da campanha eleitoral, não foram registados incidentes significativos susceptíveis de comprometer o processo”, disse a sua representante em conferência de imprensa.

Enquanto os votos eram escrutinados, a UNITA mandou os seus agentes colocarem actas falsas nas redes sociais. E quando a Comissão Nacional Eleitoral divulgou os resultados provisórios, a direcção do Galo Negro ficou em silêncio. As redes sociais apresentavam cada vez mais actas falsas e anunciavam a “vitória” da UNITA. Os responsáveis da UNITA primavam pelo silêncio. Até que Abílio Camalata Numa fez um apelo à rebelião. Logo a seguir surgiram cartazes onde eram indicados os locais de concentração para uma “manifestação nacional” amanhã, sábado, contra o MPLA que “roubou” os votos do povo. 

Os cartazes têm um brasileirismo o que mostra a origem. Mas também revela que já estava tudo preparado para ser lançado no dia seguinte às eleições. Hoje, Adalberto da Costa Júnior deu uma conferência de imprensa e disse o que já todos sabíamos: A UNITA rejeita os resultados eleitorais.

Os argumentos são de tal forma débeis que não passam de pretextos para atirar com jovens para a violência, o vandalismo e a confrontação violenta com as autoridades. Um exemplo. A Comissão Nacional Eleitoral revelou os resultados provisórios quando faltava apurar cerca de três por cento dos votos. Mas algumas províncias já tinham apurado todos os votos: cem por cento! Claro que nesses círculos, a soma das percentagens de todos os partidos deu cem por cento. Para a UNITA está aí uma prova da fraude! Se falta apurar três por cento, como pode dar resultados der cem por cento? Manipulação grosseira, mentira infantil.

Claro que só cai nessa aldrabice quem quer. E os marginais que a UNITA recrutou para estas eleições estão empenhados em cumprir ordens da direcção do Galo Negro para depois receberem o pagamento. 

A UNITA diz que há uma diferença abismal entre a sua “contagem” e os resultados da Comissão Nacional Eleitoral. Prova: As redes sociais estão a publicar as actas verdadeiras! Acontece que as actas verdadeiras estão na CNE e os resultados verdadeiros foram divulgados pela CNE, ainda que provisórios.

Adalberto da Costa Júnior exige que seja criada “uma comissão internacional” para apurar os resultados. Temos aqui um problema gravíssimo. O líder da Oposição ainda pensa que está ao serviço do regime racista de Pretória. Ou que ainda não houve Independência Nacional no dia 11 de Novembro de 1975. Ou que as instituições angolanas se submetem à vontade seja de quem for, seja nacional ou estrangeiro. Os jornalistas portugueses que cobrem as nossas eleições comportam-se como ocupantes. Como se estivessem na colónia. Adalberto é igual.

Ninguém pode dizer que o eleitorado se enganou ao votar num político que não respeita o seu país nem as instituições do Estado Angolano. Todas e todos sabiam que estavam perante um mentiroso compulsivo, um belicista, um inimigo figadal da paz. Um político que actua como se o regime racista da África do Sul tivesse vencido a guerra de agressão contra Angola. Por sorte, o MPLA ganhou as eleições, com maioria absoluta. Mas a partir de agora, é preciso criar condições políticas e legais para que as alegações de fraude terminem de uma vez por todas. Quem sistematicamente alega fraude e não respeita a Comissão Nacional Eleitoral fica impedido de concorrer a eleições. Para grandes males, grandes remédios. 

Rebelião escondida em manifestações vai dar fracasso. Mais uma derrota da UNITA.

*Jornalista

Alemanha recusa reconhecer soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha se recusa em Rabat a reconhecer a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental

Rabat (ECS).-  A Alemanha continua a envergonhar a diplomacia marroquina, já que as duas partes evitaram aprofundar a questão do Sahara Ocidental na reunião realizada esta quarta-feira na capital marroquina, Rabat. Berlim anunciou oficialmente que apoia os esforços das  Nações Unidas  para alcançar uma solução justa para o problema no âmbito das negociações sob os auspícios da ONU.

Durante  a visita da ministra das Relações Exteriores Annalena Baerbock ao Marrocos, Nasser Bourita  não conseguiu convencer a Alemanha a mudar de posição e a cooperação se limitou a questões puramente de segurança, especialmente a luta contra o terrorismo, a imigração ilegal e os direitos humanos no Marrocos.

A Alemanha reiterou seu apoio à mediação da ONU para resolver o conflito no Saara Ocidental, embora tenha descrito a proposta marroquina como uma "boa base" para resolver o conflito.

Baerbock saudou a nomeação do enviado pessoal do secretário-geral das Nações Unidas, o diplomata ítalo-sueco Staffan de Mistura, e reafirmou o total apoio de seu país aos seus esforços para chegar a uma solução política para este conflito no âmbito da ONU.

Além disso, ele expressou sua forte posição em apoio aos esforços do Enviado Pessoal para alcançar uma solução política justa, sustentável e aceitável com base na Resolução 2602 (2021) do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas, ao mesmo tempo, o novo governo alemão assegura que com a apresentação do Plano de Autonomia em 2007, Marrocos deu um importante contributo para aquele acordo (...), sem efectivamente anunciar o seu apoio a esse plano.

O chefe da diplomacia alemã reiterou o apoio de Berlim a uma solução política, duradoura, pragmática e mutuamente aceitável no âmbito das resoluções da ONU e especialmente a mais recente resolução 2602 de 31 de outubro de 2021. Por sua vez, o chanceler marroquino Nasser Bourita indicou que a visita é um "forte sinal" da firmeza das relações bilaterais que "tiveram um novo impulso" desde o seu restabelecimento

Fonte: ECSAHARAUI | em Rebelion

Imagem: Annalena Baerbock e Naser Burita esta quinta-feira em Rabat / JALAL MORCHIDI (EFE)]

SANCHEZ APOIA AMIGO MOHAMMED VI NA ANEXAÇÃO DO SAHARA OCIDENTAL

Pedro Sanchez, o "socialista" que apoia as ilegalidades de Marrocos

Frente Polisário acusa Espanha de "violar legalidade internacional" ao apoiar a anexação marroquina

Abdulah Arabi acredita que a nova posição do Governo de Pedro Sánchez, ao qual Mohammed VI agradeceu, "elimina qualquer possibilidade de paz"

O delegado saharaui em Espanha, Abdullah Arabi, assinalou, em resposta ao recente discurso de Mohammed VI agradecendo a mudança de posição sobre o Sahara Ocidental do Governo de Pedro Sánchez, que com a sua nova posição a Espanha "desconsidera a legalidade internacional" e " afasta qualquer chance de paz.

Nesse sentido, Arabi lembrou em comunicado que a  Espanha "continua sendo a potência administradora"  do Saara Ocidental" e que "deve assumir a clareza e a contundência do direito internacional" a esse respeito, "mas, infelizmente, optou por ignorar e desconsiderar o estabelecido pelo direito internacional e pela legalidade internacional”, apoiando a anexação marroquina do território.

O Delegado da Frente Polisário argumentou que o Sahara Ocidental continua a ser, segundo a ONU, um dos 17 territórios do mundo pendentes de descolonização, tornando-se "a última colónia de África", bem como a resolução 34/37 de a Assembleia Geral de 21 de novembro de 1979 que qualifica como "ocupação" a presença de Marrocos no território.

NECESSIDADE DO REFERENDO

"Nenhum país do mundo pode modificar a natureza jurídica do Sahara Ocidental  enquanto o povo saharaui não se pronuncia através de um referendo de autodeterminação  conforme estipulado e exigido pelas resoluções das Nações Unidas", alertou.

Nesse sentido, Arabi concluiu que qualquer posição contrária ao direito internacional, como a do Governo de Pedro Sánchez, longe de facilitar a resolução do conflito, "o complica ainda mais e afasta qualquer possibilidade de paz e estabilidade em uma região de vital importância para a Europa e Espanha”. 

A declaração da Frente Polisario veio horas depois que o sultão de Marrocos, Mohammed VI, agradeceu ao governo de Pedro Sánchez em um discurso por mudar o que era a posição tradicional da Espanha de respeito ao direito internacional no Saara Ocidental por seu apoio à anexação marroquina.

Como será recordado, a referida mudança de posição, sobre a qual Sánchez não consultou o seu Governo nem os Tribunais Gerais, teria ocorrido através de uma carta pessoal do Presidente do Governo ao Sultão Mohammed VI, divulgada a 18 de Março por as autoridades marroquinas. 

Tanto o Congresso quanto o Senado da Espanha posteriormente repudiaram as ações de Sánchez, que só tiveram o apoio do Partido Socialista Operário Espanhol.

SAHARA OCIDENTAL E MARROCOS SÃO DOIS TERRITÓRIOS DIFERENTES E SEPARADOS

Por seu lado, o Governo da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) qualificou o discurso do rei de Marrocos como intransigente, discurso que, segundo as autoridades saharauis, se tornou um indicador constante que emerge cada vez que a situação interna do Kingdom atinge seu mais alto grau de tensão.

Em repetidas ocasiões, tanto a Frente POLISARIO como a RASD assinaram que "o estatuto jurídico do Sahara Ocidental está definido de forma clara e explícita, e as resoluções das Nações Unidas, da União Africana, da União Europeia, do Tribunal Internacional de Justiça, do Tribunal de Justiça Europeu e muitos outros endossam-no, dado que o Sahara Ocidental e o Reino de Marrocos são países separados e distintos”.

O Ministério da Informação saharaui rejeita as palavras do monarca e sublinha que "procuram colocar um novo obstáculo aos esforços internacionais que visam completar a descolonização da última colónia de África".

Fonte: Contramutis | em Rebelion

África |O MALI FACE ÀS CONTRADIÇÕES FRANCESAS

Thierry Meyssan*

Após nove anos de presença no Mali, o Exército francês retirou-se orgulhoso pelo trabalho realizado. Efectivamente, ele combateu os jiadistas com bravura. Mas este balanço esconde a realidade. As actuais dificuldades do Mali provêm em grande parte da intervenção ilegal da OTAN na Líbia. Quanto ao desenvolvimento dos grupos jiadistas, ele é organizado… pelos Serviços Secretos franceses. Tal como os Estados Unidos no Médio Oriente, os Franceses estão no Mali ao mesmo tempo como bombeiros e como pirómanos. Claro, acabam de retirar o seu Exército, mas no mesmo momento, preparam com Washington uma guerra mais vasta no Sahel.

Em 2010, durante a crise marfinense, a França mudou sua política em África. O apoio dado pelo Presidente Nicolas Sarkozy ao candidato Alassane Uattara não servia nem os interesses marfinenses, nem os das grandes empresas francesas, que tentaram em vão opor-se. Paris fora incitada por Washington a derrubar o Presidente Laurent Gbagbo, um antigo colaborador da CIA que se tornara nacionalista.

Este fenómeno foi amplificado no ano seguinte na Líbia. O Presidente Sarkozy acreditou poder talvez talhar um império petrolífero derrubando um regime, mas na prática isso não serviu nem os interesses líbios, nem os franceses. Ele acabou alinhado com os Estados Unidos e com a OTAN.

Ora, Muamar Kadhafi fora a única pessoa em África que conseguira levar à colaboração os árabes e os negros, após séculos de guerras e de escravatura. Além disso, ele utilizara as receitas do petróleo para tentar, com o Presidente Amadu Tumani Turé, construir um estado mínimo no Mali (antigo « Sudão francês »), no modelo dos socialistas franceses do século XIX (Proudhon, Fourier) e da Jamahiriya Árabe Líbia.

Ao derrubar o Guia da Revolução líbia, a OTAN provocou de maneira inelutável o caos no Mali. Apoiando-se nos jiadistas da Alcaida contra a Líbia, os Estados Unidos suscitaram a revolta do Comandante do AfriCom, depois a mudança dos objectivos da OTAN.

Nos meses que se seguiram a rebelião tuaregue recomeçou, mas agora os grupos jiadistas, apoiados pelos Irmãos Muçulmanos líbios (quer dizer, pelos Serviços Secretos anglo-saxónicos), jogaram aí um papel muito mais importante. Os militares de Bamako, que apenas dispunham de meios irrisórios para os enfrentar, amotinaram-se. Os Serviços Secretos franceses e norte-americanos aproveitaram isso para derrubar o Presidente algumas semanas antes do fim do seu mandato e para o substituir pelo Presidente da Assembleia Nacional, Dioncunda Traoré. Este truque de prestidigitação foi legalizado pela CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), cujo presidente não era outro senão Alassane Uattara, colocado um ano antes no Poder pelo Exército francês na Costa do Marfim.

Os jiadistas atacaram então Konna e estenderam a Sharia ao Norte do país. O Pseudo-presidente, Dioncunda Traoré, pediu ajuda ao Exército francês que aguardava o seu sinal. O Presidente francês, François Hollande, ofereceu, bem entendido, a sua assistência a fim de contrariar a influência dos jiadistas (apoiados pelos seus aliados anglo-saxónicos e catarianos) e garantir o seu aprovisionamento em urânio. Foi a Operação Serval, aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Tratava-se claramente de um regresso da velha política colonial. Em 2014, chegou-se a um acordo secreto que permitiu a Paris enviar os seus homens, não apenas para o Mali e o Chade, mas para todo o Sahel, já não mais contra os Anglo-Saxónicos, mas com estes e o conjunto dos Europeus contra os jiadistas (embora sempre apoiados por eles). Foi a Operação Barkhane.

Após um período de confusão, foram finalmente realizadas eleições que colocaram legalmente no Poder o Presidente Ibrahim Bubacar Keïta. Este, muito embora dizendo-se laico, apoiou-se na Arábia Saudita (que se voltara contra os Irmãos Muçulmanos) contra o Catar (que entretanto apoiava os Irmãos.

