Cebola, cenouras e febras de porco com margens de lucro acima dos 40%
PORTUGAL
O aumento dos preços dos bens alimentares é uma das maiores preocupações dos portugueses, fruto da inflação. A ASAE detetou margens de lucro brutas na casa dos 45% e 50% entre o valor de aquisição e o valor da venda ao público nas cebolas, cenouras, febras de porco e outros produtos. Neste momento, estão instaurados 51 processos-crime por especulação.
Alguns produtos tiveram subidas excessivas e sem explicação aparente desde o início da crise económica, por isso António Costa pediu à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) para investigar o aumento dos preços alimentares. O cabaz alimentar, definido pela ASAE para calcular a evolução dos preços, aumentou quase 29% desde janeiro de 2022 até fevereiro deste ano. Passou de 74,90 euros para 96,44 euros.
As primeiras conclusões desta investigação apontam para casos de especulação objetiva por haver uma desconformidade entre o preço tabelado e o preço em caixa, e ainda por haver muitas vezes uma desconformidade no peso quando se trata de um produto fresco embalado. Os inspetores encontraram casos onde os preços cobrados em caixa eram 70% superiores aos tabelados nas prateleiras. Segundo o Inspetor-geral da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, foram instaurados até agora 51 processos- crime por especulação.
Os produtos em promoção são os "alvos preferenciais nas ações de fiscalização para perceber se há desvio entre o preço da caixa e da prateleira", garantiu Pedro Portugal Gaspar, em entrevista ao "Expresso". "Alguns dos processos de especulação objetiva resultam precisamente dessa situação. Contudo, não diria que há uma intenção, mas, se calhar, uma deficiente preparação para colocar aqueles produtos em promoção", notou.
O Inspetor-geral revelou ainda que nas três maiores cadeias de supermercados do país foram encontradas margem de lucro brutas de 52% na cebola, de 45% na cenoura e nas febras de porco e de 43% nos ovos. "Há um grupo significativo [de produtos] que anda com margens de lucro brutas superiores a 40% nestes três grandes retalhistas do mercado nacional. Vamos ver a razão de ser destas margens, percebendo se há um efeito de compensação cruzada com outros produtos. Interessa-nos aferir produto a produto a razão de ser destas margens".
Quanto à possibilidade de existir um aproveitamento da atual conjuntura para subir os preços além do que seria expectável, Pedro Portugal Gaspar garantiu que ainda é cedo para confirmar isso. "Não consigo com honestidade afirmar se há ou não há (...) Para todos os efeitos, há valores de margens brutas, por exemplo na laranja ou na cenoura, que não se entendem. Mas essa imputação tem de ser bem sustentada".
A ASAE está empenhada em descobrir a razão do aumento desenfreado de alguns produtos alimentares desde o final de 2022, mas o resultado final do relatório só deverá chegar perto do verão. "A parte do retalho está mais ou menos analisada e agora, em março, estamos a iniciar a segunda fase que é a do fornecimento. (...) É uma fase de trabalho que exige uma análise detalhada", afirmou.
Jornal de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário