Artur Queiroz*, Luanda
O tempo nunca se esconde mesmo de quem vive escondido. Escrevi uma crónica sobre a morte de Isabel II que classifiquei como “a rainha dos mercenários”. Algumas amigas e alguns amigos passam a vida a xingar-me porque acham que sou um radical. No caso da defunta tardiamente enterrada respondi que fui muito simpático com ela. Se Franco e Salazar foram classificados como dois tenebrosos ditadores porque estiveram décadas no poder e mataram adversários, não compreendo por que razão, uma sujeita atrelada ao tacho durante 70 anos, há-de ser especial e todos devem curvar-se ante seu estro envelhecido, a cair da podre.
Isabel II tem às costas crimes de guerra e crimes contra a Humanidade. Porque participou ou porque foi conivente. Assumiu o posto em 1952. Nesse ano e até 1960 decorreu no Quénia, colónia britânica, a luta armada de libertação nacional dirigida pelos nacionalistas Mau Mau. As tropas de sua majestade a rainha agora finada mataram 100,000 quenianos e fizeram 320.000 prisioneiros, a maior parte, civis. Muitos foram torturados até à morte.
Wambugu Wa Nyingy, Paulo Muoka Nzili, Ndiku Mutwiwa Mutua e a senhora Jane Muthoni Mara, quatro cidadãos quenianos, octogenários, puseram em tribunal uma acção contra o Reino Unido, porque durante a guerra colonial no Quénia, foram vítimas de torturas, castrações e violações sexuais por parte dos esbirros da rainha Isabel II. Em Julho de 2011, ouviram numa sala de audiências do High Court, em Londres, um juiz pronunciar-se a favor da admissibilidade da acção que haviam interposto, dois anos antes.
O escritor britânico David Anderson, publicou em 2005 o livro Histories of the Hanged sobre esse tema. A norte-americana Caroline Elkins publicou no mesmo ano a obra Britain’s Gulag. Os assassinatos, torturas e violações tiveram como palco outras colónias de sua majestade, como o Chipre e a Malásia. Foi matar e torturar negros até fartar a vilanagem. Curvem-se ante a soberana dos assassinos, torturadores e violadores.
Este foi o ponto de partida do mandato de Isabel II. A sua coroa de glória é o apoio à guerra do Biafra, na Nigéria. Mais milhares de mortos. Milhões de seres humanos condenados à fome. A defunta apoiou o regime racista de Pretória com todas as suas forças. Apoiou a declaração de independência unilateral do nazi Iam Smith no Zimbabwe (Rodésia). Nunca devolveu os roubos que os seus antepassados fizeram em África. Desprezava os negros com todas as suas forças. Meghan Markle, esposa do seu neto Harry, foi vítima de racismo dentro e fora da casa real. O rei Carlos III, ao cumprimentar apoiantes, ignorou um negro.
Hoje sabemos que os presidentes africanos que foram ao funeral de Isabel II foram encafuados num autocarro só para pretos (como nos velhos tempos do apartheid). A Presidente da Etiópia, Sahle-Work Zewde, recusou entrar no machimbombo e disse aos racistas lá do sítio que tinha um carro do protocolo na embaixada do etíope, às suas ordens. Os racistas ficaram furiosos.
Acham mesmo que fui radical no texto que escrevi sobre Isabel !!? Depois do que fica escrito, leiam então de novo o texto: