quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Angola | O Discurso da Desgraça e as Forças Ocultas -- Artur Queiroz


Artur Queiroz*, Luanda

O discurso de João Lourenço na reunião ordinária do comité central do MPLA tem um ponto fraco que merece especial atenção, porque se confunde com as atoardas das redes sociais e dos “portais”. A insinuação e a manipulação não podem suportar uma mensagem política à direcção do partido. E estavam presentes 640 dirigentes. Não sei se a questão foi discutida à porta fechada mas sei que merece uma reflexão pública.

O líder do MPLA afirmou: “Há forças que financiam pessoas, organizações e partidos políticos visando derrubar o MPLA”. E existem “conhecidas forças retrógradas da nossa sociedade que, ao invés de aplaudir e encorajar as instituições engajadas nesta luta sem tréguas preferem dizer que não se está a fazer nada”. Este comportamento “visa distorcer a realidade dos factos enquanto ao mesmo tempo essas pessoas, organizações ou partidos políticos fizeram uma clara aliança com aqueles que durante anos utilizaram em grande escala o erário e bens públicos em benefício próprio”.

Ponto de ordem. Ninguém diz que nada se faz no combate à corrupção. Faz sim. Mas o “combate” é contra alguns. Acontece que são todas e todos conotados com o Presidente José Eduardo dos Santos. Ou pobres funcionários públicos que se deixam corromper por 150 mil Kwanzas. Há uma “casta real” corrupta que escapa ao combate e beneficia de total impunidade. É isso que se diz e escreve. E não vejo que essas opiniões venham de “forças retrógradas”. Se o líder do MPLA quiser, posso fornecer-lhe uma lista de corruptos impunes.

Este é o estilo da turma de Fernando Garcia Miala. Os dirigentes do MPLA precisam de saber quais são as forças que financiam pessoas para derrubar o MPLA. E quem são as pessoas financiadas. Quais são as organizações financiadas por essas forças. Quanto aos partidos, é apenas um, a UNITA. Os pataratas do Bloco Democrático venderam a alma ao diabo savimbista, já não contam como partido autónomo. O PRA-JA (Servir Angola) não existe por falta de clientelas. Os restantes partidos com representação na Assembleia Nacional não querem derrubar nada. Lutam abnegadamente pela existência.

Quanto às forças que querem derrubar o MPLA, são bem conhecidas desde o dia 4 de Fevereiro de 1961 e sobretudo depois de 11 de Novembro de 1975. Em 1974, constituíram a mais reacionária e agressiva coligação que alguma vez se formou à superfície da Terra. O Povo Angolano, sob a direcção do MPLA, derrotou essas forças nos campos de batalha. E depois nas eleições multipartidárias ao esmagar a UNITA.

Quem constituía essa coligação? A CIA e outros serviços secretos ocidentais, nomeadamente de França, Alemanha e Reino Unido. A Casa Branca e o Pentágono. O regime racista de Pretória. Os inimigos do 25 de Abril de 1974 congregados no Exército de Libertação de Portugal (ELP). Antigos servidores da PIDE e sua rede de bufos, acomodados na UNITA. A FNLA e a sua matilha de mercenários. As tropas do ditador Mobutu.

O chefe Miala põe a circular nas redes sociais e nos seus “portais” que as filhas do Presidente José Eduardo dos Santos também financiam pessoas, organizações e partidos contra o MPLA e o Presidente João Lourenço. Vamos ser claros. A Dra. Welwitschia dos Santos já revelou publicamente as suas combinas com Adalberto da Costa Júnior. Está revelado. Ninguém imagina uma pulga a derrubar um elefante. As outras filhas e filhos do Presidente José Eduardo dos Santos não manifestaram qualquer desejo de derrubar o MPLA. 

A empresária Isabel dos Santos vai-se defendendo dos ataques na praça pública porque até hoje não teve oportunidade de se defender ante os juízes num Tribunal. Mas sabe, porque é público, que em dois julgamentos cíveis, um na Holanda e outro no Reino Unido, a “prova” apresentada foi atribuir ao Presidente João Lourenço a afirmação de que o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, foi um ladrão. Aos 640 membros do comité central do MPLA e ao seu líder informo que isso sim, é uma bomba para destruir o MPLA e não apenas derrubá-lo do poder.   

O MPLA corre sérios riscos de ser derrubado do poder se não for bem explicado o negócio do Corredor do Lobito. O MPLA corre o risco de ser derrubado do poder se não for conhecida a agenda do encontro entre João Lourenço e Joe Biden. A transparência exige que o Povo Angolano seja informado sobre o que foi discutido e acordado. Ninguém acredita que o compromisso seja apenas de levar Angola à Lua e a Marte ou os mil milhões do Corredor do Lobito porque são uns trocos, em comparação com o investimento do Estado no Porto do Lobito e no Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB).

O MPLA vai ser derrubado do poder, se gravíssimos problemas que afectam a vida das populações continuarem a ser tratados de uma forma atabalhoada e irresponsável. Ou com doses latifundiárias de propaganda. Conversa fiada. Promessas vãs. Negligência grosseira. E aqui cabe esta questão inquietante: É esse o objectivo? Se não é, parece.  

O Presidente José Eduardo dos Santos foi surpreendido por Bill Clinton, na Casa Branca, com um pedido: Precisamos da sua ajuda para afastarmos os partidos que lideraram os processos de independência em África. O continente africano só progride se esses partidos acabarem.

Resposta: Não posso fazer isso. Porque no dia em que esses partidos desaparecerem, inclusive o meu, África nunca mais se liberta.

Pergunto: Joe Biden fez o mesmo pedido a João Lourenço? Isso de anunciar “cooperação” com os EUA na área da defesa e segurança vai no sentido de transformar Angola num protectorado do estado terrorista mais perigoso do mundo. Daí a fazer guerras por procuração, vai um pequeno passo. Nestas circunstâncias é difícil perceber qual vai ser o papel do MPLA. Nem de embrulho!

O chefe Miala torrou milhões no tempo do Presidente José Eduardo para tratar do processo da UNITA. Regressou às funções com o Presidente João Lourenço, em 2017. De repente ele aparece como o rosto da CIVICOP. Monta cenas na televisão que têm tanto de ridículas como de irresponsáveis. E tantos anos depois, tantos milhões torrados depois, tanta propaganda depois, vieram dizer-nos que três mulheres e cinco crianças foram vítimas de conflitos políticos na Jamba! Ainda não estávamos refeitos desse murro traiçoeiro no estomago e veio o pior. O impensável. O inadmissível.

Os dirigentes da UNITA Wilson dos Santos e Tito Chingunji foram assassinados à paulada e depois enterrados. Já durante a rebelião de Savimbi, os corpos foram desenterrados, queimados e triturados. As cinzas espalhadas. Conclusão: Não há nada para sepultar.

Ao fim destes anos todos o chefe Miala só agora descobriu isso? Tanto dinheiro torrado, tanta diligência, tanta investigação e só agora soube que não há ossadas de Wilson dos Santos e Tito Chingunji para o o negócio? Esta forma pornográfica de fazer política é que pode derrubar o MPLA. Já agora, faço a pergunta cuja resposta vale milhões: As forças que financiam pessoas, organizações e partidos para derrubar o MPLA também pagam ao chefe Miala? Recebe dos dois lados? 

O fiasco das ossadas da Jamba foi um tiro de canhão nos pés do MPLA. E sem pés para andar, o partido não vai longe. Isso é que devia preocupar os dirigentes do MPLA e sobretudo o seu líder.

* Jornalista

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