sexta-feira, 18 de novembro de 2022

RÚSSIA, ÍNDIA, CHINA, IRÃO: O QUAD QUE REALMENTE IMPORTA

Pepe Escobar* | Global Research, 16 de novembro de 2022

O Sudeste Asiático está no centro das relações internacionais por uma semana inteira, ou seja, três cúpulas consecutivas: a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Phnom Penh, a cúpula do Grupo dos Vinte (G20) em Bali e a Ásia- Cimeira da Cooperação Económica do Pacífico (APEC) em Banguecoque.

Dezoito nações representando cerca de metade da economia global representadas na primeira cúpula presencial da ASEAN desde a pandemia de Covid-19 no Camboja: ASEAN 10, Japão, Coreia do Sul, China, Índia, EUA, Rússia, Austrália e Nova Zelândia .

Com a polidez característica dos asiáticos, o presidente da cúpula, o primeiro-ministro cambojano Hun Sen (ou “colombiano”, segundo o chamado “líder do mundo livre”), disse que a plenária foi um tanto acalorada, mas o clima não foi tenso: “Os líderes conversaram de forma madura, ninguém saiu.”

Coube ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov , expressar o que realmente foi significativo ao final da cúpula.

Ao elogiar a “estrutura inclusiva, aberta e igualitária de segurança e cooperação na ASEAN”, Lavrov enfatizou como a Europa e a OTAN “querem militarizar a região para conter os interesses da Rússia e da China no Indo-Pacífico”.

Uma manifestação dessa política é como “AUKUS visa abertamente o confronto no Mar da China Meridional”, disse ele.

Lavrov também enfatizou como o Ocidente, por meio da aliança militar da OTAN, está aceitando a ASEAN “apenas nominalmente” enquanto promove uma agenda completamente “pouco clara”.

O que está claro, porém, é como a OTAN “se moveu em direção às fronteiras russas várias vezes e agora declarou na cúpula de Madri que assumiu a responsabilidade global”.

Isso nos leva ao argumento decisivo: “A OTAN está movendo sua linha de defesa para o Mar da China Meridional”. E, acrescentou Lavrov, Pequim tem a mesma avaliação.

Aqui, concisamente, está o “segredo” aberto de nossa atual incandescência geopolítica. A prioridade número um de Washington é a contenção da China. Isso implica impedir que a UE se aproxime dos principais impulsionadores da Eurásia – China, Rússia e Irã – engajados na construção do maior ambiente de livre comércio/conectividade do mundo.

Somando-se à guerra híbrida de décadas contra o Irã, o armamento infinito do buraco negro ucraniano se encaixa nos estágios iniciais da batalha.

Para o Império, o Irã não pode lucrar ao se tornar um fornecedor de energia barata e de qualidade para a UE. E, paralelamente, a Rússia deve ser cortada da UE. O próximo passo é forçar a UE a se isolar da China.

Tudo isso se encaixa nos mais loucos e distorcidos sonhos straussianos/neoconservadores: para atacar a China, encorajando Taiwan, primeiro a Rússia deve ser enfraquecida, através da instrumentalização (e destruição) da Ucrânia.

E ao longo do cenário, a Europa simplesmente não tem agência.

Ativistas indígenas norte-americanos expulsos da COP27 queixam-se de censura

Os quatro manifestantes interromperam um discurso de Joe Biden durante uns momentos, antes de se sentarem e permitir o decorrer normal dos trabalhos.

Quatro ativistas indígenas norte-americanos criticaram esta sexta-feira a organização da COP27, considerando "vergonhoso" o tratamento recebido depois de terem protestado contra o discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vendo as suas credenciais revogadas.

Na passada sexta-feira, durante a intervenção de Biden na cimeira climática que decorre no Egito, Big Wind, Jacob Johns, Jamie Wefald e Angela Zhong entoaram um cântico de guerra e ergueram uma faixa que dizia 'Pessoas vs. Combustíveis Fósseis'.

As autoridades limitaram-se a confiscar a faixa e o grupo sentou-se e continuou no evento. No entanto, mais tarde, a organização da COP27, que decorre em Sharm el-Sheikh, retirou-lhes as credenciais logo após o final do discurso e os ativistas perderam a segunda semana de trabalhos.

Ao jornal britânico The Guardian, o grupo contou que apelaram às autoridades competentes mas o caso ainda não foi resolvido - sendo que a cimeira termina esta sexta-feira.

"Fecharam-nos a porta, as nossas vozes estão a ser silenciadas. O colapso climático está a chegar, estamos literalmente a lutar pelas nossas vidas. Se não nos é permitido lutar pelo nosso futuro, que o fará? É vergonhoso", disse Jacob Johns, que faz parte de uma comunidade das tribos Akimel O'otham e Hopi, no estado norte-americano do Washington.

Já Big Wind, uma ativista indígena que luta pela conservação dos locais sagrados das tribos norte-americanas, diz que a revogação das credenciais é "um claro exemplo de pessoas indígenas e jovens serem silenciadas quando tentam exprimir a sua frustração neste espaço". "Mostra as verdadeiras cores da ONU", rematou.

A COP27 tem sido marcada por tentativas de protestos, não só pelo clima mas também contra a forte repressão protagonizada pelo regime egípcio. A cimeira tem sido criticada por ativistas, que acusam o regime de Abdul Fatah Khalil Al-Sisi de querer limpar a imagem do país (o chamado 'greenwashing'), onde há mais de 60 mil presos políticos.

Na cimeira em si, poucos protestos contra o regime foram permitidos, muito menos no interior do complexo da cimeira em si. Alguns delegados foram mesmo detidos e deportados por protestarem durante os eventos, e centenas de civis egípcios foram presos em Cairo quando tentaram aproveitar a atenção mediática sobre a cimeira para criticar o governo.

Vários ativistas indígenas também têm usado a COP27 para apelar a uma maior conservação e proteção das tribos indígenas em várias zonas do mundo, especialmente na floresta tropical da Amazónia, com o recém-eleito presidente brasileiro Lula da Silva a admitir o pagamento de reparações a estes povos.

Notícias ao Minuto | Imagem: © Reuters/Mohamed Abd El Ghany

Suécia confirma "sabotagem grosseira" nos gasodutos Nord Stream 1 e 2

O procurador sueco ressalvou, contudo, que a "investigação preliminar é muito complexa e abrangente", pelo que ainda prossegue.

Oprocurador sueco a cargo da investigação quanto aos danos provocados nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, Mats Ljungqvist, confirmou, esta sexta-feira, ter encontrado restos de explosivos, classificando o incidente como um ato de "sabotagem grosseira".

"Durante as investigações da cena do crime que foram realizadas no Mar Báltico, foram feitas extensas apreensões e a área foi cuidadosamente documentada. As análises agora realizadas mostram vestígios de explosivos em vários dos objetos encontrados", disse o responsável, em comunicado.

Ljungqvist ressalvou, contudo, que a "investigação preliminar é muito complexa e abrangente", pelo que ainda prossegue.

O procurador agradeceu também a cooperação das autoridades, escusando-se a revelar mais informações, de momento.

Recorde-se que a Procuradoria-Geral da Suécia decidiu, em outubro, realizar novas investigações sobre os danos sofridos pelos gasodutos Nord Stream 1 e 2, no final de setembro.

Duas das quatro fugas descobertas nos gasodutos estão na zona económica exclusiva dinamarquesa, e outras duas na zona sueca. As investigações feitas na altura pelas autoridades dos dois Estados confirmaram que os danos foram causados por fortes explosões, reforçando a tese de que se trataram de atos de sabotagem.

A 12 de outubro, o presidente russo, Vladimir Putin, classificou as explosões que provocaram as fugas nos gasodutos como um ato de "terrorismo internacional", considerando que beneficiavam os Estados Unidos, a Polónia e a Ucrânia. Desafiou, por isso, o presidente norte-americano, Joe Biden, a admitir que o país fora responsável.

Os gasodutos Nord Stream estiveram no centro de uma controvérsia geopolítica, ainda antes do conflito na Ucrânia, quando Kyiv e Washington se opuseram à sua construção, alegando riscos para a dependência europeia da energia russa.

Notícias ao Minuto | Imagem: Getty Images

TEORIA ECONÓMICA E DESONESTIDADE

Prabhat Patnaik [*]

A teoria económica é um assunto em que as classes dominantes estão sempre a tentar promover explicações ideologicamente motivadas ao invés de científicas. Essas explicações, é claro, podem ser, e têm sido, encaixadas numa totalidade integrada de uma estrutura teórica alternativa não científica a que Marx chamou de “economia vulgar” pois distinta da economia política clássica. Mas mesmo a economia vulgar tenta lidar sistematicamente com os fenómenos observados, à sua própria maneira “vulgar”. O que é infinitamente pior é quando se procura explicar os fenómenos observados de uma maneira ideologicamente motivada, mas mesmo isso não é feito de forma sistemática (consistently), mas sim oportunista. É quando a teoria economia se rebaixa passando da mera “vulgaridade” para a “desonestidade” – e tal rebaixamento é a marca característica da teoria económica deste período neoliberal. Limitar-me-ei aqui a apenas três exemplos.

Meu primeiro exemplo diz respeito à pobreza. Em 1973-74, a Comissão de Planeamento da Índia definiu pobreza como a incapacidade de ter acesso a 2.400 calorias por pessoa por dia na Índia rural (na prática, porém, aplicou uma norma inferior de 2.200 calorias) e 2.100 calorias por pessoa por dia na Índia urbana. Pode-se discordar desses números em particular, mas pelo menos eles proporcionaram uma referência objetiva que podia ser usada nos dados coletados pelas grandes pesquisas quinquenais por amostra da National Sample Survey (NSS) para estimar as tendências no rácio de pobreza. E este rácio de pobreza mostra um aumento inconfundível no país ao longo do período neoliberal até 2011-12 (e até mesmo ao que consta até 2017-18, ano em que os dados foram suprimidos pelo governo), ou seja, ao longo de todo o período neoliberal para o qual os dados da grande amostra do NSS estão disponíveis.

Contudo, após a sua estimativa inicial, a Comissão de Planeamento mudou para uma definição alternativa de pobreza: correspondendo às referências calóricas, havia níveis de gasto per capita no ano-base, os quais foram chamados de “linhas de pobreza” para a Índia rural e urbana. Estas linhas de pobreza do ano base foram então atualizadas para os anos subsequentes pela utilização de um índice de preços ao consumidor a fim de dar novas linhas de pobreza para cada ano subsequente, e aqueles que caíam abaixo dessas novas linhas de pobreza foram considerados “pobres” mesmo quando a ingestão de calorias associada a cada uma dessas linhas de pobreza atualizadas estava em declínio constante. Por outras palavras, considerava-se que as pessoas estavam a sair da pobreza mesmo quando sua ingestão de calorias estava em queda. Apesar das críticas, este método – de utilizar índices de preços no consumidor e não preocupação com o declínio da ingestão de calorias na pobreza atualizada – foi continuado.

Claramente, os números do índice de preços ao consumidor estavam subestimando o verdadeiro aumento do custo de vida. O resultado líquido dessa mudança de procedimento, que teve o selo de aprovação do Banco Mundial e que apresentava um quadro embelezado do neoliberalismo, foi o absurdo com que hoje nos confrontamos: a Índia continua a ser o 107º no índice de fome mundial entre os 120 e tantos países para os quais esse índice é calculado (e mesmo nos anos pré-pandemia anteriores sua classificação estava em torno dos 100), embora afirme ter reduzido drasticamente a taxa de pobreza de 56,4% para áreas rurais e 49% para áreas urbanas em 1973-4 para 25,7 por cento e 13,7 por cento, respectivamente, em 2011-12, e ter continuado com esta tendência decrescente.

PLANETA TERRA: O PROBLEMA NÃO SÃO OITO BILIÕES DE HABITANTES

Marca foi alcançada provavelmente neste 15/11. Conservadores veem “superpopulação”. Mas mais da metade dos habitantes do planeta consome muito pouco – inclusive comida – enquanto pequena minoria esbanja, ostenta, devasta e polui

Maxime Doucrot, no CLAE, com tradução na Revista Opera* | em Outras Palavras

#Publicado em português do Brasil

Em alguns dias, no 15 de novembro, seremos 8 bilhões de pessoas no Planeta Terra, das quais a metade não pode manter uma dieta saudável. Os especialistas dizem que “não necessariamente” se trata de sermos muitos habitantes, e alertam mais para o consumo excessivo dos recursos pela parte mais rica do planeta.

Se preocupam menos com a questão da superpopulação, com muitas pessoas e poucos recursos, para que todos vivam dignamente. Os 8 bilhões de seres humanos já estão aqui e a população seguirá crescendo, atingindo 9,7 bilhões em 2050, segundo as Nações Unidas, dado o número de jovens atualmente.

Jennifer Sciubba, pesquisadora do centro de pesquisas Wilson Center, afirmou que é tanto cômodo quanto prejudicial culpar a superpopulação pela escassez de recursos e pelo aquecimento global, e não o comportamento dos países ricos e seus modelos econômicos. Apesar de serem produzidos alimentos suficientes para os oito bilhões de pessoas, 925 milhões, ou 11,7% da população mundial, enfrenta níveis moderados ou graves de insegurança alimentar, e mais de 10% sofre atualmente de desnutrição crônica.

O último informe das Nações Unidas (2021) destaca que a relação da insegurança alimentar com a diferença de gênero segue aumentando: 32% das mulheres do mundo sofriam de insegurança alimentar moderada ou grave, em comparação com 27,6% dos homens. Quase 4 bilhões de pessoas não têm uma dieta saudável, o que é reflexo, em parte, dos efeitos da inflação dos preços dos alimentos.

A ONU calcula que 45 milhões de crianças menores de cinco anos padecem de emaciação, a forma mais mortal de desnutrição, que aumenta em até doze vezes o risco de mortalidade infantil. Além disso, 149 milhões de crianças de até cinco anos sofrem atraso no crescimento e desenvolvimento em decorrência da falta crônica de nutrientes essenciais em sua dieta, enquanto 39 milhões estavam acima do peso. Essas eram cifras de 2021, que se agravaram esse ano.

“Oito bilhões é um marco importante para a humanidade”, disse a chefe do Fundo de População das Nações Unidas, a panamenha Natalia Kanem, que demonstrou alegria pelo aumento da expectativa de vida e a queda da mortalidade infantil e materna. “No entanto, me dou conta de que nem todo o mundo celebra. Alguns estão preocupados com a superpopulação, com pessoas demais e recursos insuficientes para viver”, disse.

Joel Cohen, da Universidade Rockefeller, em Nova York, destaca que a pergunta sobre a quantidade de pessoas que a Terra pode aguentar é uma moeda de duas faces: as restrições ou limites naturais,  de um lado, e as decisões que os humanos tomam com base nisso, do outro.

Essas decisões fazem com que se consumam muitos mais recursos biológicos (florestas, peixes, terras) do que o planeta Terra pode regenerar anualmente, e também que haja um consumo excessivo de energias fósseis, que geram cada vez mais emissões de CO2, responsáveis pelo aquecimento global. Quanto aos recursos, seriam necessários 1,75 planetas Terra para satisfazer as necessidades da população de maneira sustentável, segundo a ONG Global Footprint Network e a WWF.

Em relação ao clima, o último informe dos especialistas da ONU destaca que o crescimento da população é um dos principais motores da alta de emissões de gases de efeito estufa – mas que o seu impacto é inferior ao do crescimento econômico. “Somos estúpidos. Nos faltou visão. Somos glutões. É aí que residem os problemas e as decisões”, disse Cohen, que nos exorta a não considerarmos a humanidade como uma espécie de “praga”.

“Nosso impacto no planeta está determinado mais pelo nosso comportamento do que pela quantidade de gente”, disse por sua vez Jeniffer Sciubba, do Wilson Center. “Seguir culpando a superpopulação”, ao invés de mudar o comportamento dos países ricos, disse ela, “é tão cômodo quanto é prejudicial”.

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*A Revista Opera é um veículo independente fundado em 11 de abril de 2012, com a perspectiva de fazer um jornalismo contra-hegemônico e popular, que jogue luz sobre as pautas verdadeiramente relevantes do dia com um ponto de vista crítico.

Human Rights Watch exige indemnizações para famílias dos que morreram no Catar

"Só chegou o corpo." Human Rights Watch exige indemnizações para famílias dos trabalhadores que morreram no Catar

Organização não governamental falou com familiares de vítimas no Nepal, um dos muitos países asiáticos que mais forneceram mão de obra essencial à prova.

Entre os três mortos das contas oficiais do Catar e os 6500 avançados pelo jornal The Guardian, ninguém sabe ao certo quantos trabalhadores morreram a construir este Mundial. A Human Rights Watch também não conhece os números, mas exige que sejam indemnizadas as famílias dos que morreram, ficaram gravemente feridos ou os que não receberam o que lhes foi prometido durante as obras para o evento.

A organização não governamental falou com familiares de vítimas no Nepal, um dos muitos países asiáticos que mais forneceram mão de obra essencial à prova. Como em grande parte do globo, neste país a imaginação das crianças transforma qualquer descampado num luxuoso estádio de futebol. É assim que Hari aparece num vídeo, de costas, a ver o filho treinar o sonho de ser jogador profissional.

Hari é o nome falso deste construtor do Mundial. Uma profissão que cresceu como cogumelos desde há 12 anos na região de Lusail, em Doha.

"Não havia ali nada. Agora há por todo o lado. Quando estava calor trabalhávamos com a cara coberta e transpiravamos tanto que o suor encharcava os sapatos. O meu filho não me reconheceu quando voltei", lembra Hari.

O filho deste homem é fã da seleção portuguesa. Hoje ainda mal o conhece, mas 14 anos depois tem o pai de volta.

O marido de Nanda Kali nunca voltou. Agora que ficou sozinha com a velhice e a viuvez, esta mulher parece render-se, mas não se conforma.

"O meu marido era motorista, vinha a casa de dois em dois anos. Da última vez passaram quatro, mas só chegou o corpo dele. Costumava dizer que havia de trabalhar lá enquanto fosse capaz para pagar os nossos empréstimos, era o meu sustento. Quem me há-de valer agora? A quem hei de mostrar estas lágrimas?", pergunta Nanda Kali.

Tal como Kshitz Sigdel, fundador de um clube de fãs de futebol em Katmandu. Está cansado de contar caixões.

"Todos os dias vou ao aeroporto desalfandegar produtos. Chegam muitas vezes caixões com corpos de trabalhadores nepaleses, é muito triste. A questão não é se devem ou não pagar, têm de pagar", defende Kshitz Sigdel.

No Catar, a lei considera que não há direito a indemnização por morte sem que a causa seja suspeita e se faça uma autópsia. Oficialmente, todos os que perderam a vida a construir este mundial morreram de causas naturais.

As autoridades do país criaram um fundo de indemnização salarial para apoiar trabalhadores explorados, mas só a partir de 2020 é que a FIFA, autoridade máxima do futebol internacional que entregou a organização do Mundial do Catar, admitiu fazê-lo. No entanto, até hoje nunca aceitou indemnizar as vítimas das obras no país.

Dora Pires com Cátia Carmo | TSF

Portugal | PSP, GNR, SEF: Racismo nas redes? Só surpreende os distraídos


Manuel Molinos* | Jornal de Notícias | opinião

Três mil mensagens racistas e discriminatórias publicadas por militares da GNR e agentes da PSP nos últimos anos. O caso é grave, sem dúvida. Surpreendente? Só para quem anda muito distraído.

O fenómeno, que obrigou os partidos a mostrarem-se muito preocupados com o que convivem todos os dias nas timelines dos seus smartphones, é só o resultado do mesmo movimento que promove o ódio para fins políticos. Do mesmo movimento que conseguiu cadeiras de poder nos Estados Unidos e no Brasil, entre outros.

Portanto, por cá, que não se faça agora dos agentes das forças de segurança os bodes expiatórios de um problema há muito à vista de todos. Tão à vista e há tanto tempo que está a obrigar os reguladores europeus e norte-americanos a procurar desesperadamente um espaço digital mais seguro.

Daí a Lei de Serviços Digitais que entrou anteontem em vigor e que revela a urgente necessidade da União Europeia em estabelecer regras e obrigações que ponham termo à irresponsabilidade dos gigantes das redes sociais, de forma a minimizar ataques aos regimes democráticos.

É preciso pôr termo à irresponsabilidade e ao salutar convívio com conteúdos que promovem o ódio, a xenofobia, o terrorismo e a pornografia infantil. É necessário que o insulto gratuito, as ameaças e a desinformação sejam encarados como devem ser. Crimes e não fontes geradoras de receitas ou esquemas de manipulação da opinião pública.

Não é possível que continuemos a entregar às redes sociais a decisão do que é publicável ou não, o que é apagado ou não. Nem chegam orientações. São precisas regras.

A União Europeia começa a fazer agora o seu caminho rumo a um espaço digital mais seguro. Porém, a Lei dos Serviços Digitais será curta caso não encontre paralelismos nos Estados Unidos, na China ou na Rússia.

Até lá, só fica surpreendido quem quer.

*Diretor-adjunto

Marcelo justifica declarações sobre direitos humanos com "nervoso" do futebol

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, justificou as declarações em que desvalorizou a questão dos direitos humanos do Catar com o "nervoso para voltar ao futebol" e disse que foi o próprio, com essa frase, dos primeiros chefes de Estado a abordar o problema.

"Vinha do fim de um jogo de futebol. Perguntaram-me sobre o futebol e eu é que introduzi a questão dos direitos humanos no Catar. Perante o nervoso que havia para voltar ao futebol e tal... mas fui eu que levantei a questão. Pareceu-me que naquele contexto tinha de falar dos direitos humanos", disse Marcelo Rebelo de Sousa, esta sexta-feira, em declarações aos jornalistas. "Tratando-se de um jogo de preparação para o Catar, era a primeira ocasião que tinha para falar dos direitos humanos. De qualquer das formas levantei a questão", acrescentou o presidente da República.,

"O Catar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio", disse Marcelo Rebelo de Sousa, na zona de entrevistas rápidas no Estádio José Alvalade, quinta-feira à noite, após a vitória de Portugalsobre a Nigéria (4-0).

A Amnistia Internacional reagiu, esta sexta-feira,"estupefacta" às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa. "Não tenho visto muitos chefes de Estado serem tão veementes e tão claros na condenação do que se passa em termos de direitos humanos no catar, sendo um país com o qual mantemos relações diplomáticas. Portanto, acho que fiz bem em levantar a questão, no momento em que fazia algum sentido, que foi a primeira" oportunidade de falar no assunto, disse o presidente da República, que disse ser associado daquela instituição internacional de defesa dos direitos humanos.

"No caso do Catar, ontem tomei a iniciativa de falar, não me foi perguntado sobre os direitos humanos. Há duas questões. Uma é os direitos humanos, em termos de liberdades das pessoas, as mais diversas liberdades. Outro é mais específico, que são os direitos dos trabalhadores que trabalharam na construção dos estádios e cuja situação é dramática e implica uma responsabilização que um Estado de Direito deve garantir, nomeadamente aqueles que morreram no exercício de uma atividade laboral. Já tornei isso claro ontem", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

PARA ESQUECER (vai-te catar)

Henrique Monteiro | Henricartoon

“Qatar não respeita os direitos humanos”, diz Marcelo. “Mas, enfim, esqueçamos isto” – rematou o PR de Portugal…

Pois… Pois… Vindo de si é natural essa capacidade de esquecer, senhor presidente. O importante é a equipa, o mundial dos sem vergonha, a FIFA... Que se lixem os violações dos Direitos Humanos e as centenas de milhares de mortes daqueles imigrantes operários que construíram as infraestruturas onde V.Exª. irá com prazer sentar  o seu presidencial traseiro Pois... pois...  Tanta hipocrisia que comporta e de que agora só mostrou uma pequena parte! (PG)

FIFA DISPUTA O MUNDIAL DE FUTEBOL NO CATAR SOBRE 6.750 CADÁVERES

Cerca de 6.750 trabalhadores migrantes morreram no Catar na construção de infraestruturas para acolher o Mundial 2022. Autoridades são acusadas de falsificar causas de mortes. País rejeita acusações. – dos jornais

O Mundial da discórdia e da vergonha (porque no Expresso não é 'enfim, esqueçamos isto')

Martim Silva, diretor-adjunto | Expresso (curto)

Bom dia

É sexta-feira e já tem disponível mais uma edição semanal do Expresso nas bancas.

MUNDIAL DO CATAR

(porque nós aqui no Expresso não vamos na cantiga do ‘enfim, esqueçamos isso’ - como sugeriu Marcelo , os temas relacionados com os Direitos Humanos e a Liberdade não são secundarizados)

O suborno no hotel acabou em cartas de sangue
Um projeto sueco deu cara às histórias dos migrantes que morreram nas construções associadas ao Mundial

O que ganha o Catar com este Mundial
Os petrodólares podem comprar consciências, mas nem sempre lavam mais branco. Nunca as aberrações ambientais e a violação de direitos humanos marcaram tanto um Mundial de Futebol como no Catar. Que país é este que se prepara para receber a partir de domingo um milhão de adeptos, milhares de jornalistas e elementos da FIFA, bem como 32 seleções?

O sistema laboral Kafala, que faz dos sonhos pesadelos
As críticas ao Catar decorrem de uma relação fortemente desequilibrada entre empregador e trabalhador migrante

Silêncio, que se vai dançar o último tango
Este será o 5º torneio para Ronaldo e Messi, reis de uma geração que terão a derradeira chance de o ganhar. E nós a hipótese de os apreciarmos para lá da rivalidade

A entrevista que trouxe um holofote
Timing das críticas de Ronaldo ao Man. United colocaram as atenções mediáticas em Portugal. Fernando Santos nega impacto no grupo

Na opinião, também Daniel Oliveira fala do Mundial da Vergonha

(Ainda sobre o Mundial, que começa domingo, quero chamar-lhe a atenção para a cobertura do evento. Teremos como enviado especial o nosso jornalista Hugo Tavares da Silva. Pode contar com crónicas diárias ao longo do Mundial, da autoria de Bruno Vieira Amaral, a equipa da Tribuna Expresso vai preparar uma newsletter matinal diária para lhe enviar e assim ficar a par de tudo o que se passa na competição. Isto são apenas alguns dos destaques do nosso trabalho ao longo do próximo mês, para o qual motivámos uma vasta equipa da redação do Expresso. Vá companhando na Tribuna)

OS MANIFESTANTES DO CLIMA E OS JOVENS TRANSSEXUAIS

Destaco aqui duas reportagens e dois grandes trabalhos do jornal esta semana. Ambos tratam de questões relacionadas com jovens e envolvendo jovens.

O primeiro tema são os manifestantes do clima. Quem são e como se organizam os ativistas que ocupam escolas
Estudantes ocuparam escolas pelo Fim ao Fóssil e foram recebidas pelo ministro da Economia, cuja demissão pediram. Têm uma estrutura horizontal e comunicam por redes sociais e aplicações móveis para preparar e difundir o que fazem.

O segundo tema tem que ver com o direito de autodeterminação de género de jovens - Escolas que aprendem a aceitar crianças trans
Falta pouco para a discussão do projeto de lei que estabelece medidas a aplicar em ambiente escolar. As histórias de Maria, Amanda e Bernardo

BANCA E SEGUROS LIDERAM QUEDA NOS SALÁRIOS DESDE 2015

Remuneração mensal média aumentou 5,7% em termos reais em sete anos. Mas há grandes assimetrias entre as várias atividades económicas e os sectores público e privado. Este é o tema com que fazemos manchete do jornal

PORTUGAL EM GREVES SECTORIAIS CONTRA POLÍTICAS DE FALSOS SOCIALISTAS

EIS O PRENÚNCIO DE GREVE-GERAL NACIONAL - Portugal paralisado

Educação, saúde, finanças, autarquias, funcionalismo público, etc

Do Público sobre as greves de hoje e nesta onda contestaria em curso contra a surdez do governo PS falsamente socialista e imerecidamente eleito com maioria absoluta. Mais pormenores grevistas recorrendo ao original naquele jornal. Portugal está a ficar parado e ainda mais irá parar, como não se recorda desde os tempos de governos do PSD-CDS.

Os eleitores deram a maioria parlamentar ao Partido Socialista, chefiado pelo António Costa. As falsas promessas e as manipulações das suas intenções programáticas apresentadas na campanha eleitoral foram a causa de eleição que assegurou tal maioria, mal sabiam os eleitores que o PS a governar e Costa em chefe do governo governaria muito à direita, muito a favor do grande capital. Numa palavra: o PS e António Costa mentiram descaradamente e governam em desfavor inadmissível dos menos desfavorecidos, dos que trabalham e recebem salários de miséria, dos que falsamente considerados classe média estão afogados na quase-miséria por via de maus salários e impostos incomportáveis. Dos que já eram estatística e passageiros da maior pobreza o caminho aprofundou-se para a maior miséria com perdas de salários cada vez mais esclavagista, de aumentos de preços incomportáveis, etc. A fome afeta inúmeras famílias portuguesas, os sem-abrigo crescem mergulhados no nada ter além de uma esquina em qualquer rua, numa escada de um prédio, sob um telheiro que minimamente mal os abrigue…

E é este o governo pseudo socialista que quase sempre, em décadas, tem vindo a enganar os eleitores e consistentemente fazendo jus às pretensões dos muito mais ricos, dos grandes empresários, das negociatas corruptivas, das grandes vantagens proporcionadas aos do grande capital. Falsários. Sendo Costa o principal ator das responsabilidades que têm empobrecido e miserabilizado os portugueses que eleitoralmente proporcionou a maioria ao pseudo Partido Socialista. Tanto ou mais que Passos Coelho e Portas no governo PSD-CDS de há anos atrás, o atual governo de Costa está a governar para os muito mais ricos e com enorme desprezo pela maioria absoluta dos portugueses. Costa e o PS estão a ser o veículo repulsivo que aposta nas injustiças remuneratórias-laborais e sociais. São esses exatamente os ladrões da dignidade devida aos portugueses que escudando-se nas pandemias e nas crises de guerra internacionais para conduzir os pobres ainda mais pobres e os ricos cada vez mais ricos que a seu tempo lhes pagarão os “favores”, como sempre assim aconteceu. A tudo assim continuar na senda do miserabilismo é expectável que a greve-geral nacional não tarde que deveria simbolarizar a maior vergonha e comprovativo da falsidade contida na denominação de um Partido Socialista que de socialista muito pouco ou nada tem efetivamente. Está á vista e na fome e miséria que são triste, inadmissível e repugnante vivência dos trabalhadores portugueses.

Aos portugueses só resta lutar afincadamente pela dignidade, pela sobrevivência. Por isso as contestações, por isso as greves em curso e as que hão-de vir para derrubar os trapaceiros que agora se banqueteiam a fazer alastrar a miséria. Assim o governo de Costa não tem muito mais tempo na governança nem a garantia de cumprir o tempo que lhe foi destinado com a maioria absoluta. O absolutismo e  a governação à direita do PS já não se aguentará por muito mais tempo. A não ser que recue e cumpre promessas eleitorais até agora falsas que deve a Portugal e aos portugueses assolados pelas injustiças e desigualdades.

Redação PG

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