segunda-feira, 31 de julho de 2023

Portugal | Demasiado bons para viverem em casa dos pais -- sem casa, sem empregos

Bruno Contreiras Mateus* | Diário de Notícias | opinião

O nosso patamar está acima da média da União Europeia nos 9 em cada 10 jovens portugueses, entre os 20 e os 24 anos, que têm pelo menos o Ensino Secundário. Em 2020, ultrapassámos os 84% da UE. Muito se fez para estancar o abandono escolar. Se retrocedermos a 2006, quando mais de metade dos jovens destas idades tinham o 9.º ano, no máximo, vemos que foi um grande sprint.

Agora, mais alunos chegam à universidade. Em 2022, Portugal era o 7º país da UE com maior proporção de jovens até aos 24 anos com Ensino Superior. Nota-se um esforço pela democratização. No próximo ano letivo, por exemplo, haverá 2038 vagas prioritárias para estudantes carenciados economicamente. Mas é preciso atenção ao custo do alojamento dos alunos deslocados, normalmente muito acima das possibilidades das famílias.

Em 2019, o então presidente do Instituto Superior Técnico, Arlindo Oliveira, dizia ao DN que "temos de expor os jovens à computação no Ensino Básico, Secundário e também no mundo universitário. Temos de dar competências às pessoas". Competências essas que têm de ser transversais a vários setores de atividade. Hoje, já vemos que esse esforço, de alguma maneira, tem sido feito e faz-se sentir. Os jovens portugueses, entre os 16 e os 24 anos, revelam competências digitais acima da média europeia. São dos que mais usam a internet para estar nas redes sociais, mas também para ler notícias online e, ainda que em menor número, para participar em atividades cívicas ou políticas.

É a geração mais qualificada. De ouro. Cheia de promessas. Mas não é por isso que terá mais oportunidades - o que é um contrassenso.

Se olharmos para os restantes países da UE, segundo este retrato dos jovens feito pela Pordata, que poderá ler nas páginas 6 e 7 desta edição, e que são lançados na semana da Jornada Mundial da Juventude, os estudos e a formação são a principal razão para os jovens terem vínculos laborais temporários, que correspondem a uma média de 17%. Em Portugal, metade dos nossos jovens dizem que não conseguem encontrar um emprego fixo.

Em março deste ano, o Observatório da Emigração alertou que os baixos salários e os preços elevados da habitação favorecem a saída de jovens licenciados do país. Os salários nesta faixa etária (948,8 euros) estão, em média, 27% abaixo do total da população. E o que dizer da habitação? Num relatório recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos concluía-se que "hoje, um jovem (ou casal), para adquirir ou arrendar casa, tem de estar inserido com muito sucesso no mercado de trabalho".

O que mostra este retrato é que os jovens portugueses são demasiado bons para ainda viverem em casa dos pais, mas é de onde não conseguem sair 95% deles.

* Subdiretor do Diário de Notícias

Sem comentários:

Mais lidas da semana