Não me levem a mal. Quando soube
que o senhor Álvaro Sobrinho era grande accionista do Sporting fiquei muito
feliz. Sou sportinguista desde Fernando Peyroteo, benfiquista desde Eusébio,
adepto fervoroso do Belenenses desde Matateu, doente pelo FC Porto desde Miguel
Arcanjo, indefectível do Vitória de Setúbal do Conceição, Zé Maria e Jacinto
João, varzinista do coração desde o meu amigo Benje o melhor guarda-redes do
mundo e arredores. Espero que todos os problemas que o senhor Sobrinho tem com
a Justiça se esclareçam e lhe devolvam o passaporte angolano. Não quero ver
ninguém na prisão, nem o Adalberto da Costa Júnior e aquele sinédrio de
bandidos que o manipulam.
A natureza humana é forçosamente
anti-capitalista. Abomina o anarquismo, para mal dos meus pecados que são
incomensuráveis. O Homem, enquanto dignidade infinita, ser único e irrepetível,
está mais para o comunitarismo, comunismo, socialismo e seus derivados.
Tanto se me dá. Continuo a sonhar com o fim do sistema que, segundo o Papa
Francisco, mata! Sabem como imagino o fim do capitalismo? Convido-o para um
copo num bar de hotel. Nunca se esqueçam, os melhores bares do mundo estão nos
hotéis. Mas não entrem num restaurante de hotel. São Horríveis! Até a comida
sabe aplástico.
O Senhor Capitalismo, meu
convidado, de cartola, cifrões nos olhos e anéis nos dedos vai bebendo um
bloody Mary enquanto me fala do seu sucesso. Eu, num passe de mágica, meto no
copo um pemba fortíssimo. Ao quinto coquetel o monstro levanta-se e vai ao
urinol. Olha desinteressado para o jacto de urina e vê que está mijando azul!
Fica preocupado. O pânico dá lugar à preocupação porque sente uma vontade
indómita de continuar a verter aquele rio azul.
À medida que o senhor Capitalismo
urina, mais vontade tem de urinar. O urino já é um rio azul que liberta do
caudal um cheiro acre. A criatura vai definhando, desaparecendo ate ficar a
pontinha do pénis e tudo desaparece quando cai a última gota azul. É este fim
épico que sonho para o Capitalismo.
Provavelmente só no tempo
dos meus tetranetos vai acontecer. Mas faz-me bem sonhar. Quando estou com
algum amigo rico, fico inquieto porque tenho medo que ele vá ao urinol e
desapareça quando cair a última gota de urina. Nesses momentos desejo
ardentemente que o meu sonho dourado não se realize. Os amigos são-no em todas
as ocasiões e circunstâncias.
Amigo de ricos? Sim, sou. Mas são
todos angolanos. Também sou amigo de padres, bispos e cardeais. Considero o
Papa Francisco o único líder mundial com cabeça tronco e membros. Pensa. Fala.
Ama a Humanidade. É cá dos meus. Tive uma grande admiração pelo padre Franklin,
que foi meu professor no Liceu Salvador Correia. Pelo padre Muaka, meu
professor no Colégio das Beiras.
O cónego Apolónio, com quem falei
esta semana por gentileza de um amigo comum, é um amigo. Grande Homem. Grande
Angolano. Mas fiquei triste. Disse-me que o seu projecto educacional na
Centralidade de Cacuaco está podre, como o Estádio Nacional 11 de Novembro. Fiz
ao cónego Apolinário uma entrevista notável. Um dia vou procurar o texto e
mando-vos. Entrevistei para a Emissora Oficial de Angola (RNA) o padre
Alexandre do Nascimento quando o Instituto Pio XII entrou em grandes
convulsões, no ano de 1974. Desde então nutro por ele imensa consideração e
respeito. O nosso Cardeal. Entrevistei o arcebispo D. Filomeno Vieira Dias,
jornalista. Um angolano de eleição ao qual muito devemos.
Entrevistei o arcebispo D. Hélder
Câmara, brasileiro, que enfrentou corajosamente a ditadura militar brasileira.
Fui colega de Redacção do cónego Rui Osório e do padre Mário de Oliveira, dois
grandes jornalistas portugueses. Ambos se esforçaram para eu fazer as pazes com
deus mas falharam. O conflito é insanável tal como o Angualusa tem um conflito
insanável com a gramática. Grande escritório. A Luzia Moniz é uma tremenda
escritória. Agora lembrei-me de Karl Kraus que, pesaroso, concluiu que o
mercado estava sem jornalistas porque tinham ido todos para escriturários. Um
dia estava bem-disposto e escreveu na Die Fackel que o jornalismo é o serviço
militar dos poetas. Menos mal.
Margareth Nanga é investigadora
de Direitos Humanos. Entrevistada pela CNN Portugal, parceira da TPA, afirmou
que “Isabel dos Santos cometeu muitos crimes que têm uma dimensão
transnacional”. Por isso, “tem de ser detida e vir a Angola esclarecer
tudo”.
Espero que a investigadora do
Miala não leve a mal se lhe disser que no elenco dos Direitos Humanos está um
que é marca do Estado Democrático e de Direito: A presunção de inocência, até
uma sentença transitar em julgado.
A PGR não condena. O Ministério
Público é uma parte igual e com a mesma dignidade da Defesa. Em democracia, que
eu saiba, os julgamentos ainda não são feitos nas televisões e pelas
investigadoras do Miala.
A Organização Internacional da
Francofonia (OIF) vai ter um novo membro observador, Angola. A entronização
aconteceu hoje durante a 18ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do organismo
que decorre em Djerba, na Tunísia. Mais um passo importante da diplomacia à moda
de Kinkuzu ou Morro da Cal.
África está a escorraçar os
colonialistas franceses com grande determinação. Finalmente. Angola aproveita o
momento em que outros Estados africanos se libertam dos colonialistas e vai
observar os restos. Angola pediu ao presidente Macron para aderir e ele
condescendeu.
O Presidente da Costa do Marfim,
Félix Houphouët-Boigny, chorava copiosamente à chegada a Paris, quando morreu
De Gaulle. “Morreu o meu pai”, dizia o estadista africano. Bokassa teve a mesma
reacção. Quando Macron for plantar batatas, estou a imaginar o nosso ministro
Tete António chorar convulsivamente pelo seu pai, afastado do Eliseu pelo voto
popular.
Vocês pensam mesmo que o meu
coração é de ferro? Tenham maneiras e se querem chorar, chorem pelos
magistrados judiciais que não receberam mansões nem dez por cento dos
confiscos, quando já estavam a gastar por conta.
*Jornalista