sexta-feira, 14 de abril de 2023

Portugal | CHOVEM MILHÕES NA GALP

A Galp é um bom(?!) exemplo de como funcionam os grandes grupos económicos. Depois de distribuir uma quantidade verdadeiramente astronómica de dividendos aos seus accionistas, também cuidou dos seus administradores.

Manuel Gouveia* | opinião

Com destaque, claro, para o ex-CEO da companhia, Andy Brown, que amealhou 1,8 milhões de euros brutos de rendimentos em 2022. Em termos médios, o recordista é, no entanto, Carlos Costa Pina, que apesar de ter renunciado a 5 de Janeiro de 2022 conseguiu receber quase um milhão de euros por esses 5 dias de intenso trabalho (35 mil euros de remuneração fixa, 157 mil euros de prémios, mais 19 mil em PPR e 867 mil euros de compensações pela sua saída antes do fim do mandato, sendo que saiu antes do final do mandato por estar acusado pelo Ministério Público no processo das PPP...). Este Costa Pina, para vermos como isto anda tudo ligado, é um antigo secretário de Estado do Tesouro e Finanças, entre 2005 e 2011. Em 2022, ainda foram pagas mais duas indemnizações, a duas ex-administradoras, de 488 mil e 450 mil euros. Sendo que os gastos do grupo Galp a remunerar os seus administradores perfazem um total de 7,2 milhões de euros.

Estas remunerações, completamente amorais, são o prémio que recompensa o facto de a Galp ter amealhado qualquer coisa como 1104 milhões de euros de lucros e ter distribuído em dividendos 1165 milhões de euros, distribuindo novamente dividendos acima do lucro gerado, mesmo tendo o lucro aumentado 84% face a 2021.

Todos estes valores são o reflexo de várias doenças de que sofre a nossa sociedade. Desde logo, porque estes lucros representam uma parte da apropriação privada da riqueza produzida, apropriada neste caso através dos mecanismos especulativos com o preço dos combustíveis. Depois, porque estes salários e estes dividendos nos recordam que existe uma classe – a grande burguesia – que objectivamente se está a encher de dinheiro à custa da exploração dos trabalhadores e das rendas arrancadas a outras classes e camadas. Por fim, porque o Estado detém 7,6% da Galp e nada faz para reverter esta orgia financeira – antes pelo contrário.

Tal como a chuva, os milhões da Galp, antes de caírem nos bolsos dos accionistas, são gerados noutro lado. Pelo trabalho, desde logo e essencialmente. E pelos consumidores, nos preços especulativos que pagam. E é por isso que resulta tão hipócrita o comportamento daqueles que não se chocam com estes salários, estas indemnizações e estes dividendos. Os mesmos que depois estão disponíveis a aceitar todas as justificações para reduzir as indemnizações por despedimento dos trabalhadores (como fizeram PS, PSD e CDS com a troika em 2012) e para a necessidade de baixar todos os salários... menos os dos CEO, claro.

Publicado em AbrilAbril

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