Artur Queiroz*, Luanda
Fogo é o ladrão que rouba tudo e não deixa nada. Comigo aconteceu mas salvei-me (a minha vida secundária), salvei o computador portátil (a minha primeira vida) e o livro que ando a ler e estudar há quatro meses. É uma antologia de textos publicados no jornal “A Batalha” escritos por Mário Domingues e que tem o sugestivo título “A Liberdade Não Se Concede Conquista-se. Que a Conquistem os Negros”. Eu, o portátil e um livro! Eis o retrato de um resistente feliz da vida por ser também sobrevivente.
Os bombeiros nada puderam fazer. E os peritos da Polícia Judiciária investigam se o incêndio resultou de um acidente ou há mão criminosa. Isto com os bandidos da UNITA e os da Brigada da Juventude Revolucionária (BJR) à solta, nunca se sabe. De esquadrões da morte, fogo posto e sabotagens eles sabem tudo. O General Fernando Garcia Miala tem fama de ter sido um quadro muito activo das brigadas. Jamba e Kinkuzu fazem uma mistela explosiva de banditismo encartado.
Os meus livros ficaram
Numa manhã de sombras e angústias de origem duvidosa a Rádio deu a notícia: Morreu Dolores Duran. Hoje eu quero a rosa mais linda que houver e a primeira estrela que vier. Sou resistente ou sobrevivente? Sou as duas coisas. Que peso!
Agora vou ver os elefantes que se passeiam pela cidade antes de rumarem ao cemitério. Mas deixo-vos na companhia do poeta Malaquias:
O teu amor Weza
é vinho doce que magoa
kapuka que me alucina
colina de olhos verdes
eternamente aprisionada
ao feitiço do Cassai:
Quando todas as portas
ficarem eternamente abertas
no céu eu vou dormir.
Muílo mungúia, Weza!
Vou mesmo dormir no teu céu.
Na pedra da tristeza
À cabeceira da sepultura
desenhem um coração alado
para depois da minha morte
ele voar desenfreado
até ao retiro do paraíso
onde pastoreamos nossos mundos.
:Quando todas as portas
ficarem escancaradas
no céu eu vou dormir.
Muílo Munguía, Weza! Muílo hé hé!
Dormir no céu, Weza! Languidamente no céu!
* Jornalista
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