Angola | MPLA QUO VADIS? -- Martinho Júnior

Martinho Júnior, Luanda

01- O MPLA ganhou as eleições de 2022 na República de Angola graças à linha de rumo do seu Programa Maior e em reflexo da realização do seu Programa Mínimo, consubstanciado decisivamente na Proclamação da Independência a 11 de Novembro de 1975!

A linha de rumo após a independência foi alimentada com progressivos passos que se reflectiram nos governos que se foram sucedendo atravessando quantas vezes contextos e conjunturas adversas tendentes em fomentar todo o tipo de contraditórios:

. Com o Presidente Fundador da República Popular de Angola, semeou-se a paz a norte de forma consolidada com o então Zaíre e, por essa via, conseguiu-se a paulatina atracção das sensibilidades da FNLA à causa patriótica angolana, retirando-a do espectro de influências neocoloniais externas; quando o Presidente António Agostinho Neto se aproximava da formulação da paz a sul, o golpe do 27 de Maio de 1977, com sinais de inteligências redundantes do Exercício Alcora, protelou-a para além de sua morte, o que motivou a programação oportunista agenciada por via de Savimbi e da UNITA a favor da pista neocolonial que se estendia e estende desde o fulcro do domínio da hegemonia unipolar;

. Com o Presidente José Eduardo dos Santos essa paz veio a ser conseguida em termos neoliberais muito desfavoráveis para Angola, espreitando nos princípios da década de 90 do século XX, mas só se consumando em 2002, há apenas 20 anos; o exercício do Presidente angolano, para além das vitórias alcançadas contra o “apartheid” com espectro acentuado por toda a África Austral, levou ao início da construção das barragens em vários rios nacionais, com maior peso no Médio Cuanza, um enorme conjunto de obras que se enquadra no Programa Maior visando alterar profundamente, com o impulso energético daí resultante, o estágio de subdesenvolvimento crónico em que o povo angolano (sobre)vive desde o passado;

. Com o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço deu-se seguimento a esse esforço e começaram-se além dele a dar passos decisivos para o melhor aproveitamento da água interior do país em termos de segurança vital em benefício de todo o povo angolano, começando pelo sul e pelo sudoeste, algo imprescindível dado o avanço para norte dos desertos do Kalahari e do Namibe e a necessidade de revitalizar antropologicamente as culturas de toda essa imensa região.

Foi nesse MPLA, com essa trilha palpável e substantiva própria dum país com rumo, que votei e parece ser a leitura do próprio eleitorado, desde logo no Cunene das grandes secas, a única Província onde o MPLA ganhou por 5 a 0!…

Angola | Tristeza e lágrimas marcam cortejo fúnebre de José Eduardo dos Santos

Decorreu esta manhã, o cortejo fúnebre do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que partiu da residência familiar no Miramar, até à Praça da República, para as exéquias de Estado.

A urna fúnebre com o corpo de José Eduardo dos Santos percorreu vários pontos da capital.  Durante o cortejo, o cenário foi de tristeza, comoção, lagrimas e também aplausos.

Vários cidadãos presenciaram de perto o cortejo fúnebre que seguiu até à Praça da República, onde já decorrem as homenagens públicas com o corpo presente. 

José Eduardo dos Santos faleceu no dia 8 de Julho último, em Barcelona, no Reino de Espanha, por doença. O Antigo estadista angolano governou Angola de 1977 a 2017. 

Jornal de Angola

Angola | ACTAS FALSAS JUSTIFICAM FALSA VITÓRIA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ao MPLA que infringiu uma tremenda derrota ao MPLA em Luanda quero dizer que na madrugada do dia 25 de Agosto, Adalberto da Costa Júnior reuniu com os seus apaniguados No Hotel Intercontinental, em Luanda.

No encontro estiveram presentesAbel Chivukuvuku, Filomeno Vieira Lopes, Álvaro Chicamuanga Daniel, Nuno Álvaro Dala, Muata Sebastião, Paulo Lukamba Gato, general Apolo, Marcial Dachala, Abílio Camalata Numa, Eugénio Manuvakola, Ernesto Mulato, Alcino Kuvalela e Agostinho Kamuanga.

Na reunião ficou decidido que as “redes sociais” e os Media amigos deviam publicar, de imediato, actas das assembleias eleitorais que “comprovam” a vitória da UNITA nas eleições de 2022. Também ficou decidido que a UNITA vai convocar uma conferência de imprensa e apresentar aos jornalistas gráficos com os falsos resultados de todo o país. Após o encontro com os jornalistas, essas actas falsas são entregues nas Embaixadas e aos observadores internacionais. A rápida divulgação dos resultados provisórios pela Comissão Nacional Eleitoral fez gorar parte do plano

Outra parte, continua de pé e em execução. A partir de ontem, estão a ser organizados grupo de marginais políticos e políticos marginais  para fazerem pressão nas redes sociais, rádios e canais de televisão. A palavra de ordem é exigir a imediata demissão do Presidente João Lourenço.  

O estado maior da campanha da UNITA deu instruções a Agostinho Kamuanga e Helena Bonguela para mobilizarem jovens e mulheres a fim de se manifestarem amanhã, sábado, contra a “fraude eleitoral” e exigindo a demissão do titular do Poder Executivo. Chamam-lhe uma “manifestação nacional contra o MPLA para que não não abuse da população, tendo em conta os resultados preliminares que dão a vitória à UNITA”. Está explicado por que razão Adalberto da Costa Júnior, não reconheceu a derrota nem felicitou o partido vencedor, logo após a divulgação dos últimos resultados provisórios. 

Os Media amigos hoje estiveram na sede do MPLA para “interrogarem” o Presidente João Lourenço. Ficaram muito frustrados porque foram atendidos pelo dirigente para a Informação, Rui Falcão. Mas queriam falar comn o líder, bem sabendo que ele só pode falar quando o chefe da Oposição reconhecer a derrota, Não vai fazê-lo. A mulher da limpeza que a RTP mandou cobrir as nossas eleições, batendo com a chinela no chão e mão na anca, vociferava: Então o Presidente joão Lourenço não vem falar connosco? Uma armadilha!

Adalberto Costa Júnior durante a reunião do Hotel Intercontinental contrariou o mais exaltados que exigiam sangue. Ele dizia que “temos de evitar mortes mas fazer grande pressão para que João Lourenço se demita”. Esta “grande pressão” é vandalismo, terrorismo e atentados selectivos.

Abílio Camalata Numa ficou de contactar D. Afonso Nunes, da Igreja Tocoísta, para lhe pedir que convença o MPLA a aceitar a derrota eleitoral “em nome da paz”. Se este líder religioso não aceitar fazer esse papel (o que é seguro recusar) então recorrem aos bispos da UNITA. Muito provavelmente o arcebispo de Saurimo, José Manuel Imbamba. 

Adalberto Costa Júnior continuou com os seus pares no Hotel Intercontinental, mas subiu ao nono andar. A reunião decorreu no segundo. A tropa de choque da UNITA está a postos no Complexo Sovsmo. Só precisam de uma ordem para iniciarem os desmandos.

Amanhã, sábado, está marcada a manifestação. Para não alertarem as autoridades, o Governo Provincial de Luanda não foi informado. É uma manifestação surpresa. O MPLA não pode continuar unido à Oposição contra o MPLA. Angola está em perigo. E há o risco muito elevado de ingovernabilidade. Cada um que assuma as suas responsabilidades.

Marcolino Moco já falou nas vestes de boca da UNITA. Diz algo curioso: Os resultados de Luanda são iguais aos do resto do país. Não fala em fraude (parecia mal) mas insinua que se a UNITA ganhou em Luanda, também ganhou nos outros círculos eleitorais.

Marcolino Moco era o primeiro-ministro do MPLA quando em 1992 o partido ganhou as eleições com maioria absoluta. Teve de dirigir um governo à prova de guerra porque Savimbi e seus sicários do Galo negro invocaram fraude eleitoral. Mal parecia que hoje Moco usasse o mesmo argumento só porque mudou de campo. 

Mas habilidosamente diz que o resultado de Luanda é igual ao dos outros círculos eleitorais. Como não é, facilmente se chega ao que ele pensa: Houve fraude onde a UNITA perdeu. Meu amigo, aprendeste a lição em pouco tempo! Mais um para o coro da fraude. 

Quanto a governar, só no dia de São Nunca à tardinha ou quando os galos tiverem dentes. Tanto dobrar da coluna vertebral, tanta pantominice, tanta falta de caracter para no fim o MPLA averbar uma maioria absoluta! Que desperdício de dignidade e de honra.

*Jornalista

Angola | Já começou o cortejo fúnebre de José Eduardo dos Santos

A TSF acompanha as cerimónias fúnebres de José Eduardo dos Santos.

Em Angola, já começaram as cerimónias fúnebres de José Eduardo dos Santos. O corpo do antigo Presidente angolano saiu daquela que era a sua residência. Na marginal, junto à baía de Luanda, a TSF acompanha o cortejo que começou com tranquilidade e silêncio, com a população a começar a juntar-se para um último adeus.

No arranque do cortejo, pelas 8h00, junto à residência do ex-presidente, a TSF testemunhou que eram poucas as pessoas a marcar presença.

"José Eduardo dos Santos foi o segundo Presidente da República de Angola e como um dos homens que foi governado por ele, aproveitei para vir aqui para dar o último adeus", contou um dos poucos angolanos naquele local, não estranhando o facto de ali não estar praticamente ninguém.

"Vive-se um momento conturbado por causa das eleições, quase toda a juventude está com o orgulho ferido por causa dos resultados anunciados. E a realidade que se vive em Angola é também por influência de José Eduardo dos Santos", justifica. "Mas não obstante essa realidade, estamos aqui (...) Não significa que estamos felizes com a prestação dele enquanto presidente. Obviamente [estamos aqui] por uma questão humana e não política", acrescenta.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que aterrou esta manhã em Angola, não adiantou se vai reunir-se com os líderes do MPLA ou da UNITA. No entanto, deixou elogios à forma como decorreram as eleições angolanas.

O chefe de Estado vai participar nas cerimónias fúnebres de José Eduardo dos Santos, acompanhado pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

TSF | Dora Pires, enviada especial a Luanda

EM TODAS AS ELEIÇÕES UNITA DIZ O MESMO PARA LIDAR COM O FRACASSO

UNITA não reconhece derrota em Angola e quer comissão internacional

Candidato presidencial da UNITA fala em "discrepâncias brutais".

UNITA criou um "sistema de escrutínio paralelo" para contar os votos das eleições em Angola e concluiu que o MPLA não venceu as eleições, ao contrário do que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) divulgou na quinta-feira.

"Não existe a menor dúvida em afirmar com toda a segurança de que o MPLA não ganhou as eleições do dia 24 de agosto. A UNITA não reconhece os resultados provisórios resultados pela CNE", explicou Adalberto Costa Júnior, candidato presidencial da UNITA, aos jornalistas em conferência de imprensa.

De acordo com os resultados apurados pelo sistema de escrutínio paralelo da UNITA anunciados pelo candidato presidencial, que analisou as atas, só em Luanda o partido obteve 1 417 447 votos, o que corresponde a 70% dos votos, "contrariamente aos 1 230 213 que correspondem aos 63% que a CNE atribui à UNITA".

Adalberto Costa Júnior defendeu ainda que a votação foi "abusiva e ilegal", fala em "discrepâncias brutais" e pede a intervenção de uma comissão internacional para comparar as atas dos partidos com as atas da CNE.

Perante esta "trapalhada da CNE", o candidato presidencial da UNITA pediu aos apoiantes para permanecerem calmos, serenos e confiarem na direção do partido.

"Forma um bocado subtil de querer pedir uma recontagem dos votos"

Emídio Fernando, diretor da Rádio Essencial em Angola, considera que esta é uma forma subtil de a UNITA pedir uma recontagem dos votos, mas o que vai acontecer a seguir é um mistério.

"Essa é que é a grande questão. Da parte da UNITA parece-me muito inteligente ter optado por fazer uma proposta à Comissão Nacional Eleitoral para se criar uma comissão internacional que possa avaliar os resultados, é uma forma um bocado subtil de querer pedir uma recontagem dos votos. A não ser que aconteça uma coisa verdadeiramente extraordinária, como por exemplo uma pressão internacional que obrigue à recontagem dos votos, não me parece que a Comissão Nacional Eleitoral vá aceitar a recontagem dos votos ou vá aceitar até fazer parte dessa comissão internacional por razões muito simples. A CNE é orientada pelo MPLA que, supostamente, não estará interessado em fazer essa recontagem dos votos", explicou à TSF Emídio Fernando.

Segundo dados divulgados pela CNE, quando estavam escrutinados 97,03% dos votos das eleições realizadas na passada quarta-feira, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) obteve 3.162.801 votos, menos um milhão de boletins escrutinados do que em 2017, quando obteve 4.115.302 votos.

Já a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) registou uma grande subida, elegendo deputados em 17 das 18 províncias e obtendo uma vitória histórica em Luanda, a maior província do país, conseguindo até ao momento 2.727.885 votos, enquanto em 2017 obteve 1.800.860 boletins favoráveis.

Cátia Carmo | TSF

Ler em TSF:

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MPLA perde um milhão de votos face a 2017 e UNITA tem mais um milhão

Angola | Nem Só de Pão Vive o Homem mas Ajuda Muito – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A mentira deliberada, a manipulação, o embuste são inaceitáveis nos Media. Consultem os jornais, rádios e televisões privados. Encontram lá todas essas monstruosidades em quantidades industriais. Consultem as redes sociais e verificam que só vivem disso. Nestas eleições elevaram esses crimes até ao supremo abuso. Contados os votos temos uma maioria de deputados que tem de legislar sobre esta matéria. Obrigatoriamente. Basta do negócio da aldrabice, das falsas notícias, das violações repugnantes da vida privada, da vida pessoal, da esfera do segredo. Todas e todos os cidadãos têm o Direito à Inviolabilidade Pessoal, nas suas projecções física, moral e vital. 

As redes sociais não são terra de ninguém. Não podem ser o paraíso de crimes contra a honra, o bom nome e a consideração social seja de quem for e muito menos de servidores públicos, porque estão mais vulneráveis e esses abusos são uma cobardia sem nome. A questão da Ucrânia provou que é possível acabar com as mentiras, as manipulações, as falsas notícias. Os patrões das redes sociais bloquearam milhares de intervenções porque as consideravam “tendenciosas” ou a favor da Federação Russa. Nem precisavam de ser falsas! 

Os governos dos EUA, da União Europeia e do Reino Unido impuseram a censura a todos os Media russos. Aproveitaram a oportunidade e censuraram quem pensa de uma forma diferente da nazi Úrsula von der Leyen, do bufo Boris Johnson ou dos altifalantes do sobeta Biden. O resto do mundo pode e deve fazer o mesmo quando se trata de reprimir a propagação de mentiras, falsas notícias e manipulações grosseiras da realidade.  

Angola deve ser o país onde esse lixo tem mais peso. Coisas como a televisão Raiar ou a rádio Despertar não podem existir no panorama mediático. Cito estes dois mas há bem pior. As próximas eleições não podem ser negócio para mentirosos, falsários e manipuladores. Trabalhem, senhoras e senhores deputados!

As tropas do general Miala já entraram em acção. Um dos seus soldados para todo o serviço, Carlos Alberto, disse na TPA que Bento Bento é o culpado da derrota em Luanda e João Lourenço salvou o MPLA da derrota geral. Esta gente nem respeita o luto ou o período de nojo. Entra logo a matar. Não vou por aí. O responsável do partido em Luanda tem tanta culpa na derrota como João Lourenço, eu ou a minha comadre Delfina. João Lourenço tem tanta responsabilidade na conquista da maioria absoluta como o mais obscuro dos militantes.

Existem muitas razões para o MPLA se ter unido à Oposição contra o MPLA. Uma de grande peso: Os generais das FAA que ganharam a guerra recebem pouco mais de mil euros de salário. E deputados do MPLA ainda queriam obrigá-los a fazerem descontos (o que te passou pela cabeça, Nini/Ngongo?). Aqueles que tiveram direito a casa, descontam metade do salário para pagamento da habitação. Os que têm carro não têm dinheiro para mandar reparar as viaturas quando avariam. Não têm segurança pessoal (Viram o que aconteceu ao comandante Panda?). Não têm dinheiro para colocar os filhos nas escolas privadas. Para irem ao restaurante tomar uma refeição têm de pensar duas vezes e contar os tostões.

A Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial tinha 600 mil homens e mulheres nas fileiras. Estou a falar num universo de pelo menos três milhões de votantes, contando familiares e amigos com quem desabafam. Todas e todos esses patriotas estão pendurados social e financeiramente! Nem só de pão vive o homem, mas ajuda muito dar ao dente todos os dias. O Fórum dos Combatentes da Batalha do Cuíto Cuanavale (FOCOBACC) enfrenta mil dificuldades quando é preciso comprar um caixão para algum dos seus membros falecidos. 

O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas tem tremendas responsabilidades. O seu salário é rastejante. Igual para todos os oficiais generais no activo. Alguns oficiais superiores (majores, tenentes-coronéis e coronéis) das FAA, se têm carro próprio, fazem serviço de táxi quando vão para as suas unidades militares e quando regressam a casa. Por uma questão de pudor, só se fardam no quartel. Fazem-se passar por civis lutando pela vida no processo de candongueiros. Nem só de pão vive o homem mas ajuda muito dar ao dente todos os dias. Estes factos são mais do que suficientes para justificar a união do MPLA à Oposição contra o MPLA de João Lourenço. Mas há mais.

O falecimento do Presidente Eduardo dos Santos em Barcelona foi tratado de uma forma que suscitou uma onda de solidariedade (muito silenciosa…) para com ele e familiares próximos. Para piorar a situação, o Estado prepotente apostou na divisão familiar, o que deu uma disputa do cadáver. Pior gestão do problema, era impossível. Dando de barato que não foi o Estado que o criou. Podem acreditar que este infausto acontecimento levou o MPLA a unir-se à Oposição contra o MPLA. Ninguém acredite que é possível gerir o partido com estas fracturas profundas. 

Ninguém pense que é possível governar Angola sem antes promover a unidade partidária. A maioria absoluta não vai servir para nada. A unidade e reconciliação nacional passa pelo interior do MPLA. Quem não perceber isto, não percebe nada e pode começar a preparar o seu sobado. Depois convida o Adalberto da Costa Júnior para os comes e bebes da inauguração.

Um primeiro passo importantíssimo seria criar uma comissão de sábias e sábios ( “Homens Bons”) que vai buscar familiares do Presidente José Eduardo ao estrangeiro, para participarem nas exéquias fúnebres. Depois as mesmas personalidades acompanham essa parte da família no regresso aos países onde residem. É um bom começo, mas duvido que essa parte da família aceite. E ninguém pode exigir que colaborem. Quem é agredido, agride. Os abandonados também abandonam. Isso viu-se nas eleições. O círculo provincial de Luanda falou bem alto. Os eleitores gritaram estridentemente que se foram abandonados, na primeira oportunidade também abandonaram.

Democracia, a UNITA não sabe o que é. A esta hora, o líder do partido já devia ter feito uma declaração pública felicitando os vencedores e agradecendo a todos os que participaram nas eleições. Já devia ter feito um apelo aos abstencionistas para aparecerem em massa nas urnas em 2027. Sabem o que aconteceu? Mandaram o criminoso de guerra Abílio Camalata Numa fazer um apelo à rebelião. Porque houve fraude eleitoral! 

A direcção da UNITA, nada. Silêncio absoluto. Já devem estar a fazer contas ao dinheiro que vão receber dos cofres do Estado, a lista das mordomias, quantas mulheres mais vão acomodar no seu harém, quantos carros Lexus vão ter na frota, a lista das viagens ao estrangeiro e outras miudezas.

A UNITA passou de 51 deputados para 90. Um grande feito? As aparências iludem. Não, não foi nada de especial. Abel Chivukuvuku ofereceu os 16 deputados da CASA-CE, que desapareceu da Assembleia Nacional. Só com esta boleia passou para 67 deputados. Os outros 23 foram oferecidos pelo MPLA que castigou o MPLA de João Lourenço. Adalberto da Costa Júnior não alargou a base de apoio da UNITA. Pelo contrário, encolheu. Nada de foguetes antes da festa.

Atenção aos resultados eleitorais nas províncias de Zaire e Cabinda. Os senhores do petróleo já não se contentam com o movimento separatista de Cabinda. Querem alargá-lo à província vizinha para constituírem o “pacote energético”. O Adalberto da Costa Júnior quer alargar o negócio dos diamantes de sangue ao petróleo. Estava tudo a dormir quando estes resultados eleitorais foram cozinhados. De certeza. Acordem!

Um editorialista às ordens do general Miala garante que a maioria absoluta do MPLA nas eleições se deve ao mérito de João Lourenço! Não façam isso. Não cavem a divisão interna. Escrever que João Lourenço promoveu a meritocracia é para rir às gargalhadas durante cinco anos! O Miala é exemplo do mérito. Escrever que João Lourenço combateu a mediocridade é uma anedota de mau gosto, Olhem para o Francisco Queiroz e têm à frente um medíocre do pescoço aos pés. Cabeça não tem. 

Escrever que João Lourenço estancou a fuga de quadros é uma falsidade repugnante. O melhor quadro angolano na área da comunicação social foi escorraçado. Chama-se José Ribeiro e foi o responsável da Empresa Edições Novembro. Os generais que ganharam a guerra foram simplesmente ignorados para não dizer escorraçados. 

Angola não é uma buala. O MPLA é uma instituição com profundas e fortíssimas raízes populares. Os parasitas que chulam o partido desde pequeninos deviam, no mínimo, ter juízo, para continuarem a mamar. 

O editorialista do Novo Jornal diz que o MPLA perdeu votos em 2008, em 2012, em 2017 e nestas eleições. Mentira. Manipulação. O partido ganhou as eleições de 2008 (as primeiras depois de acabar a rebelião do criminoso de guerra Jonas Savimbi) com 81,64 por cento dos votos. Em 1992 teve 53,7 por cento. A subida foi de quase 30 pontos! Mais é impossível.

Nas eleições seguintes, já na vigência da Constituição da República de 2010, o MPLA não perdeu nada. Tratando-se de um novo regime e de uma nova forma de eleição,2012 foi o ano zero. O MPLA teve 71 por cento. Este foi o ponto de partida. Na primeira etapa, eleições de 2017, o MPLA mudou a liderança. Agora sim, o MPLA ganhou com maioria qualificada mas perdeu dez pontos. Uma espécie de ajustamento lógico e natural.

Nestas eleições acabou a maioria qualificada mas o MPLA ainda conquistou uma maioria absoluta. O partido perdeu mais dez pontos recuando à votação de 1992. As causas desta descida são conhecidas. Mas não apontem o dedo a João Lourenço. O MPLA é um colectivo. Para governar e ganhar as próximas eleições tem de estar unido. Sem apontar o dedo a ninguém.

*Jornalista

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